Nota do blogue: Segue um texto excepcional sobre práticas piedosas que se perderam, isso porque a edição do livro é de 1938, imagina o que o autor escreveria nos tempos atuais?! Que sede temos de condutores de almas, de pregadores que nos levantem os olhos para a Cruz de Nosso Senhor, quantas almas se perdem porque "bois mudos fazem grandes estragos no rebanho do Senhor". Oxalá surjam oradores e curadores de almas impregnados do verdadeiro espírito Católico, que mantenham imaculada a Fé nesse tempo de trevas e apostasia.
Indigna escrava do Crucificado e da SS. Virgem,
Letícia de Paula
As colunas de tua casa,
um plano para a família
pelo
Vigário José Sommer, 1938.
A bênção de Deus só nos vem quando
nos esforçamos, por alcançá-la. Ela poreja da cruz, das chagas do Salvador
sobre nós. "Só na cruz está a salvação.”
Seja, pois, a cruz de novo o centro
da casa, o centro de gravidade visível, em torno do qual os espíritos circulam
e não qualquer peça profana! - Naturalmente não quero dizer com isso que só
deva haver quadros religiosos nas paredes dos aposentos.
Para tudo quanto é belo resta ainda espaço
em nosso lar cristão. E justamente os belos quadros da casa revelam o bom gosto
dos moradores.
Nisso se lhes patenteia
abundantemente o sentimento estético e moral.
É extremamente importante despertar já
na criança este sentimento e o fino gosto para o que é realmente belo; pois, o
cultivo do belo eleva a alma acima do comum e conduz a Deus o Sumo Bem.
Não pode por isso ser indiferente o
que se vê suspenso às paredes do salão e dos quartos: a casa cristã é uma cópia
da casa de Deus. Lá o principal é a cruz. Faz pena ver católicos que se
tornaram “importantes”, ocultarem temerosamente o velho e raro símbolo.
O salão cheio de estátuas e quadros,
a cruz quando muito no quarto de dormir, para que ninguém se escandalize. - Não
é assim que se gera o sentimento de fé profunda, o espírito verdadeiramente
cristão, que salva a família do naufrágio e renova um povo.
"Não são os falsos ídolos, nem
também a espada e a mão armada que dão prosperidade a um povo, mas a cruz que
se venera na família." - Ouvimos uma vez um orador clamá-lo, numa reunião
popular.
Tinha razão. Primeiramente carece
que o Crucifixo seja de novo Rei na casa e na família. Daí lhe vem a bênção,
como de um manancial profundo, espalhando-se pelo país e pelo povo. Honremos, pois,
a sua imagem! Será nosso pregador, que nos chamará aos velhos costumes patriarcais,
à fé, à justiça e à felicidade; pois veio de novo o tempo, do qual Wolfram von
Eschenbaeh (falecido em 1215) diz:
Quase
em completo abandono,
A
fé, a fidelidade,
A
justiça e a caridade,
Foram
dormir um sono.
Quando
acordarem deveras
Desse
letargo profundo,
Veremos
então no mundo
O
bem-estar de outras eras.
Como ressoa eloquente e penetra a
palavra da cruz, em meio da decadência dos tempos modernos!
Fala-nos da fé antiga, do velho cristianismo,
ao qual nossos antepassados há quase 2.000 anos aderiram, que outrora tornou
nosso povo grande e nossa vida de família feliz. Dos lábios do Crucificado,
suspenso à porta, mana continuamente sobre a família cristã a fonte sagrada das
mais remotas verdades, enquanto lá fora no mundo se torna - ai! - cada vez
menor o número dos que se conservam fiéis ao Salvador! - E como a cruz exorta e
adverte suavemente! Perdão, paciência e caridade, que nos são tão necessárias, como
o pão de cada dia, dela aprendemos. E se alguém fora de casa quer andar por maus
caminhos, se há ameaça de desavença e discórdia, não se desprende então
baixinho dos lábios cerrados do Filho de Deus uma tocante exortação à paz, à paciência?
Que bem fará às crianças aprenderem
de pais piedosos a olhar diariamente neste maravilhoso espelho! - Não é como se
das chagas do Salvador se desprendesse uma clara luz, iluminando-lhes a vereda,
para que não tropecem e não caiam no pecado? Como fazem bem os pais e mães que
veneram o crucifixo como o fiel amigo do lar, e testemunha de tudo o que sucede
na família, desde o alvorecer do dia, até o crepúsculo da tarde!
