Monsenhor Francisco Pascucci, 1935, Doutrina Cristã,
tradução por Padre Armando Guerrazzi, 2.ª Edição, biblioteca Anchieta.
Art. X. - A Remissão dos pecados.
Poder de remitir os pecados
55. - Creio que há na Igreja o poder de
remitir qualquer pecado, porque Jesus, no dia da Sua ressurreição, deu este
poder aos Apóstolos e aos sucessores destes com as seguintes palavras: "Recebei
o Espírito Santo; os pecados serão perdoados àqueles a quem os
perdoardes". (Jo. XX, 22,23). Portanto, os ministros de Deus podem perdoar
qualquer pecado, mesmo enorme, e tantas vezes quantas o pecador arrependido se
lhes apresentar.
O pecado original cancela-se por meio do
Batismo; os pecados mortais cometidos depois do Batismo ficam perdoados
mediante a confissão; os pecados veniais, além de o serem pela confissão, podem
ser remetidos pelos outros sacramentos ou pelos sacramentais.
O pecado: definição e divisões
56. - O pecado é uma ofensa feita a
Deus, por se Lhe desobedecer à lei.
De duas espécies é o pecado: - original
e atual.
É pecado original o que a humanidade
cometeu em Adão, seu cabeça, e que todo homem contrai de Adão por via da descendência
natural.
Pecado atual é o que voluntariamente comete
quem goza do uso da razão.
O pecado atual pode ser cometido, ou por
se praticar o que se não deve fazer por pensamento, palavras e obras, ou não
fazendo, por omissões, o que se devera fazer; por ex.: quem come carne em
sexta-feira da Quaresma peca por obras; quem não ouve a santa missa em dia de
festa de guarda, peca por omissão.
O pecado atual é de duas espécies:
mortal e venial.
Pecado mortal
57. - O pecado mortal é uma desobediência
à lei de Deus em matéria grave, feita com plena advertência e deliberado
consentimento. Para haver um pecado mortal, requer-se: 1) matéria grave, ou em
si, como nas blasfêmias; ou pelas circunstâncias de pessoa, de lugar, etc.,
como roubar em coisa leve a um pobre; 2) plena advertência, isto é, conhecer ao
menos confusamente que a ação cometida é gravemente contrária à lei de Deus; 3)
deliberado consentimento, isto é, vontade de pecar, em sabendo-se que é pecado
grave.
Efeitos do pecado mortal: 1) dar a morte
à alma, privando-a da graça de Deus; 2) tirar os méritos precedentemente
adquiridos; 3) fazer-nos incapazes de adquirir novos méritos; todavia, não é
inútil que o pecador faça boas obras, para se não tornar a alma digna da pena
eterna, porque o pecado, por ser ofensa infinita a Deus, merece pena infinita,
não em intensidade, pois o homem finito não poderia suportá-la, mas em duração; 4) atrair os castigos divinos, mesmo nesta vida.
Com a confissão, ou com a dor perfeita
unida ao propósito de confessar-se, readquire-se a graça de Deus, e, até, pela misericórdia
do Senhor, se reconquistam os méritos perdidos.
Pecado venial
58. - O pecado venial (de venta -
perdão) é uma ofensa à lei de Deus em matéria leve. Pode ser venial também em matéria
grave, quando não houver plena advertência ou pleno consentimento deliberado.
Efeitos do pecado venial: - 1) esfriar a
alma no amor de Deus, isto é, diminuir o fervor da caridade; 2) dispôr ao pecado
mortal, porque inspira menos horror ao pecado e torna mais fraco o homem contra
as paixões; 3) fazer-nos merecedores da pena temporal nesta vida e na outra.
PECADOS MAIS GRAVES E FUNESTOS
59. - Todos os pecados mortais irrogam
ofensa infinita a Deus, mas alguns se apresentam mais graves e mais funestos à
alma: são precisamente os que se dizem pecados contra o Espírito Santo e pecados
que clamam vingança diante de Deus.
Pecados contra o Espírito Santo
chamam-se aqueles com os quais o homem se opõe diretamente à obra de
santificação, que o Espírito Santo quer nele realizar pela graça, e por isso
tornam mais difícil a conversão. São seis:
Desespero
da salvação, isto é, crer que Deus não nos perdoará
e deva o homem necessariamente perder-se. - Presunção
de salvar-se sem mérito, ou querer salvar-se sem fazer as obras necessárias.
Impugnar a verdade conhecida, isto é,
combater as verdades da fé, depois de havê-las conhecido. Inveja da graça alheia, ou procurar, por maldade de espírito, fazer
que outros percam a graça. - Obstinação
nos pecados, não obstante os avisos internos e externos de Deus. - Impenitência final, ou querer morrer no
pecado.
Clamam vingança diante de Deus os
pecados contrários ao bem da humanidade; pelo que provocam, mais que os demais,
os castigos divinos. São quatro: - Homicídio voluntário. Pecado impuro contra a
natureza. - Opressão dos pobres. – Defraudar o estipêndio aos operários.
Os Novíssimos
Para ficarmos longe do pecado, muito nos
ajuda o pensamento da presença de Deus, a cuja vista não escapa o segredo dos
corações; auxilia-nos também como nos ensina a Escritura, a consideração dos Novíssimos
ou últimas coisas, isto é, daquilo que nos espera no fim desta vida e no fim do
mundo. Quatro são os Novíssimos: Morte, Juízo, Inferno, Paraíso.