quinta-feira, 15 de agosto de 2013

A Mãe segundo a vontade de Deus - Cuidados espirituais (O Batismo)

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos, 
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927


II- O batismo

Segundo o testemunho de S. Francisco de Sales, Santa Mônica, durante a sua gravidez, oferecia a Deus cem vezes por dia, seu filho Santo Agosti­nho.— Depois que aprouve ao Céu fecundar o seu casamento, M.rae de Boisy, mãe de S. Francisco de Sales, gostava de ir muitas vezes, perante os alta­res, dar expansão à sua alma reconhecida. 

— M.me Acarie consagrou os seus filhos a Deus, antes mesmo de nascerem, e sua segunda filha declarou que devia a essa consagração, que tinha precedido o seu nas­cimento, a inclinação que sentiu para a vida religiosa, desde a sua primeira infância. Durante o período da gravidez, a mãe de S. Bernardo aproximava-se fre­qüentemente da sagrada mesa afim de que Jesus Cristo, descendo muitas vezes para ela aí colocasse um gérmen de salvação, para a criança que havia de vir ao mundo. Devemos dizer, de passagem, que se uma mulher previsse que, sendo mãe, corria perigo de morte, seria obrigada, sob pena de pecado mortal a confessar-se de todas as faltas cometidas, e tam­bém a comungar. Além disso, toda a mãe que tem fé, esforça-se por meio da oração, pela freqüência dos sacramentos, e por uma vida santa, a atrair sobre o fruto, que traz no seio, a graça do batismo, sem cuja recepção o Céu está fechado às nossas almas.

Todos nós nascemos efetivamente, manchados pelo pecado original, privados da amizade de Deus, e indignos de O possuir na glória; é um ponto in­contestável da nossa fé. Para lavar em nós a man­cha impressa pela desobediência de Adão, para adquirir a vida da graça, e o direito à posse de Deus, é absolutamente necessário o batismo. Ninguém — diz a Verdade eterna — pode entrar no reino de Deus, se não for regenerado pela água do batismo, e pela virtude do Espírito Santo.

Por isso, mal a criança vê a luz do dia, afim de não lho fazer perder a salvação eterna, demo­rando-lhe um sacramento tão necessário, a mulher cristã trata de levar o mais cedo possível o seu filho ao templo do Senhor. Longe de imitar essas mães negligentes, que sob diversos pretextos, dei­xam muitos dias os seus filhos recém-nascidos, sob o império do demônio, a mãe cristã anceia por ver tornar-se filho de Deus, o ente que não poderá acariciar com felicidade, senão quando estiver re­vestido da inocência batismal [1].

No dia do batismo, escolhe-se para a criança um protetor no Céu, cujo nome ela usará, e na terra um padrinho e uma madrinha. A mulher que em tudo se deixa guiar pela sua fé, não recorre ao calendário nem à mitologia, para aí procurar um nome distinto ou extraordinário; não consulta senão o seu coração, e dá por protetor ao seu recém-nascido um santo, por quem tonha uma especial devoção, devoção que fará passar mais tarde para o coração de seu filho. Não se envergonha dos grandes nomes dos santos apóstolos, que o mundo julga terem envelhecido. Há em algumas terras o feliz costume de dar às crianças o nome de Maria e de José; e, na mesma família, muitas filhas têm o nome de Maria, que se ajunta também ao dos rapazes, de sorte que os Antônios-Maria, e os Josés-Maria não são raros. — Ó Virgem, protetora de todos nós, sem dúvida que protegeis duma forma especial os que têm o vosso nome, tão meigo e tão poderoso contra o inferno.

Para padrinho e para madrinha convém esco­lher pessoas que possam, caso a criança venha a ser privada dos pais, cumprir a seu respeito todos os deveres dos próprios pais, isto é, que sejam ca­pazes de os instruir nas verdades da religião, e nos deveres do cristão, de vigiar pela sua inocência, de os levantar quando eles caírem, e de lhes dar bons exemplos. Não são motivos sobrenaturais, mas apenas o interesse ou a vaidade que inspiram a certas mu­lheres o pensamento de chamarem como padrinhos ou como madrinhas, para o batismo de seus filhos, cristãos, que do cristianismo apenas têm o nome, e que são incapazes de cumprir as obrigações que contraem.