As luas mudam no meio deles: vê os
filhos crescerem, levarem os mortos para a sepultura; ora contempla alegres
semblantes; ora vê olhos banhados de lágrimas erguerem-se-lhe súplicas! Nas
horas da dor se revela o único verdadeiro consolador!
Pode a casa ser pobre, não ter senão
nuas paredes, despidas de adorno e crianças famintas; mas se lá dentro se
encontra uma simples cruz, não lhe falta consolo. Pois quem é mais pobre que o
Salvador no lenho da cruz? - Comparada com a Sua penúria, nossa cruz torna-se
tão pequenina, nossa pobreza menos penosa! E que chagas existem ainda para as
quais ele não tenha algum bálsamo, não saiba algum socorro?
Já é sempre um consolo para quem
sofre, saber de outros que também sofrem e afinal ainda muito mais. Na cruz
temos alguém que não só sofre conosco, mas que por nós sofreu todos os
tormentos, que quis morrer por nós, para dar-nos a vida. Para quantos Ele tornou
a cruz mais leve a dor mais suave! Quantos, erguendo os olhos para a cruz,
suspensa à cabeceira do leito, suportaram de bom grado a enfermidade mais dolorosa
e o mais penoso fardo!
"Aceito tudo por amor
d'Ele" - dizia-me recentemente um jovem aluno mortalmente enfermo, quando lhe
perguntei se temia a morte.
Assim se torna a cruz o grande baluarte
da casa, um refúgio de salvação, uma fonte de cura, cujas forças nunca se
gastam, cujas bênçãos são inesgotáveis.
Um dia, em Düsseldorf, subi ao telhado
de uma das altas casas modernas. Lá de cima se divisa uma vista magnífica da cidade,
com seu meio milhão de habitantes e o rio coalhado de navios e botes.
E quando eu estava, com a bela
cidade a meus pés, veio-me sem querer à mente a esperança do que se passa em
todos aqueles milhares de criaturas, que, vistas do alto, parecem formigas, o
que se encontra de alegria e sofrimento nas ruas e nas casas.
Quanta angústia e miséria muitas vezes
passa apressada, sob uma capa brilhante! Quantos suspiros e maldições se
confundem, com o tumulto das ruas, que me sobe aos ouvidos, amortecido como um
surdo bramido, quase como uma voz de sepulcro!
Quantas
vezes, sob estas negras telas, uns olhos chorarão, um coração humano sofrerá e
não poderão achar consolo algum, porque não querem consolo; porque não o procuram
onde única e exclusivamente poderiam achá-lo?
É na cruz, nas chagas d'Aquele que
deixou traspassar Seu Coração na cruz, afim de ali preparar um refúgio seguro
para todos enfermos e moribundos.
Ah! prouvesse a Deus que todas as famílias
de novo se reunissem junto à cruz ao Coração de Jesus! Que se manifesta também
hoje ainda e sempre de novo, como o asilo de todos os oprimidos, o grande
manancial de bênçãos para a casa e a família, assim como se exprime na forma de
consagração, com que a Igreja costuma benzer as casas novas.
O antigo e belo costume cristão conservou-o:
Logo que os operários acabavam de construir o prédio, o sacerdote fazia o sinal
da cruz sobre a porta e aspergia a casa com água benta, assim a consagrava
quase como um templo e invocava sobre ela a bênção de Deus. Como são lindas
essas orações da consagração!
Poderíamos tolerar nesta casa
abençoada alguma coisa que não estivesse de acordo com a lei divina?
Afastemos, pois, tudo o que
desagrada aos puríssimos olhos de Deus, seja quadro, ou livro, jornal ou moda!
Do contrário o seu nome seria apenas um escárnio, seu domínio somente um reino
das sombras - e nossa oração apenas uma função dos lábios.
Deus e Belial são polos oposto, coisas
incompatíveis.
Que se dirá das famílias que talvez
se consagrassem solenemente ao Divino Coração de Jesus, e afinal lhe conservam
acesa, em frente à imagem, uma lamparina de azeite, na primeira sexta-feira do
mês; mas em cuja casa, ao lado da cruz, se encontra toda a espécie de nudez,
sob a cruz diários neutros e jornais ímpios, revistas ilustradas imorais e
imundas? Quem ama o Senhor Deus, não pode tolerar em casa os Seus algozes, que
são os livros e jornais maus e ímpios. E não é só isso. Eles são também a morte
da vida religiosa.
