A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
24
de Setembro de 1945
A santidade da Igreja (a)
Continuemos
o nosso breve estudo sobre as notas da Igreja que é: uma, santa, católica e
apostólica. Examinemos a segunda — a Igreja santa.
Santidade,
no sentido próprio e absoluto, é atributo só de Deus. Tu solus sanctus, diz a liturgia:
só vós sois santo. As criaturas podem ser santas segundo sua aproximação e
união com Deus. —Tratando-se de pessoas, dizem-se santos os que, conhecendo e
amando o Senhor onipotente, estão em estado de graça, portanto em união com
Deus.
Tratando-se
de coisas, dizem-se santas as que têm alguma relação especial com Deus ou
servem para Lhe dar culto, por exemplo o cálice da Missa, os ornamentos sacros,
os templos, etc.
A
Igreja se diz santa por muitos títulos: em razão do seu Autor, que é o Filho de
Deus e, como tal, é santo por excelência; em razão do seu fim, que é a glória
de Deus; em razão dos meios que emprega para conseguir tal fim, como — a graça,
a fé, os sacramentos.
E
passemos à tese que se enuncia assim: “A verdadeira Igreja deve ser santa nos
seus meios e efeitos, na santidade eminente e sobrenatural.”
Prova-se:
1.°
— Pela Escritura. No capítulo 17 de São João vemos as palavras de Jesus Cristo:
“Por eles eu me santifico a mim mesmo, para que também eles sejam santificados
na verdade” (Jo 17, 19).
E
a belíssima frase de São Paulo no capítulo 5.° de sua epístola aos fiéis de
Éfeso: “Cristo amou a Igreja e por ela se entregou aos algozes, a fim de
santificá-la, purificando-a no lavacro da água e na palavra da vida, para ter
assim uma Igreja gloriosa, sem mancha, nem imperfeições ou coisa semelhante,
uma Igreja santa e imaculada” (Ef 5, 25-27).
Ambos
os textos indicam que Jesus quis que o Seu instituto fosse santo. Por isso os
apóstolos chamavam aos membros das primeiras cristandades — gente santa ou
santos.
2.º
— Prova-se pela Tradição. Os Santos Padres uniformemente ensinaram que a
santidade é nota característica da Igreja. Consulte-se a respeito o texto de
Santo Irineu — “Aos hereges” — livro III, cap. 24 — número 1: “A Igreja é conhecida
por sua autoridade; porque onde está ela. está o Espírito de Deus; e onde está
o Espírito de Deus, está a Igreja e toda a graça”.
3.º
— A santidade de que tratamos deve ser eminente e sobrenatural, excedendo as
forças humanas que o divino fundador pôs à sua disposição: o próprio sangue do
Redentor que se aplica às almas principalmente pelos Sacramentos, e palavra que
convence e leva as almas ao Cristo.
Ninguém
se escandalize, todavia, por haver na Igreja elementos que não sejam santos. Os
meios de santificação e aperfeiçoamento são ótimos adequados ao fim. Mas o
homem é livre em usá-los ou desprezá-los.
No
Evangelho, comparando Jesus o seu Reino, neste mundo, com um banquete nupcial,
disse que a sala se encheu de convivas chamados de toda parte, havendo entre
eles bons e maus (Mt 22,1-14).
Podemos,
pois, concluir desde já: a Igreja é santa.