A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
EFEITOS
DO BATISMO E SUA NECESSIDADE
de
Junho de 1940
Vamos
estudar hoje os efeitos do Batismo e a sua necessidade. Este
sacramento destrói verdadeira e propriamente todos os pecados, tanto o
original, como os atuais, anteriormente cometidos. São
Pedro, como lemos nos Atos dos Apóstolos, diz expressamente: “Fazei penitência
e cada um de vós se batize, para remissão dos pecados” (At 2, 38). Do
mesmo modo fala Ananias a São Paulo: “Levanta-te, batiza-te, lava os teus
pecados” (At 22, 16). São
Paulo, por diversas vezes, afirma que, pelo Batismo, morremos para o pecado: “mortos
para o pecado, diz ele, mas vivendo para Deus.” O
Concílio de Florença nos ensina: O efeito deste Sacramento é a remissão de toda
culpa original e atual, assim como, também, de toda pena.
A
mesma razão nos mostra a verdade da doutrina da Igreja Católica, estritamente
de acordo com o que ensina o apóstolo São Paulo, em sua epístola aos Romanos
(Rom 6, 3-4 e 8-9): “Acaso ignorais que todos nós que mergulhamos na água
batismal, em Cristo Jesus, fomos submersos na sua morte? Sim. Pelo Batismo, fomos
com Ele sepultados na morte, para que, assim como Cristo ressuscitou, assim
também vivamos nós uma vida nova.” — “Se morremos com Cristo, temos fé que viveremos
com Cristo. Pois sabemos que Jesus, uma vez ressuscitado, já não morre, pois a morte
não tem mais nenhum poder sobre Ele.”
O
apóstolo fala também do velho homem que então deixa de existir, dando lugar ao
novo homem regenerado pela graça — comenta Santo Tomás de Aquino. (Sum. Theol.,
III, q. 69).
O
Batismo é um dos sacramentos que imprimem caráter. Trata-se de um sinal
impresso na alma para sempre, tornando o homem apto para receber ou fazer
alguma coisa sagrada (cf. Tanquerey, o. c. 4.a edição, n.° 67).
Pelo
caráter do Batismo o homem se une a Jesus Cristo, como membro do corpo à cabeça.
Torna-se filho da Igreja e idôneo para receber todos os outros sacramentos.
O
Batismo, por isso mesmo que marca indelevelmente a alma, só pode ser recebido
uma vez.
O
Batismo é necessário à salvação. É o que se depreende das palavras de Jesus
Cristo, a Nicodemos, conforme o Evangelho de São João: “Quem não tomar a nascer
pela água e pelo Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus” (Jo 3, 5-6).
A
grande preocupação dos apóstolos era batizar os neo-convertidos. Assim agiam
os primeiros cristãos, na época de grande fervor, em meio às grandes
perseguições. A ordem de Jesus Cristo é peremptória: Ide, ensinai, batizai.
Ora, se há realmente tal necessidade, o Batismo deve ser administrado quanto
antes. Se é indispensável para se entrar no Reino de Deus, é absurdo guardar-se
para receber tal sacramento em idade adulta, pois ninguém deve contar com a sua
própria vida, que, de um momento para outro, pode ser cortada pela morte!
Dois
são os meios de suprir o Batismo da água: primeiro, a caridade perfeita, com
voto pelo menos implícito de receber o Batismo, chamado Batismo de fogo ou de
desejo; segundo, o Batismo de sangue, isto é, o martírio. O primeiro diz
respeito só aos adultos e o segundo também às crianças.