A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
CATOLICIDADE
DA IGREJA (c)
28
de Setembro de 1945
Nas
duas palestras passadas focalizei a catolicidade da Igreja de Jesus Cristo.
Hoje veremos a segunda tese: a Igreja Romana e só ela é a verdadeira Igreja
fundada por Jesus Cristo e só ela é realmente “católica”.
Prova-se.
1.° — É católica de direito, isto é, goza da aptidão de se expandir
universalmente, abrangendo todos os povos. Sua doutrina exclui o
individualismo, porque é pregada a todas as classes sociais, sem distinção.
Nenhuma voz se fez sentir com mais energia do que a do Santo Padre Pio XI,
protestando contra o racismo nazista. O mesmo Pontífice fez questão de sagrar
pessoalmente os Bispos negros que foram enviados a reger as igrejas africanas.
— Ao sacerdócio em geral e à plenitude do sacerdócio — o episcopado, são admitidos
candidatos de qualquer raça.
Nada
mais nobre nem mais digno, na igreja, do que a mesa sagrada da Comunhão; e é
onde melhor se vê a igualdade católica — não há distinção de idade, nem de
sexo, nem de cor, nem de posição social.
A
Igreja Romana corresponde a todas as aspirações legítimas da natureza humana.
Aos que vivem no mundo ela orienta com precisão para a vida eterna. Tempera o
orgulho da ciência, com a humildade do mistério. Refreia as paixões que tendem
a arrastar as almas ao abismo. Ensina a verdadeira fraternidade, apresentando a
solução dos mais graves problemas sociais sem desunir as classes. Quer que
todos se amem, por amor a Deus, mas sem prejuízo da hierarquia; pois a ordem,
no sentido filosófico cristão, é a justa disposição dos seres, cada qual em seu
lugar. Por sua constituição, a Igreja repele o nacionalismo, mantendo-se livre
da influência do Estado, embora se acomode a qualquer regime. Estendendo-se a
todos os povos, a Igreja não pode ser brasileira, nem francesa, nem italiana —
mas universal. Seu chefe supremo é um para toda a humanidade, e a Igreja é um
todo que jamais se fragmentará em seitas.
Entretanto
ela ensina a seus filhos o mais puro e acrisolado amor à Pátria. Amando o
Brasil, não deixamos de ser filhos da Igreja universal. Servindo fielmente a
terra em que Deus nos fez nascer, estaremos sempre unidos pela submissão e o
amor ao Santo Padre.
A
Igreja se acomoda a todos os regimes — monárquicos ou republicanos. Mas não
pode deixar de combater com todas as suas forças um regime governamental ateu,
materialista, que repele os princípios cristãos e as verdades eternas.
2.°
— Só a Igreja Romana é católica ou universal de fato. Estende-se a todas as
nações da terra e se difunde por todas as regiões onde existem criaturas
racionais. Todos os dias vai mandando seus missionários aos pagãos, cismáticos,
hereges — e, nos países onde há liberdade de pregar o Evangelho,
multiplicam-se admiràvelmente as conversões e novas cristandades vão surgindo.
No seio da Igreja para todos há lugar. Os pobres e os operários são
evangelizados. Os ricos e poderosos passam pela mesma fonte batismal onde se
purificam os humildes e pequeninos. Inúmeros são os homens de ciência que se
abeiram da sagrada Mesa e recebem a sagrada Comunhão!
É,
pois, com justa razão que amigos e inimigos chamam de “católica” a Igreja
Romana, a nossa Igreja. — Mais ainda. A Igreja Romana é a única que mantém a
mais perfeita unidade de fé, de regime e de culto, com um só chefe, princípio
de toda autoridade, estabelecido pelo mesmo Jesus Cristo. Em matéria de fé e de
costumes, hão de curvar-se perante o Papa todos os católicos.
Esta
unidade é que assegura à nossa Igreja a sua nota de “católica”. E finalmente a
Igreja Romana goza de estabilidade absoluta, segundo a promessa de seu divino
fundador. Sejam, pois, quais forem as perseguições e a força e prestígio dos
perseguidores, — as portas do inferno não prevalecerão contra ela!