terça-feira, 13 de agosto de 2013

SANTIDADE DA IGREJA (b)

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946

SANTIDADE DA IGREJA (b)
25 de Setembro de 1945

Em aditamento ao que vimos ontem, sobre “Igreja santa”, tenho ainda alguma coisa a vos dizer.

Jesus Cristo legou à Sua Igreja dois meios po­derosos de santificação: a palavra e os sacramen­tos: “Ide, ensinai, batizai!”

Os prodígios que a pregação do Evangelho vem realizando não têm conta. Seria mesmo impos­sível enumerá-los, porque uns são visíveis e por toda parte se divulgam; outros, só Deus sabe! E o mais interessante e que constitui prova irrefu­tável da intervenção divina — é que o efeito da pregação nem sempre depende do pregador. Uma frase que o sacerdote pronuncia sem lhe dar o valor de uma fagulha capaz de produzir incêndios, de um dardo apto a ferir profundamente — esta frase inflamada, aguçada pela graça divina, é fa­gulha, é dardo... e produz efeitos fulminantes.

Antônio Martel, aquele jovem professor da universidade de Lille, entrando casualmente numa igreja de Paris, ouviu esta frase do sacerdote que pregava: “Amai o vosso próximo, por amor a Deus!” — Os assistentes escutavam a pregação... e a frase do pregador não foi objeto de comentá­rio de ninguém. Antônio Martel, todavia, não teve mais descanso! “Preciso fazer algum bem aos meus irmãos!” — dizia ele consigo mesmo... e esse pensamento não o deixou mais tranquilo. — Toma um professor particular, aprende o russo, vai para Moscou e começa a exercer um sublime apostola­do entre os católicos perseguidos. Isto se passou en­tre 1922 e 1926. No fim deste último ano Martel foi preso como elemento suspeito e mais tarde pos­to em liberdade por intervenção da embaixada da França, em 1927. — Volta à Pátria e continua o seu apostolado de amor ao próximo, morrendo muito moço ainda, em 1931. Quando seu corpo baixava à sepultura no cemitério de Baume-les-Dames, em Lille, um dos seus superiores hierár­quicos, da Universidade, murmurou: “Eu não te­nho fé, mas agora sei o que é um santo! conheci um santo!”

Aqui mesmo, bem perto de nós, o sr. Arcebispo Jaime de Barros Câmara, em suas visitas pas­torais, tem operado conversões notáveis. — Diáriamente, nos hospitais, Deus fala ao coração dos so­fredores e os transforma em santos, pela palavra do sacerdote que lhes comunica as energias neces­sárias para a vitória contra o poder das trevas.

Igreja santa... a transfundir nas almas, pelo sangue de Jesus Cristo, uma vida nova e a conservar, pelo mesmo sangue, a vida sobrenatural! A prática desses dois sacramentos — sociais por excelência — a confissão e a comunhão, tem conseguido, mesmo numa época de sensualismo como a em que vivemos, — manter em alto grau de per­feição multidões de jovens de ambos os sexos, que podem servir de modelo à nova geração.

Nas famílias onde se observa a doutrina da Igreja santa, reina a paz, conservam-se os bons costumes, mantém-se a tradição cristã.

Eis a santidade que produz a Igreja pela pre­gação e pelos sacramentos.

Dentro em pouco toda a cristandade vibrará em homenagens a Santa Teresinha do Menino Je­sus e da Santa Face. Eis uma das mais recentes obras primas da Igreja Santa! Essa religiosa hu­milde, cujo valor bem pouca gente soube aquila­tar enquanto ela vivia, morre em 1897... já em nossos dias, e rapidamente empolga o mundo intei­ro, impondo-se por um prestígio a que ninguém resiste, conquista as glórias dos altares e tem a brilhar em sua fronte um resplendor que será para sempre a glória de Deus e de sua Igreja santa!

Só a Igreja Romana é santa.

Quanto à doutrina, ouçamos o ilustre cardeal Newman que, como se sabe, pertenceu ao pro­testantismo, no qual brilhou como teólogo, profes­sor e membro graduado na heresia; convertido ao catolicismo, chegou ao cardinalato, brilhando ain­da mais na verdadeira Igreja. Diz ele: “A Igreja Romana, hoje como nos primeiros séculos, ensina toda a doutrina de Cristo contida na Escritura e na Tradição. Sempre defendeu sua integridade, pas­sando sempre incólume através de inúmeros erros, aos quais, desde o primeiro dia, galhardamente re­sistiu”.[1] E’ esta a doutrina que faz os santos. Só a Igreja Romana possui o inigualável tesouro do Santo Sacrifício da Missa. Só ela guarda e distribui as riquezas da graça, pelos sete Sacramentos. A disciplina da Igreja conduz à santidade: o preceito de ouvir Missa, do jejum, da abstinência, da abne­gação. Só a Igreja Romana conserva o verdadeiro sacerdócio que se propaga pelo sacramento da Or­dem. Nela florescem as ordens e congregações reli­giosas masculinas e femininas, que têm produzido brilhante série de santos em todas as camadas sociais. “Estes institutos são tão belos, diz Voltaire, que chegam a despertar a admiração dos pró­prios adversários da Igreja”.[2]

A Igreja Romana continua a sua obra divina de santificar as almas. Continua a apresentar ao culto público, pela canonização, os santos que se mostraram heróis na vida e nas virtudes.

Já vos falei sobre Santa Teresinha do Menino Jesus. Lembro ainda o Santo Cura d’Ars, São João Bosco e Santa Bernadette, dos nossos dias. “No século XIV, 310 pessoas incluídas na lista dos Bem-aventurados e 78 na dos Santos”.[3]

A Igreja grega, desde o cisma, não mais pro­duziu santos.
Quanto ao protestantismo, “o mundo ainda está à espera do seu primeiro santo... ”[4]
A nota “santa” compete exclusivamente à Igreja Romana.

Notas:
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[1] Newman — “Desenvolvimento da doutrina cristã”, parte II, caps. 6, 7, 8. 
[2] Voltaire, “Essai sur les moeurs” — t. III, p. 139. 
[3] Tanquerey, Th. Dogmática, edição 24.a “De Sanctitate Ecclésiae, n.° 800. 
[4] Idem, idem — n.° 810.