"Sabeis o que eu faria, se
fosse o demônio, para afastar todos de Nosso Senhor? - Faria todos - assinarem
um mau jornal ou pelo menos uma folha que nunca fale de Deus e da Igreja!"
- escreveu há anos Albano Stolz. Tinha razão. De fato é grande o mal que faz
esse alimento diário ímpio ou inimigo de Deus. Faz uma obra satânica. Lento, como a malaria, o ar maligno dos
pântanos da Itália, esse veneno penetra paralisante, não nos membros, mas em
nosso modo de pensar e sentir, como católicos. De onde vem a letargia a inapetência,
a fraqueza, a indiferença e frieza de tantos católicos? De onde procede o mal estar, o pânico que os acomete, quando têm de manifestar-se a forma da causa
católica? De certo provêm muitas vezes do jornal que lêem, cujo espírito sopra
contra nós, penetra-nos pouco a pouco, como o alimento que ingerimos, entra em
nós.
A vida sã e realmente católica só floresce
e prospera à sombra da cruz, onde toda vida doméstica e pública da família se
baseia sobre os princípios da religião do Crucificado. - Por amor de Deus, nada
de meias tintas, do catolicismo "secularizado", que desterra o padre
para a sacristia e oculta a religião, como uma insígnia que se usa apenas nas
paradas e depois se guarda o estojo.
Os livres pensadores dão a senha: monismo
e não dualismo! Para eles é tudo uma só coisa: espírito e matéria são iguais,
não há distinção alguma entre alma e matéria, homem e animal, Deus e o mundo!
Nós não somos monistas: pois temos olhos para ver o infinito abismo que se abre
entre Deus e mundo, entre o espírito e o corpo.
Compreendemos a sua diferença e condenamos o sistema
monístico. Uma coisa, porém podem os monistas ensinar-nos: uma intuição mais unitária
do mundo, uma concepção mais central de nossa vida! Um único ponto deve
tornar-se de novo o ideal e o fim de toda a nossa atividade, de toda a nossa
vida: Deus! Monismo, - não dualismo, no sentido de que temos – uma só alma e não duas ou três! Não temos
uma alma de domingo e outra para os demais dias da semana, não temos uma alma
para a vida particular e outra para a vida pública, uma alma para uso doméstico
e outra para os negócios.
Precisamos de homens de uma só
têmpera: que, como o grande patriota irlandês Daniel O’Connell, se dediquem em
casa e na vida – a Deus, Cristo e Pedro, isto é, a sua Igreja; só estes são católicos. Da oração tira-lhes a
força nutritiva a fé. É ao mesmo tempo: o termômetro da vida religiosa em
geral.
Se o termômetro baixa a zero, é
sinal que o gelo invadiu o país. Quando numa família o espírito de oração baixa
a zero, é sinal que nesta casa já chegou o inverno, em que tudo o que dantes
florescia em virtude, cai gelado e entorpecido. Com a oração familiar cresce o sentimento religioso e uma fonte
abundante de bênçãos abre-se para todos que residem na casa.
Uma
colunazinha
Onde se ora, se respeitam também os demais
hábitos religiosos. Lá se venera, por exemplo, a água benta. Na antiga vida cristã representava a água benta em
geral um grande papel. Em casa alguma podia faltar.
Guardava-se a idéia cristã, que o
celebre artista Miguel Ângelo exprimiu, na pia de água benta de uma Igreja de
Florença: Um demônio está sentado sob a pia. Um anjinho borrifa-lhe
inesperadamente a cabeça com água benta da pia de mármore. O demônio abaixa-se
e foge. Assim o quer a benção dá Igreja sobre a água: o demônio e as influências
satânicas devem ser afastados da casa e de seus moradores. Por isso havia outrora,
pendurada à porta, a pia de água benta e a palma benta do último domingo de
Ramos.
À entrada e à saída se tomava da
água benta para benzer-se e à noite a mãe aspergia com a palma água benta sobre
a caminha dos seus pequenos. Em tocante quando também os filhos mais velhos, o
filho e a filha, de manhã ou à noite, davam água benta à mãe, diante dela se
ajoelhavam e pediam: "Mamãe, dai-me a vossa benção!”.
Agora a pia de água benta frequentemente
é banida do lar ou a água benta "secou". Com ela, porém, secaram
também as almas e muitas coisas de valor inestimável se perderam.
Seria para salvação da família?