A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
A
CONFIRMAÇÃO ATRAVÉS DA HISTÓRIA
11
de Junho de 1940
Estou
tratando do Sacramento da Confirmação ou Crisma. Ontem
falei sobre os textos da Sagrada Escritura, referentes à imposição das mãos
para que, sobre o batizado, descesse o Espírito Santo. Terminei dizendo que
trataria hoje da Confirmação sob o ponto de vista histórico.
No
século II, há o testemunho de São Teófilo de Antioquia, que diz: “Somos
chamados cristãos porque fomos ungidos com o óleo divino”[1].
— Harnack afirma erroneamente que a primeira vez que aparece a Confirmação
depois do batismo é entre os gnósticos, no século segundo. Ora, os gnósticos se
distinguiam por um espiritualismo exagerado, não sendo verossímil que
inventassem a confirmação, pela unção na fronte.
Santo
Irineu, falando a esse respeito diz: “Também os gnósticos ungem com bálsamo”[2]. Entende-se
logicamente, pelo modo como é conduzido o assunto, que cristãos e gnósticos
crismavam, sendo opinião geral, entre os autores que os gnósticos, corrompendo
os ritos, copiaram dos cristãos a prática do segundo sacramento.
E
quando os apologetas do século III ensinavam: "caro ungitur ut anima
consecretur” — a carne é ungida, para que a alma seja consagrada há razão para
crer que eles, tão amigos da tradição, tivessem aprendido tal doutrina com os
seus predecessores do século II.
No
século III, Tertuliano, o grande defensor da tradição, no seu livro contra
Marcion, recorda que Jesus Cristo não reprova a unção dos seus discípulos com
óleo. E no tratado Da ressurreição da carne, diz textualmente: “a carne é
ungida para que a alma seja consagrada; a carne recebe a imposição das mãos,
para que a alma seja iluminada pelo Espírito Santo”.[3]
Orígenes,
comentando a epístola aos Romanos, diz: “Somos batizados pela água visível e
pelo crisma visível”.[4]
Há
ainda o testemunho de São Cipriano, de Firmiliano e vários outros.
No
século IV a tradução continua, sem solução de continuidade. Temos o precioso
documento deixado por S. Cirilo de Jerusalém. Na sua catequese 31,a, ensina
que, depois do batismo, o Espírito descerá sobre os que são ungidos com o óleo
sagrado.
S.
João Crisóstomo nos transmite a mesma doutrina, bem como Santo Hilário de
Poitiers, Santo Optato Milevitano e outros.
No
século V, com igual pujança se defende e pratica a confirmação, administrada
com a unção de óleo. — Cirilo de Alexandria, Teodoreto e o grande Agostinho são
testemunhas valiosas da prática do segundo sacramento.
No
século VI a voz de São Gregório Magno é suficiente para nos dar certeza de que
o sentir comum da Igreja é a favor da existência e da prática da Confirmação.[5]
No
século VII temos o testemunho de Santo Isidoro e dos Concílios de Sevilha e de
Toledo. No século VIII ouve-se a palavra do notável Beda.
E
assim vamos, de século em século, sempre assistindo ao desenrolar dos fatos,
vendo a prática da Confirmação em toda a Igreja, — até ao século XVI, quando o
Concílio de Trento declara solenemente — anatematizado todo aquele que negar a
existência do Sacramento da Confirmação ou Crisma.[6]
Notas:
_______________
[1] Pesch — Dogma — De Confirmatione — n.º 497 e Migne, Patrologia grega — t. 6 — c. 1.041.
[2] Contra os hereges — livro I, cap. 21.
[3] Capítulo 8.º.
[4] Comentário da epístola de S. Paulo aos Romanos, VI — 3.
[4] Epístola ao Bispo Januário.
[6] Sessão VII, can. 1 e 2.