A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
NECESSIDADE
DE PERTENCER À IGREJA
4
de Outubro de 1945
Em
várias palestras sucessivas eu vos mostrei as notas da verdadeira Igreja: uma,
santa, católica, apostólica. — Do que vimos decorre um corolário: Se na Igreja
Romana, e só e exclusivamente nela, se encontram as notas essenciais à
verdadeira Igreja — todas as criaturas humanas têm o dever imprescindível de
pertencer à Igreja Romana, isto é, à nossa Igreja; daí o axioma: fora da Igreja
não há salvação.
Para
entender esta doutrina, é preciso ter em mente o seguinte: Ninguém se salva se
omite ou despreza o que é de necessidade de meio para a salvação; trata-se,
portanto, de coisas necessárias para a bem-aventurança na vida futura. Outras
coisas são de necessidade de preceito; quem as omite, peca.
Na
Igreja há corpo e alma. Corpo é o elemento visível ou o conjunto dos elementos
que exteriormente formam a sociedade cristã sob o regime dos Bispos e do
Romano Pontífice. — Alma é a entidade invisível, o conjunto dos elementos que
constituem uma sociedade espiritual, unidos pelos vínculos da fé e da caridade.
— Ao corpo da Igreja pertencem todos os que professam exteriormente a doutrina
católica, sob o magistério e regime do Romano Pontífice. Pertencem à alma da
Igreja todos os que têm a fé e a caridade internas, e assim estão em estado de
graça.
Isto
posto, concluamos: 1.° — É necessário por necessidade de meio pertencer à alma
da Igreja. Para tanto basta o estado de graça, pela fé e a caridade como acabei
de dizer. E qualquer adulto, seguindo sinceramente os ditames de sua
consciência, pode conseguir essas disposições com o auxílio de Deus. 2.° — É
também de necessidade de meio pertencer ao corpo da Igreja, pelo menos em
desejo. Quem já conhece o redil do Bom Pastor e quer ingressar nele,
dispondo-se devidamente, preparando-se para o grande passo, está neste caso.
Quem não conhece a Igreja e portanto não pode desejá-la, mas tem contrição
perfeita e amor a Deus, pode ser incluído entre os que desejam fazer parte da
Igreja. Porque quem ama sinceramente a Deus está sempre disposto a obedecer-
lhe, de modo particular no que concerne à própria salvação. 3.° — Quem, sem
culpa nenhuma, não pertence ao corpo da Igreja, pode salvar-se. É o caso dos
que ignoram que ela seja verdadeira, a única fundada por Jesus Cristo,
encadeada por uma série ininterrupta de Bispos e Papas até os apóstolos e
Pedro. — Na dúvida, deve o homem procurar esclarecer-se, lendo, estudando,
ouvindo, consultando.
Um
protestante que sinceramente se julga com a verdade, um espírita nas mesmas
condições — salvam-se, cumprindo os deveres que lhes aponta a consciência.
Militam
em favor destes católicos duas coisas: a ignorância invencível e a
impossibilidade absoluta. Entretanto é bom frisar: exige-se a sinceridade em
assunto de tanta relevância, como a salvação da própria alma.
Quem
se conserva fora da Igreja por comodismo, por interesse, por orgulho, por
espírito de vingança, por diletantismo, ou para não desagradar parentes ou
amigos... — todos estes estão num caminho perigoso, cujo termo pode ser fatal.
Veremos
amanhã as provas do axioma: Fora da Igreja não há salvação.