Cônego Júlio Antônio dos Santos
O Crucifixo, meu livro de estudos - 1950
2
– Fervor
Que
é o fervor?
É
a chama da caridade. Para que haja chama na lareira são necessárias quatro
coisas: um fogo real, matéria combustível, sopro de vento; e uma mão que desvie
a cinza.
1
- É preciso fogo real: o fogo da
verdadeira caridade
Isto
é da caridade que tem por princípio a graça de Deus, por base a abnegação; por inconciliável
inimigo, o pecado; por constante objeto, a vontade divina; por fim, a intenção de
agradar a Deus.
2
- É precisa matéria combustível: setas de
amor
O
fogo é insaciável. Acende um fósforo e perguntai-lhe: Que queres tu? - Quero
queimar, seja o que for, ainda que seja o mundo inteiro. A caridade, como o
fogo, diz Valduy, é insaciável; é preciso dar-lhe combustível; atos de amor. Eis
a lenha que devemos deitar comumente para a fornalha do nosso coração, para que
esteja sempre abrasado no amor de Deus.
A
venerável Maria do Crucifixo, religiosa beneditina, viu um dia um globo de fogo
onde caíam muitos feixes de palha que eram logo consumidos pelo fogo. Deste
modo, Deus lhe deu a entender que um ato de amor de Deus faz consumir as faltas, dia a
dia.
3
- É preciso o sopro: o sopro do Espírito
Santo
Só
Ele pode acender e atear o fogo da verdadeira caridade. Devemos atraí-lo e
apegá-lo a nós, fazendo ardentes súplicas; mantê-lo e estreitá-lo com correntes
impetuosas, fazendo com perfeição os exercícios de piedade.
Devemos
observar com exatidão o nosso regulamento diário. São Francisco de Assis ainda
não tinha composto a sua regra, mas já pensava nela. Num êxtase. Deus
mostrou-lhe muitas migalhas de pão e disse-lhe: Amassa-as, faz delas uma hóstia
e os teus religiosos comerão dela.
O
Santo obedeceu. Os religiosos, que participavam da hóstia com todo o respeito,
ficaram um encanto; os outros que recusaram tomar a sua parte ficaram como
leprosos. O Santo compreendeu: A hóstia, feita com migalhas de pão era a regra
composta de pequenas coisas. - Os religiosos que comiam da hóstia com respeito
significavam aqueles que observavam a regra e se tornariam virtuosos, santos. -
Os que não queriam comer seriam os religiosos pouco regulares e mesmo desgraçados.
Sejamos
fiéis aos nossos exercícios de piedade e assim conservaremos o fervor.
Devemos,
finalmente, ficar sob a ação deste poderoso ventilador andando sempre na
presença de Deus. Anda na Minha presença e serás perfeito.
4-
É precisa ainda a mão para desviar a
cinza: a cinza das pequenas faltas
Estas
devem remover-se por um cuidadoso exame de consciência, por uma confissão dolorosa
e atos de mortificação. Poenitentiam age,
faz penitência. (Apoc. II, 16).
A
chama sobe sempre. Também nós devemos deixar de correr para voar no caminho da virtude,
na estrada da perfeição. A nobre divisa da nossa bandeira é esta: Excelsior! Sempre mais alto! Se o mundo,
o demônio e a carne quiserem deter-nos na nossa ascensão para Deus, fitando a
nossa bandeira digamos corajosamente: Excelsior!
avançar e subir sempre! à custa de todos os sacrifícios, de maneira que, no fim
do último, possamos exclamar: Consumatum
est! Tudo está consumado!
Há
tantos anos que fazemos oração, frequentamos os Sacramentos e temos crescido
tão pouco em santidade: há tantos anos que meditamos nos divinos mistérios e estamos
tão frouxos nos afetos divinos! Donde procede tudo isto? Da nossa pouca
preparação de não tomarmos resoluções eficazes, de não correspendermos à graça
divina.
Façamos
a oração da manhã pouca ou muita e sem preguiça; no decurso do dia lembremo-nos
muitas vezes de Deus com orações jaculatórias; levemos todo o nosso trabalho
com paciência e por Deus; de modo nenhum pequemos com advertência nem mortal
nem venialmente. Cumpramos as obrigações do nosso estado, tenhamos uma grande
devoção ao Sagrado Coração de Jesus.
-
Diz-nos a Sagrada Escritura que, quando os Judeus foram levados cativos para a Pérsia,
os sacerdotes que estavam ocupados no serviço divino tiraram o fogo Sagrado do
altar e deitarem-no dentro de um poço bem fundo.
Depois
de largos anos quando voltaram do cativeiro, buscaram o fogo Sagrado e não encontraram
senão água turva e lodosa.
Então
Noemias ordenou que se aspergisse com a água lodosa a vítima e a lenha do
Sacrifício.
Ao
aparecer o sol no horizonte, acendeu-se o fogo no altar e toda a gente ficou estupefata! O
coração de Jesus é o sol das almas; exponde o vosso coração a esse sol e ele
será abrasado.
Continuará com o capítulo: Amor da Igreja