No dia do nascimento, é grande a alegria da mãe; mas no dia do batismo é completa a sua fe­licidade. Quando, no regresso do santo templo, lhe entregam o seu filho batizado, com que transpor­tes não aperta ela contra o coração o seu pequeno anjo, esse santuário do Espírito Santo, esse mem­bro vivo de Jesus Cristo! Com que santa alegria não cobre de beijos essa fronte, ainda úmida da água regeneradora! Convida todos os seus a asso­ciar-se à sua alegria, e todos se sentem santamente orgulhosos, de ver que um dos membros da sua família se tornou o filho adotivo do Rei do Céu.

Todavia a alegria deste dia deve ser santa, como a causa que a produz. Nunca misturem às festas do batismo os regozijos mundanos. Num dia em que, em nome da criança, se renunciou ao demô­nio e se abjurou o mundo com todas as suas pom­pas, como é que se ousará militar sob o estan­darte de Santanás, entregando-se a divertimentos que ofendem o pudor? Permitiria uma mãe, se­gundo a vontade de Deus, que, no momento em que Jesus Cristo acaba de lavar no Seu sangue a nódoa original que manchava a alma do seu recém­-nascido, e na própria ocasião desse grande benefício do Céu, que almas cristãs se cobrissem das manchas da intemperança e do vício? Seria uma desordem que poderia talvez atrair a ira do Senhor, sobre a criança que acaba de nascer. Longe, pois de tolerar um semelhante abuso, uma piedosa mãe não convidará senão algumas pessoas, cuja gravidade lhe seja conhecida, para assistir à festa do batizado. Pelo menos nunca consentirá em sua casa essas reuniões de jovens de ambos os sexos, como se cos­tuma fazer em algumas localidades. Será menos ruidosa a alegria, mas será mais suave. 

Deus nada encontrará digno de castigo, e as despesas serão menores, o que permitirá que se façam algumas esmolas. Foi assim que no dia do batismo de S. Francisco de Sales, seu pai, o senhor de Boísy, distribuiu abundantes esmolas, no seio dos pobres. Depois do parto, deve a mulher cristã ir à igreja agradecer a Deus o mais breve possível; até seria mui louvável, se nos afizéssemos ao costume de ser a própria mãe que levasse seu filho para o apresentar ao Senhor. Depois de cada parto, Santa Isabel, rainha da Hungria, tomando o filho nos braços, saía secretamente do paço, vestida mui sim­plesmente, e descalça, dirigia-se para uma igreja afastada. O caminho era longo e mau, porque era cheio de pedras agudas, que despedaçavam e ensan­guentavam seus pés delicados. Ela mesma levava o menino, durante o trajeto, como tinha feito a Virgem Imaculada, e chegando à igreja, depunha-o sobre o altar com um círio e um cordeiro, dizendo: Senhor Jesus Cristo, eu Vos ofereço, como a Vossa santíssima Mãe, o fruto querido do meu seio. Aqui, pois, meu Deus e meu Senhor, vo-lo entrego de todo o meu coração. Fostes Vós que mo destes, Vós que sois o Soberano e Pai amantíssimo da mãe e do filho, o único pedido que hoje Vos faço, e a única graça que ouso pedir-Vos, é que vos digneis receber esta criancinha, banhada pelas minhas lágri­mas, no número dos Vossos servos e dos Vossos amigos, e dar-lhe a Vossa santa benção.[2]

Notas:
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[1] A mulher, que, em conseqüência dalgum desastre imprevisto, dá à luz o seu fruto, logo depois da conceição, tornar-se-ia gravemente culpada perante Deus, se por sua causa privasse esse pequeno ser da graça do batismo. À ignorância dessa obrigação tem fechado o Céu a bastantes al­mas, a quem se negou a felicidade de ver a Deus... Não expomos aqui detalhadamente a forma de administrar o batis­mo nos casos de que se trata, porque o confessor melhor do que nós o poderá fazer. E se a mulher morresse antes de dar o filho à luz, deveria tomar, todas as precauções, para o batismo de seu filho, porque a criança nem sempre morre com a mãe.

[2] M. de Montalembert.