Cônego Júlio Antônio dos Santos
O Crucifixo, meu livro de estudos - 1950
4- Seus efeitos nas obras
As
obras são o fruto das operações. Ora da mesma maneira que uma árvore não dá
fruto ou o dá mais ou menos imperfeito, assim também acontece com as nossas
potências naturais: podem ser infrutíferas, não produzindo atos, ou produzindo atos
mais ou menos imperfeitos. Há,
pois, uma distinção real entre as nossas obras e as nossas potências. Vejamos
agora quais são os efeitos que a graça santificante produz nas nossas obras,
fruto das nossas operações sobrenaturais.
Estes
efeitos são três:
1.º
A graça santificante torna as nossas obras perfeitas em si mesma e em relação
ao fim último. Este efeito compreende os frutos do Espírito Santo.
2.º
Em virtude da graça santificante as obras perfeitas tornam-se fecundas. Este
efeito é chamado mérito.
3.º
As obras perfeitas, fecundas, impregnadas da virtude da graça santificante
obtêm-nos a bem-aventurança.
I
— Frutos do Espírito Santo
O
homem assemelha-se a uma árvore. As suas ações, como diz o Evangelho, são os
seus frutos. As boas obras feitas só com o auxílio das forças da natureza são
frutos do homem. Os
frutos do Espírito Santo exigem os socorros da graça. A suavidade que eles
produzem é uma recompensa antecipada da virtude.
Saboreemos
estes frutos na nossa vida cristã.
1
— Relativamente a Deus
Caridade.
— A caridade é o primeiro fruto ou o primeiro até que nos une ao Senhor,
segundo estas palavras de São João: «Aquele que permanece na caridade permanece
em Deus e Deus nele.» (Jo. IV, 16). Sem este fruto os outros não podem ser
agradáveis a Deus. O
fruto divino da caridade, é digno da raiz que o germina, isto é, do Pai celeste,
digno da árvore que o apresenta, isto é Jesus Cristo, digno da seiva que o
perfuma, isto é, o Espírito Santo, digno, enfim, da terra que o produz, isto é,
o cristão, e, em geral, da Igreja que é a sociedade de todos os cristãos. Está
escrito: julga-se a árvore pelos seus frutos. (Mat. VII, 20). Reconhece-se que
somos verdadeiramente de Cristo, que o Seu Espírito habita e vive em nós, se
produzirmos frutos de caridade.
Gozo.
— No cumprimento dos nossos deveres, na execução das boas obras em que tomamos
parte, há muitas dificuldades e sofrimentos de todo o gênero; mas se o Espírito
Santo, o Consolador, está em nós, suportaremos tudo com paciência, resignação e
até com inteira alegria. Como são Paulo, transbordamos de alegria no meio das
aflições. (II Cor. VII, 4).
Paz.
— A paz é um sentimento mais profundo do que o gozo. Quando
vivemos em paz com Deus, com o nosso próximo e conosco mesmo, o Espírito Santo
derrama nas nossas almas a paz do Céu. Este mundo é então o Céu vivido na
terra.
Estes
três primeiros frutos tornam-nos pois felizes nas nossas relações com Deus. A
caridade une-nos a Ele, o gozo faz-nos participar das suas delícias e a paz
consolida-nos no gozo do seu amor.
2
— Relativamente a nós mesmos
I
— Quanto à alma
Paciência.
— E, na verdade, uma grande consolação estar em paz com Deus pela graça, mas o
que torna esta paz duradoura é o fruto da paciência, fruto delicioso que
suaviza as mais duras provas! Desde que sofremos com resignação cristã, diz
santa Tereza de Jesus, o sofrimento acabou-se porque a suavidade de Deus
satisfaz plenamente o coração.
Benignidade.
— A benignidade torna a paciência graciosa, conservando em nós uma disposição
para a indulgência e afabilidade. Com esta disposição não temos palavras
ásperas nem modos bruscos nem nada que possa ferir a civilidade cristã.
Bondade.
— A bondade é alguma coisa de mais profunda que a benignidade, esta diz
respeito ao exterior, e aquela ao interior. À benignidade é a expressão
exterior da bondade; a bondade é a alma da benignidade. A
bondade é, pois, uma disposição para fazer bem. Animado
pelo Espírito de Deus, o cristão passa através do mundo fazendo só bem.
II
— Quanto ao corpo
Modéstia.
— A modéstia regula, como convém, todo o nosso exterior; expressão, dos olhos,
do rosto, conversação e vestuário. É preciso imitar Jesus Cristo, ou os santos
que, por sua vez O imitaram fielmente. «Que a nossa modéstia, diz o Apóstolo
seja conhecida de todos os homens.» (Filip. IV, 5).
Continência.—À
continência regula o homem interior e consiste na abstenção dos prazeres
lícitos da concupiscência da carne e da sensualidade no comer e beber. «A
graça de Deus, diz São Paulo, ensina-nos a renunciar a concupiscência e a viver
no século presente com temperança, justiça e piedade». (Tit. II, 12).
Castidade.
— A castidade consiste na abstenção dos prazeres ilícitos da concupiscência, de
tudo o que é perigoso e na prática da penitência.
A
fim de produzir abundantes frutos, toda a árvore deve ser podada. Na ordem
moral também isto é indispensável. «Eu sou videira verdadeira e o meu Pai é o
agricultor. Todas as varas que não derem fruto em mim tirá-las-á, e todas as
que derem fruto alimpá-las-á, para que dêem mais fruto». (Jo. XV, 2).
Deixemo-nos
limpar, podar pelo Pai celeste, aceitando todas as aflições que nos enviar e
auxiliemo-lo neste trabalho, mortificando-nos. «Eu castigo o meu corpo, diz o
Apóstolo, e reduzo-o à escravidão».
Guiai-vos
pelo Espírito, diz São Paulo, e, por isso, não deveis satisfazer os desejos da
carne. (Gal. V, 16). Sois templos do Espírito Santo. Glorificai a Deus no vosso
corpo. (I Cor., VI, 19-20).
III- Relativamente ao nosso próximo
Longanimidade.
— Muitas vezes a bondade é contrariada nas suas empresas. É, pois, necessária
uma coragem perseverante nas provações da vida. E quem nos dá esta coragem? a
longanimidade. Com este fruto suportamos, com constância, as provações que nos
vem dos nossos semelhantes.
Mansidão.
— A mansidão leva-nos a ser indulgentes para com as faltas e defeitos do
próximo, de maneira que tudo o que provém de nós é envolvido em doçura e não em
espinhos. Jesus Cristo tinha o Espírito da mansidão. Ele mesmo diz: Aprendei de
mim que sou manso e humilde do coração.
Fé.
— O Espírito Santo é o amor fidelíssimo. Quando se ama divinamente, há perfeita
sujeição da inteligência a Deus e fidelidade nos deveres para com o próximo; de
maneira que não se atraiçoa a Deus nem o próximo, por palavras, por atos ou
pelo abandono.