quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Amor de Deus - Última Parte (Fervor)

Nota do blogue: Acompanhar esse Especial AQUI.

Cônego Júlio Antônio dos Santos
O Crucifixo, meu livro de estudos - 1950

2 – Fervor

Que é o fervor?

É a chama da caridade. Para que haja chama na lareira são necessárias quatro coisas: um fogo real, matéria combustível, sopro de vento; e uma mão que desvie a cinza.

1 - É preciso fogo real: o fogo da verdadeira caridade
Isto é da caridade que tem por princípio a graça de Deus, por base a abnegação; por inconciliável inimigo, o pecado; por constante objeto, a vontade divina; por fim, a intenção de agradar a Deus.

2 - É precisa matéria combustível: setas de amor
O fogo é insaciável. Acende um fósforo e perguntai-lhe: Que queres tu? - Quero queimar, seja o que for, ainda que seja o mundo inteiro. A caridade, como o fogo, diz Valduy, é insaciável; é preciso dar-lhe combustível; atos de amor. Eis a lenha que devemos deitar comumente para a fornalha do nosso coração, para que esteja sempre abrasado no amor de Deus.
A venerável Maria do Crucifixo, religiosa beneditina, viu um dia um globo de fogo onde caíam muitos feixes de palha que eram logo consumidos pelo fogo. Deste modo, Deus lhe deu a entender que um ato  de amor de Deus faz consumir as faltas, dia a dia.       


3 - É preciso o sopro: o sopro do Espírito Santo
Só Ele pode acender e atear o fogo da verdadeira caridade. Devemos atraí-lo e apegá-lo a nós, fazendo ardentes súplicas; mantê-lo e estreitá-lo com correntes impetuosas, fazendo com perfeição os exercícios de piedade.
Devemos observar com exatidão o nosso regulamento diário. São Francisco de Assis ainda não tinha composto a sua regra, mas já pensava nela. Num êxtase. Deus mostrou-lhe muitas migalhas de pão e disse-lhe: Amassa-as, faz delas uma hóstia e os teus religiosos comerão dela.
O Santo obedeceu. Os religiosos, que participavam da hóstia com todo o respeito, ficaram um encanto; os outros que recusaram tomar a sua parte ficaram como leprosos. O Santo compreendeu: A hóstia, feita com migalhas de pão era a regra composta de pequenas coisas. - Os religiosos que comiam da hóstia com respeito significavam aqueles que observavam a regra e se tornariam virtuosos, santos. - Os que não queriam comer seriam os religiosos pouco regulares e mesmo desgraçados.
Sejamos fiéis aos nossos exercícios de piedade e assim conservaremos o fervor.
Devemos, finalmente, ficar sob a ação deste poderoso ventilador andando sempre na presença de Deus. Anda na Minha presença e serás perfeito.

4- É precisa ainda a mão para desviar a cinza: a cinza das pequenas faltas
Estas devem remover-se por um cuidadoso exame de consciência, por uma confissão dolorosa e atos de mortificação. Poenitentiam age, faz penitência. (Apoc. II, 16).
A chama sobe sempre. Também nós devemos deixar de correr para voar no caminho da virtude, na estrada da perfeição. A nobre divisa da nossa bandeira é esta: Excelsior! Sempre mais alto! Se o mundo, o demônio e a carne quiserem deter-nos na nossa ascensão para Deus, fitando a nossa bandeira digamos corajosamente: Excelsior! avançar e subir sempre! à custa de todos os sacrifícios, de maneira que, no fim do último, possamos exclamar: Consumatum est! Tudo está consumado!
Há tantos anos que fazemos oração, frequentamos os Sacramentos e temos crescido tão pouco em santidade: há tantos anos que meditamos nos divinos mistérios e estamos tão frouxos nos afetos divinos! Donde procede tudo isto? Da nossa pouca preparação de não tomarmos resoluções eficazes, de não correspendermos à graça divina.
Façamos a oração da manhã pouca ou muita e sem preguiça; no decurso do dia lembremo-nos muitas vezes de Deus com orações jaculatórias; levemos todo o nosso trabalho com paciência e por Deus; de modo nenhum pequemos com advertência nem mortal nem venialmente. Cumpramos as obrigações do nosso estado, tenhamos uma grande devoção ao Sagrado Coração de Jesus.
- Diz-nos a Sagrada Escritura que, quando os Judeus foram levados cativos para a Pérsia, os sacerdotes que estavam ocupados no serviço divino tiraram o fogo Sagrado do altar e deitarem-no dentro de um poço bem fundo.
Depois de largos anos quando voltaram do cativeiro, buscaram o fogo Sagrado e não encontraram senão água turva e lodosa.
Então Noemias ordenou que se aspergisse com a água lodosa a vítima e a lenha do Sacrifício.
Ao aparecer o sol no horizonte, acendeu-se o fogo no altar e toda a gente ficou estupefata! O coração de Jesus é o sol das almas; exponde o vosso coração a esse sol e ele será abrasado.

Continuará com o capítulo: Amor da Igreja