A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
CONFIRMAÇÃO
10
de Junho de 1940
O
nosso estudo de hoje versa sobre o Sacramento da Confirmação, ou Crisma — é a
introdução. Teremos mais duas palestras sobre o assunto. Antes,
porém, façamos uma breve recordação da matéria, num punhado de palavras. Na
Confirmação observa-se o seguinte: — O Bispo estende as mãos sobre os
confirmandos e invoca sobre eles o Espírito Santo; em seguida, unge-lhes a
fronte com o óleo do crisma, orando ao mesmo tempo e impondo-lhes as mãos;
deste modo recebe o cristão os dons do Espírito Santo e, em particular, a
firmeza na fé.
O
dia da confirmação é para nós o que foi para os apóstolos o dia do Pentecostes.
A
Confirmação é complemento do Batismo. O batizado tornou-se filho de Deus; o
confirmado torna-se soldado de Cristo.
O
óleo do crisma é uma mistura de azeite de oliveira e bálsamo e simboliza o
efeito da graça. Durante a unção o Bispo diz a forma: “Eu te assinalo com o
sinal da cruz e te confirmo com o crisma da salvação. Em nome do Padre e do
Filho e do Espírito Santo. Amém.” — E dizendo: a paz seja contigo — bate de
leve no rosto do crismado, para lembrar as perseguições que lhe podem advir por
motivo da sua fé.
O
crisma, como disse, é uma mistura de óleo de oliveira e bálsamo. — O óleo
ilumina. O Espírito Santo clareia a inteligência, facilitando-lhe o
conhecimento da sabedoria, cuja base principal é o temor de Deus. Os lutadores
antigos untavam o corpo com óleo e assim não eram subjugados pelo adversário. —
Ungidos com o crisma, nossa alma com mais presteza se libertará dos seus
inimigos, que obedecem ao poder das trevas. — O bálsamo, pelo seu perfume,
simboliza o odor das virtudes e o remédio contra a corrupção que vem pelo
pecado.
Passemos
agora a estudar a instituição do Sacramento da Crisma. Jesus Cristo prometeu o
Espírito Santo aos Seus apóstolos e cumpriu Sua promessa no dia de Pentecostes,
quando, reunidos no Cenáculo, em companhia de Maria Santíssima, eles tiveram a
comunicação do Espírito celeste da Caridade, sob a cabeça de cada um dos
circunstantes. — O Espírito Santo comunicou aos primeiros missionários do
Evangelho coragem até o heroísmo; ciência e eloquência de arrebatar, dominar e
converter; zelo ardente, num amor que nada faria arrefecer. Era conveniente,
porém, que o Espírito Santo fosse comunicado a todos os fiéis, com um rito
visível e perpétuo. Assim fizeram os apóstolos, como consta dos Atos, em vários
lugares, especialmente no capítulo 8.º — “Muitos samaritanos, homens e
mulheres, foram convertidos por Filipe. E os apóstolos Pedro e João vieram de
Jerusalém e impuseram as mãos sobre eles, comunicando-lhes o Espírito Santo”
(At 8, 4-17, narrativa resumida).
Paulo,
encontrando alguns discípulos de João Batista em Éfeso, batizou-os e, impondo
as mãos sobre eles, veio-lhes o Espírito Santo (At 19, 6).
É
fora de dúvida que os apóstolos, ordinariamente, depois de batizarem os
convertidos, impunham sobre eles as mãos, invocando a descida do Espírito Santo
(At 19; Ef 1, 13; Heb 6, 2; 2 Cor 1, 21 22).
Veremos
amanhã o uso da Igreja, nos seus primeiros séculos de existência.