Apologética Católica com o Padre Júlio Maria de Lombaerde, + 1944
(Retirado do Livro "Luz nas Trevas - Respostas irrefutáveis as objeções protestantes".)
Passemos à quarta objeção que nos atiram os maninhos de Lutero, julgando eles ser uma pedra formidável, capaz de esmagar um romano. Infelizmente a pedra não passa de uma formidável peta, que mostra apenas a ignorância e a falta de bom senso do seu autor. O tal crente pede-me um texto que prove que os ministros da religião não devem se casar. O negócio é sério. Parece que o crente quer servir de padrinho ou de escrivão de casamento...querendo casar até quem nem noiva conhece.
Homem, é um perigo! O crente pede apenas “um texto”. Vou servir-lhes uns vinte pelo menos: textos da Sagrada Escritura, do bom-senso, da conveniência. Se não ficar convencido depois, não será falta de textos, mas falta de “cabeça”.
Comecemos pelo bom senso, que é a grande bússula da humanidade, dos protestantes e dos católicos.
Pois bem, o bom senso nos diz que o homem é livre de se casar ou ficar celibatário. É ou não é verdade, amigo crente?
Isso depende da vontade de cada um (1 Cor 7,37).
De sorte, continua São Paulo, que quem dá a sua filha em casamento, fez bem; mas quem não a da faz melhor (1 Cor 7,38).
Casa, pois, quem quer e quem pode, pois é preciso serem dois. Se pois existe tal liberdade, por que os padres não gozariam dela? Quem disse ao amigo crente que os padres tinham tanta vontade de se casar?
Eu, por mim, sei que nem tenho, nem nunca tive!
O sacerdócio católico não é obrigação para ninguém...
A Igreja não obriga ninguém a ser padre. O estado eclesiástico deve ser livremente escolhido. Aqueles o escolhem, é , pois, de espontânea vontade que o fazem, sujeitando-se aos sacrifícios que ele exige.
É somente depois de uns 12 anos de estudo que a Igreja exige o coto de castidade, podendo o candidato recuar ou continuar à vontade.
Tudo isso é simples como o dia. Há muitos homens e moças que não casam por interesse ou por medo ou falta de inclinação...e esta liberdade seria recusada ao sacerdote?
Está, pois, claro, amigo crente; o padre não casa porque prefere consagrar a Deus sua vida seu coração e seu corpo.
Ninguém pode contestar-lhe esta liberdade, nem dizer que faz mal, pois segue o conselho de S.Paulo, que os protestantes não têm coragem de seguir: Digo, porém, aos solteiros e às viúvas que lhes é bom ficarem como eu (1 Cor 7,8). Cada um fique na vocação a que foi chamado (1 Cor 7, 24). O solteiro cuida das coisas do Senhor, mas o que é casado, das coisas do mundo (1 Cor 7, 32-33). Porém será mais feliz se ficar assim como eu; e também eu penso ter o espírito de Deus (1 Cor 7,40).
Eis o que diz o bom senso, apoiado sobre a Sagrada Escritura. Casar é bom... não casar é melhor.
O padre católico escolhe o que há de melhor...e o pastor protestante o que há de pior, como diz S.Paulo. Qual dos dois age melhor e mais acertadamente?
Consulte o bom senso e São Paulo no capítulo 7 da primeira epístola aos Coríntios. Ele não era protestante, mas uma das colunas da Igreja Católica, romana, e como tal era celibatário, como o são ainda hoje todos os sacerdotes católicos.
II. O exemplo de Cristo
Vamos, amigo protestante, temos de percorrer ainda muitos textos. Citei apenas os textos do bom-senso, apoiado sobre textos de S. Paulo. Vamos agora ver um pouco de perto o próprio Evangelho e no Evangelho o exemplo do grande modelo que é Cristo.
Dize lá, se é bom ou ruim seguir o exemplo e as pisadas de Cristo? Se é ruim, então o amigo lance a sua bíblia ao fogo!... Se é bom, o amigo verificará que teve a língua comprida demais e a inteligência por demais curta.
