Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.
A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos,
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927
V- Do concurso do pai, na educação
dos filhos
Os
deveres do pai, para com seu filho são os mesmos que os da mãe. Como a mãe deve
possuir a ciência da educação, e como ela deve pôr ele todos os seus cuidados a
cultivar o espírito e o coração dos entes que lhe devem a vida. Se neste
pequeno livro nos dirigimos unicamente à mulher, é porque as mais das vezes,
preocupado pelos interesses materiais, o pai esquece o que deve à cultura
moral e religiosa dos seus filhos. Entendemos do nosso dever, que o melhor meio
de fazer chegar ate si o conhecimento dos seus deveres, era instruir desses
mesmos deveres a mãe de família.
Deveremos
ao vosso zelo, mulher cristã, o não nos enganarmos na nossa espectativa, porque
não contente por sentirdes vós mesma a soberana importância duma boa educação,
a fareis compreender a vosso marido. O amor que lhe tendes, deve fornecer-vos
meios para empreenderdes essa grande obra, porque se ele se conserva estranho e
pior do que isso, rebelde, atrai sobre a sua cabeça a desgraça de Deus,
tornando a vossa missão mais do que difícil, impossível. «Como falta o coração
e a vida, diz Mgr. Dupanloup, numa educação em que a mãe não toma parte! E
também que hesitações e fraquezas numa educação, de que o pai está muito
ausente!»
É
necessário fazer compreender ao marido esta linguagem comovente: — «Deus
confiou-nos, a ambos nós o dever de elevar para o Céu os frutos da nossa união;
há de pedir-nos contas destes talentos que nos confiou; nós lhe restituiremos
alma por alma, sem deixarmos perder os que Ele cometeu à nossa guarda.» Se o
vosso marido não tiver fé, para aprovar estas considerações, que todavia são
graves e cheias de verdade, fazei-lhe pelo menos compreender que só a educação
cristã é que nos pode fazer felizes neste mundo. Citai-lhe, se ainda reagir, os
exemplos infelizmente numerosíssimos de crianças que uma educação pouco cristã
levou à libertinagem, e daí à desonra, à miséria, e tudo isso apesar da
vergonha e da confusão dos próprios pais negligentes. Mostrai-lhe esses velhos
esmagados pelo desprezo daqueles a quem não ensinaram a respeitar Deus e a
religião, com os deveres que ela impõe.
Se
o vosso esposo concordar com as vossas considerações, abri-lhe os olhos acerca
dos defeitos de vossos filhos, para que por sua mão os possa reprimir, visto
que inspira de ordinário mais respeito que a mãe. Fazei-lhe conhecer os meios
que deve empregar, para preservar a infância do vício, meios que adiante
exporemos, no decurso deste pequeno livro. Não vos esqueçais de lhe mostrar os
perigos que a criança pode encontrar, afim de que ele lhos afaste.
Fazei
mesmo sentir a vosso marido, que contais com os esforços dele, e que sem o seu
auxílio vos considerais impotente, para levar a bom termo uma empresa tão
séria, como é a educação. Por esses meios, (temos disso plena convicção),
decidireis vosso marido a partilhar convosco a missão que vos é comum. Se,
porém, não puderdes conseguir fazê-lo virar para o vosso lado, será isso, sem
dúvida, uma grande desgraça; mas uma desgraça, que, longe de abater a vossa
coragem, deverá, pelo contrário, aumentá-la, e inspirar-vos uma vigilância
tanto mais atenta, e cuidados tanto mais assíduos, para com os vossos filhos,
quanto menos puderdes contar com o concurso de vosso marido.
Santa
Mônica, na educação de seus filhos, não foi nada secundada por Patrício, seu
esposo infiel; e por isso cumpriu ela só com generosidade e perseverança a sua
nobre e penosa missão. Baldadamente o pai é pagão, exclama o biógrafo desta
admirável santa; baldadamente a sogra, os criados, e as criadas parecem
conspirar, para tornarem impossível toda a educação cristã: os três filhos de
Santa Mónica subiram aos altares, como se Deus quizesse mostrar-nos, por seu
intermédio, quanto pode uma verdadeira mãe, mesmo quando se vê só.
A
virtuosa princeza Maria Leezinska desposou Luís XV, que não era digno dela. A
corrupção campeava então infrene na corte de França; e enquanto que o monarca
se entregava a vergonhosas desordens, a impiedade minava surdamente o trono de
S. Luís. A rainha recebeu do Céu, e cumpriu admiravelmente a missão de fazer
florescer a fé e as virtudes cristãs, no meio da impiedade, e do vício
triunfantes. Apesar, porém, de todos os desgostos que Luís XV causou a sua
esposa, nunca a contrariou no seu desejo de educar cristãmente os dez filhos
que ela lhe tinha dado. Cinco desses filhos morreram ainda muito crianças, e os
outros cinco soube Maria Leezinska fazer outros tantos santos. Henriqueta, sua
filha primogênita, não podia ver um infeliz, sem se sentir comovida de
compaixão, e tratar de o socorrer. Tinha apenas cinco anos, quando foi vista,
um dia, privar-se do vestido, para dar a uma pobre rapariga da sua idade, que
tremia de frio. Era um anjo de pureza e de inocência, e na idade de vinte e
quatro anos, voou para o Céu.
Sua irmã Luísa Maria de França era um anjo
também; mas Deus deixou-a por mais tempo na terra, para fazer dela um prodígio
de santidade, e de desprendimento do mundo. Desde a sua infância, que levou no
meio da própria corte a vida penitente duma religiosa, até ao momento em que,
triunfando da oposição de seu pai, pôde realizar o ardente desejo que tinha de
professar no mosteiro das carmelitas de Saint-Denis. As outras filhas de Maria
Leczinska, Adelaide e Vitória de França, apesar de se não encerrarem num claustro,
nem por isso levaram vida menos perfeita, no meio do mundo. Mas de todos os
seus filhos, o herdeiro do trono, foi quem a rainha educou com mais esmero.
Nele conseguiu a rainha fazer o príncipe mais santo, que jamais foi visto na
corte de França, depois de S. Luís. — «Apenas tive um filho, dizia ela, mas
Deus que mo deu, houve por bem formá-lo sábio, benfazejo, virtuoso, tal enfim,
como eu teria apenas ousado esperar.» Mas o século XVIII não era digno dele. O
Delfim, pai de Luís XVI, morreu antes de chegar ao trono, para a grande
desgraça da França, da Europa e da Igreja.
Assim,
graças à rainha Maria Leczinska, viu-se então, sob o mesmo teto das Tuilherias
e de Versailles, toda a solidez da fé, todo o fervor da piedade, toda a
santidade do cristianismo, dos primeiros séculos, ao lado de todos os vícios,
de todas as baixezas, e de todas as impiedades do paganismo, para os tornar
indignos de desculpa, para lhes servir duma espécie de contrapeso. Dum lado era
o crime, do outro, a expiação.