A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
“FORA
DA IGREJA NÃO HÁ SALVAÇÃO”
5
de Outubro de 1945
Em
consequência do que vimos ontem na introdução do estudo do nosso corolário,
este se enuncia assim: “Quem, culpavelmente, permanecer fora da Igreja, até ao
fim da vida, não poderá salvar-se”, o que corresponde ao axioma que serve de
título a esta palestra.
Prova-se:
1.º
— Jesus Cristo instituiu a Igreja para conservar e defender Sua doutrina; na
Igreja instituiu prepostos com a missão de ensinar e governar, na esfera
espiritual, a toda criatura. Por outro lado determinou que, sob pena de condenação,
todos obedeçam a esses prepostos. No Capítulo 16, de São Marcos, encontramos:
“Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda criatura. Quem crer e for
batizado, será salvo; mas quem não crer será condenado” (Me 16, 15-16). No
capítulo 28, fim do Evangelho de São Mateus, mais este esclarecimento: “Ensinai
a observar tudo quanto vos mandei” (Mt 28, 20: “... e ensinando-os a observar”
etc). — Esta doutrina é reforçada nos capítulos 10 e 18 do mesmo evangelista
(Mt 10, 18, 17-18). E no capítulo 10 de São Lucas, ainda esta passagem: “Quem
vos ouve, a mim ouve; quem vos despreza, a mim despreza; mas quem me despreza,
despreza aquele que me enviou” (Lc 10,16).
Logo, quem por culpa própria cerra os ouvidos aos chefes da Igreja, em matéria de fé e costumes, comete falta grave, pondo em risco a salvação da própria alma. Como já demonstrei, citando copiosas provas, os primeiros chefes da Igreja, — Pedro e os apóstolos, vivem através dos séculos, na pessoa do Sumo Pontífice e dos Bispos.
2.º
— Prova-se com o testemunho dos antigos Santos Padres. Orígenes em sua Homília
3.ª, no comentário sobre Josué: “Ninguém se iluda permanecendo fora de casa,
isto é: fora da Igreja não há salvação”. Como já disse, foi Orígenes quem pela
primeira vez formulou este axioma.
S.
Cipriano em seu livro De unitate Ecclesiae, n.° 6, diz: “Todo aquele que,
separando-se da Igreja, une-se a uma fundação adulterada, separa-se das
promessas da Igreja; nem chegará a conseguir os prêmios do Cristo. Não pode
ter Deus por pai, quem não tem a Igreja por mãe”.
E
Santo Agostinho declara, no Tratado do Batismo, livro 4.°, capítulo 17: “Não há
salvação fora da Igreja. Quem o nega? Por isso tudo quanto se vai buscar fora
da Igreja, não tem valor para a salvação.” — Conclui-se, portanto: o axioma é
verdadeiro. Está provado o corolário.
Um
suplemento a esta importante doutrina. — Todo aquele que, sem culpa alguma,
permanece fora da Igreja, pode salvar-se desde que, pela fé e pela caridade e a
contrição, pertença à alma, já que não pertence ao corpo da Igreja.
O
Santo Padre Pio IX dizia em sua Encíclica de 10 de Agosto de 1863: “Os que
laboram em ignorância invencível da verdadeira religião não são culpados aos
olhos de Deus”. E Tanquerey — “Tratado do Dogma”[1] desenvolvendo o
assunto em apreço, conclui: “Expõem falsamente a doutrina católica os que
afirmam que os não católicos, ainda mesmo que estejam na boa fé, nenhuma
esperança podem ter de salvação”. Fica, entretanto, de pé tudo quanto foi
anteriormente dito. E, de modo particular, repito: Quem está fora da Igreja e
tem dúvidas a respeito da sua religião estude, medite, consulte... Pois se tem
meios de livrar-se da ignorância religiosa, em consciência não se pode
prevalecer da desculpa de ignorância invencível. Então já é culpado diante de
Deus.
Nota:
___________
[1] Obra citada, 4.» edição, “De Ecclesia Christi”, n.» 163.