Apenas uma pergunta: Jesus era casado ou não? Não o era. É, pois, permitido ficar celibatário e guardar a castidade. Deve até ser muito melhor que o contrário, pois sendo Deus, Jesus deve ter escolhido o que havia de mais perfeito.
Jesus era celibatário, era virgem, era a pureza perfeita. O sacerdote católico, que é o seu ministro, procura, o melhor possível, imitar o seu modelo divino, - procura ser puro, casto, virgem, e por isso fica celibatário – ama a todos em Deus, e não quer ser amado por ninguém, fora de Deus.
Os pastores protestantes, que se gabam de seguir em tudo a bíblia, afastam-se aqui, aliás como no resto, dos exemplos do Cristo. Em vez de andarem separados de tudo, só andam acompanhados de (uma ou mais) “pastoras” e de uma fila de“pastorinhos”e“pastorinhas”.
Eu acho isso pouco evangélico, e pouco digno de um “ministro” do culto, de um “eleito”, de um crente que já está salvo!... isto está tão longe dos exemplos daquele que disse: Eu vos darei o exemplo para que façais como eu fiz (Jo 13,15). Está bem longe do conselho de S. Paulo: Sede os imitadores de Deus como filhos queridos (Ef 5,1).
Nota bem, querido crente: Jesus não tinha mulher, nem filhos carnais. Era virgem, enquanto certos ministros bíblicos andam cercados de prole legítima e não legítima... mas... cala-te, minha pena, isso não se diz. Quem tem razão, Jesus ou o pastor protestante?
III. O exemplo dos Apóstolos
Não somente Jesus era celibatário, mas todos os apóstolos o eram. Os apóstolos são os primeiros sacerdotes, os primeiros bispos, ou ministros do culto.
Havia entre eles viúvos, até talvez casados, que, de mútuo consenso, deixaram a mulher para seguir o divino Mestre, conforme o conselho deste último: Se alguém quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga (Mt 16,24)e ainda: Se quiseres ser perfeito, vai, vende o que tens, e dá o valor aos pobres (Mt 19,21).
Cristo fala só em renúncia, cruzes e desprendimento; e nunca em mulher e filhos!... Quem sabe se o suave crente não interpreta este texto, dizendo que a cruz que eles devem carregar é a mulher ou os filhos!... Sendo assim, ele tem razão, e segue o Mestre carregando a mulher e os filhos nas costas. Que cruz, de fato, para um pastor protestante!
S. Pedro não o entendia assim e isso apesar de ter sogra... nem sequer perguntou a Jesus: Que hei de fazer com minha sogra, mulher e filhos? Nada disso! Exclama bem alto: Eis que nós deixamos tudo e te seguimos, qual será o nosso galardão? (Mt 19,27).
E Cristo respondeu: Todo aquele que tiver deixado casa, irmãos ou irmãs, pai ou mãe, mulher ou filhos, ou terras, por amor de meu nome, receberá o cêntuplo e a vida eterna (Mt 19,29).
Que bomba, meu caro protestante! O divino Mestre aconselha a deixar tudo, até a mulheres, filhos, por amor dele; e S. Pedro o faz, enquanto os ministros protestantes procuram antes de tudo a mulher. O sacerdote católico imita S. Pedro, enquanto o pastor bíblico imita Lutero.
Onde estará a verdade? E qual dos dois segue melhor os ensinamentos de Cristo? Pobre homem, por que foste meter-te em um tal cipoal?... Em parte nenhuma do Evangelho se encontra que o ministro do culto deve casar-se; ao contrário, só se encontram conselhos de não o fazer.
Verdade é que o ministro protestante nada tem de sacerdócio, e nenhuma missão, nenhuma autoridade tem. Ontem negociante ou roceiro, vira de repente pastor; ontem tolo e sem letras, torna-se hoje ilustrado e iluminado. Em tais casos pode casar-se... é o seu direito... é bom até que case para não queimar, como diz S. Paulo (I Cor 7,9), porém é bom que se cale então e não lance a pedra ao sacerdócio católico, que faz o que ele não sabe fazer. É bom que o homem não toque mulher, diz o apóstolo (I Cor 7,1), com maior razão aquele que deve ser o modelo, o conselheiro e o guia dos homens: o sacerdote.
