quinta-feira, 29 de agosto de 2013

A Mãe segundo a vontade de Deus - Cuidados espirituais (Do concurso do pai, na educação dos filhos)

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos, 
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927


V- Do concurso do pai, na educação dos filhos

Os deveres do pai, para com seu filho são os mesmos que os da mãe. Como a mãe deve possuir a ciência da educação, e como ela deve pôr ele todos os seus cuidados a cultivar o espírito e o coração dos entes que lhe devem a vida. Se neste pequeno livro nos dirigimos unicamente à mulher, é porque as mais das vezes, preocupado pelos interesses mate­riais, o pai esquece o que deve à cultura moral e religiosa dos seus filhos. Entendemos do nosso dever, que o melhor meio de fazer chegar ate si o conhe­cimento dos seus deveres, era instruir desses mesmos deveres a mãe de família.

Deveremos ao vosso zelo, mulher cristã, o não nos enganarmos na nossa espectativa, porque não contente por sentirdes vós mesma a soberana impor­tância duma boa educação, a fareis compreender a vosso marido. O amor que lhe tendes, deve forne­cer-vos meios para empreenderdes essa grande obra, porque se ele se conserva estranho e pior do que isso, rebelde, atrai sobre a sua cabeça a des­graça de Deus, tornando a vossa missão mais do que difícil, impossível. «Como falta o coração e a vida, diz Mgr. Dupanloup, numa educação em que a mãe não toma parte! E também que hesitações e fraquezas numa educação, de que o pai está muito ausente!»

É necessário fazer compreender ao marido esta linguagem comovente: — «Deus confiou-nos, a ambos nós o dever de elevar para o Céu os frutos da nossa união; há de pedir-nos contas destes talentos que nos confiou; nós lhe restituiremos alma por alma, sem deixarmos perder os que Ele cometeu à nossa guarda.» Se o vosso marido não tiver fé, para apro­var estas considerações, que todavia são graves e cheias de verdade, fazei-lhe pelo menos compreen­der que só a educação cristã é que nos pode fazer felizes neste mundo. Citai-lhe, se ainda reagir, os exemplos infelizmente numerosíssimos de crianças que uma educação pouco cristã levou à libertinagem, e daí à desonra, à miséria, e tudo isso apesar da vergonha e da confusão dos próprios pais negli­gentes. Mostrai-lhe esses velhos esmagados pelo des­prezo daqueles a quem não ensinaram a respeitar Deus e a religião, com os deveres que ela impõe.

Se o vosso esposo concordar com as vossas con­siderações, abri-lhe os olhos acerca dos defeitos de vossos filhos, para que por sua mão os possa re­primir, visto que inspira de ordinário mais respeito que a mãe. Fazei-lhe conhecer os meios que deve empregar, para preservar a infância do vício, meios que adiante exporemos, no decurso deste pequeno livro. Não vos esqueçais de lhe mostrar os perigos que a criança pode encontrar, afim de que ele lhos afaste.

Fazei mesmo sentir a vosso marido, que contais com os esforços dele, e que sem o seu auxílio vos considerais impotente, para levar a bom termo uma empresa tão séria, como é a educação. Por esses meios, (temos disso plena convicção), decidireis vosso marido a partilhar convosco a missão que vos é comum. Se, porém, não puderdes conseguir fazê-lo virar para o vosso lado, será isso, sem dúvida, uma grande desgraça; mas uma desgraça, que, longe de abater a vossa coragem, deverá, pelo contrário, aumentá-la, e inspirar-vos uma vigilância tanto mais atenta, e cuidados tanto mais assíduos, para com os vossos filhos, quanto menos puderdes contar com o concurso de vosso marido.

Santa Mônica, na educação de seus filhos, não foi nada secundada por Patrício, seu esposo infiel; e por isso cumpriu ela só com generosidade e per­severança a sua nobre e penosa missão. Baldadamente o pai é pagão, exclama o biógrafo desta admi­rável santa; baldadamente a sogra, os criados, e as criadas parecem conspirar, para tornarem impossível toda a educação cristã: os três filhos de Santa Mónica subiram aos altares, como se Deus quizesse mostrar-nos, por seu intermédio, quanto pode uma verdadeira mãe, mesmo quando se vê só.

A virtuosa princeza Maria Leezinska desposou Luís XV, que não era digno dela. A corrupção cam­peava então infrene na corte de França; e enquanto que o monarca se entregava a vergonhosas desordens, a impiedade minava surdamente o trono de S. Luís. A rainha recebeu do Céu, e cumpriu admiravel­mente a missão de fazer florescer a fé e as virtudes cristãs, no meio da impiedade, e do vício triunfantes. Apesar, porém, de todos os desgostos que Luís XV causou a sua esposa, nunca a contrariou no seu desejo de educar cristãmente os dez filhos que ela lhe tinha dado. Cinco desses filhos morreram ainda muito crianças, e os outros cinco soube Maria Leezinska fazer outros tantos santos. Henriqueta, sua filha primogênita, não podia ver um infeliz, sem se sentir comovida de compaixão, e tratar de o socor­rer. Tinha apenas cinco anos, quando foi vista, um dia, privar-se do vestido, para dar a uma pobre ra­pariga da sua idade, que tremia de frio. Era um anjo de pureza e de inocência, e na idade de vinte e quatro anos, voou para o Céu. 

Sua irmã Luísa Maria de França era um anjo também; mas Deus deixou-a por mais tempo na terra, para fazer dela um pro­dígio de santidade, e de desprendimento do mundo. Desde a sua infância, que levou no meio da própria corte a vida penitente duma religiosa, até ao mo­mento em que, triunfando da oposição de seu pai, pôde realizar o ardente desejo que tinha de professar no mosteiro das carmelitas de Saint-Denis. As outras filhas de Maria Leczinska, Adelaide e Vitória de França, apesar de se não encerrarem num claus­tro, nem por isso levaram vida menos perfeita, no meio do mundo. Mas de todos os seus filhos, o her­deiro do trono, foi quem a rainha educou com mais esmero. Nele conseguiu a rainha fazer o príncipe mais santo, que jamais foi visto na corte de França, depois de S. Luís. — «Apenas tive um filho, dizia ela, mas Deus que mo deu, houve por bem formá-lo sábio, benfazejo, virtuoso, tal enfim, como eu teria apenas ousado esperar.» Mas o século XVIII não era digno dele. O Delfim, pai de Luís XVI, morreu antes de chegar ao trono, para a grande desgraça da França, da Europa e da Igreja.

Assim, graças à rainha Maria Leczinska, viu-se então, sob o mesmo teto das Tuilherias e de Versailles, toda a solidez da fé, todo o fervor da piedade, toda a santidade do cristianismo, dos primeiros sécu­los, ao lado de todos os vícios, de todas as baixezas, e de todas as impiedades do paganismo, para os tor­nar indignos de desculpa, para lhes servir duma es­pécie de contrapeso. Dum lado era o crime, do outro, a expiação.