Tudo isso é tão claro e tão simples que se fica admirado de um homem que só jura pela Bíblia não ter lido e meditado isso cem vezes.
Abra os olhos, caro protestante, seja bastante franco para confessar que está fora da verdade, longe da verdade, e completamente afastado da sua Bíblia, ou melhor, da nossa Bíblia, pois a Bíblia é da Igreja católica e não dos protestantes, que só deveriam inspirar-se nos escritos do seu pai Lutero.
IV. O conselho de Cristo
O amigo protestante quer mais textos ainda? Pode ler em inteiro o capítulo 7 da I epístola de S. Paulo aos Coríntios.
Também S. Mateus tem trechos admiráveis e em nada protestantes (Mt 19, 10-20).
É o próprio Cristo que fala e responde aos discípulos e diz que “não convém casar”.
Não são todos que compreendem esta palavra, mas somente aqueles a quem é dado (Mt, 19,11).
Pois bem, isso é dado ao sacerdote católico e não é dado ao pastor protestante; prova de que Jesus Cristo dá graças ao sacerdote que ele não dá ao tal pastor.
O padre católico ama a Deus, sem dividir o seu coração com a mulher; - o pastor ama a sua pastora e as suas pastorinhas, de coração dividido, onde Deus nada tem. O padre católico procura agradar a Deus e o pastor protestante procura agradar à sua pastora. Repito-o: como homem particular o amigo protestante tem este direito; porém como “pastor” afasta-se do conselho do Mestre.
Mas continuemos o nosso estudo. Até agora provei que o sacerdote pode ficar celibatário; que faz bem ficando assim, que segue os conselhos de Jesus Cristo e anda nas pisadas do Mestre divino.
Será o bastante, entretanto quero dizer mais, para convencer plenamente meu bom crente, caso ele busque sinceramente a luz e a verdade.
O celibato é de conselho, não de preceito, senão o matrimônio seria um pecado, o que é falso; sendo um sacramento instituído por Jesus Cristo e por ele santificado na ocasião das núpcias de Caná. É o que fazia dizer a S. Paulo: Este sacramento é grande em Jesus Cristo e na Igreja (Ef 10, 32).
Texto que de novo é a condenação dos protestantes que se contentam com o contrato civil, vivendo deste modo amasiados.
Para o sacerdote, o celibato ou castidade, não é simples “conselho”, mas um preceito eclesiástico.
A Igreja é uma sociedade de fiéis; em toda sociedade deve haver um chefe, um governo que tenha autoridade e poder para formular leis diretivas para essa sociedade.
Aqui, de novo, o protestantismo está fora de toda lei: quer formar uma sociedade sem chefe, um corpo sem cabeça.
Pois bem, o papa, chefe da Igreja católica, apoiado sobre os exemplos e conselhos de Jesus Cristo e dos apóstolos, formulou a lei que os sacerdotes não podem mais casar-se e se foram casados antes de receber as ordens sacras, não podem mais fazer uso do matrimônio.
Eis a lei que vigora na Igreja católica. Esta lei existe desde Jesus Cristo e os apóstolos e desde os primeiros séculos se faz menção dessa obrigação.
Tertuliano, que faleceu pelo ano de 222, diz que os clérigos são celibatários voluntários.
Eis a lei do celibato, caro protestante. Se o amigo for sincero, deve confessar que é uma grande e bela instituição, derivada do exemplo do próprio Cristo e seguida por todos os sacerdotes, desde os apóstolos até nossos dias...
V. Outra objeção protestante
Para provar que o padre devia casar-se, os amigos protestantes encontraram em S. Paulo um texto que lhe serve de cavalo de batalha.
Com a liberdade de interpretação individual, é claro que um texto pode ser interpretado diversamente, e até às vezes receber explicações diametralmente opostas.
O tal cavalo-de-batalha é o seguinte conselho de S. Paulo a Timóteo: Se alguém deseja o episcopado, deseja uma boa obra. Importa que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, sóbrio, prudente, conciliador, modesto, hospitaleiro, capaz de ensinar (I Tim 3, 1-2).
Eis a prova protestante de que o padre queira ou não queira, deve casar-se. Mas, diga-me, caro crente, como é que Cristo, que deixou a cada um a liberdade de casar-se ou de ficar celibatário, recusa este direito ao padre?
E que prova tal texto? Prova que o celibato não é de obrigação divina, mas sim de conselho. O Apóstolo não diz: É prescrito que o bispo seja casado; mas diz: Sendo ele casado, deve sê-lo com uma mulher só, excluindo deste modo a tal bigamia pública ou oculta... E esta última é infelizmente demais conhecida.
Ora, nunca a Igreja ensinou que o celibato era de ordem divina, mas sim de ordem eclesiástica.
O padre deve ser o pai espiritual de todos; de para isso, não deve ser o pai carnal de ninguém.
O padre deve ocupar-se das crianças dos outros para instruí-las, e para isso não deve ter filhos próprios.
O padre deve ser o conselheiro e o confidente de todos, e para isso deve viver independente de todos e de tudo.
Para tudo isso, o padre deve poder dispor do seu tempo, o que não poderia fazer, se tivesse mulher ou filhos.
O padre deve viver para a Igreja e para a religião, e não para a mulher e filhos.
O famoso texto de S. Paulo, longe de contradizer, confirma a doutrina exposta e mostra o que sempre temos repetido: que o celibato não foi exigido por Cristo; porém foi aconselhado, pela palavra e pelo exemplo, deixando Jesus Cristo à sua Igreja o cuidado de regular estes pormenores, conforme os tempos e os lugares.
É o bastante, pois a Igreja, assistida pelo Espírito Santo, faz o que Deus lhe inspira, pois é infalível em suas decisões dogmáticas e morais: Quem vos escuta, escuta a mim e quem voz despreza, despreza a mim, disse Cristo (Lc 10,16).
VI. Católicos e protestantes
Com tudo isso está infinitamente acima dos exemplos dos lúbricos fundadores do protestantismo!
Lutero com suas três raparigas; Zwínglio com sua libertinagem; Calvino condenado por crime torpe, marcado nas costas com ferro em brasa, sinal de extrema infâmia; Henrique VIII degolando as suas seis mulheres, mostram bastante o que é o protestantismo: uma escola de devassidão e de revolta.
Pode haver protestantes bons; mas neste caso valem mais do que a religião que professam; enquanto o católico que praticasse completamente a religião seria um santo.
Eis confrontados os dois mistérios: o catolicismo e o protestantismo.
O sacerdote católico, seguindo os conselhos e os exemplos de Cristo e dos apóstolos, renunciando à família e ao conforto do lar, para consagrar-se ao serviço de Deus, e o pastor protestante, casado, cercado de filhos e procurando deixar uma pequena fortuna para eles, não praticando nenhuma das grandes virtudes, tão aconselhadas por Cristo a seus apóstolos, que são os primeiros sacerdotes e cujos exemplos devem servir de norma a todos os sacerdotes.
E os protestantes tem a ousadia de lançar pedras ao sacerdócio católico, pedindo-lhe textos que provem que não devem casar. Pobre gente! ... Tanta ignorância supina e tanto fanatismo cego! ... Seria melhor buscar textos que provem que Lutero, Zwínglio, Calvino e Henrique VIII, os pais do protestantismo, não são sujeitos libertinos, sem compostura, sem moral.
Tais textos serviriam, pelo menos, para lavar a mancha negra que macula o berço da reforma e a aponta a todas as gerações como uma obra imunda e revoltante. Se um protestante conhecesse a sua seita, a sua origem, a sua história, gritaria como os réprobos do juízo final: Montanhas, caí sobre nós, e outeiros, encobri-nos (Lc 19,40).