terça-feira, 13 de agosto de 2013

CATOLICIDADE DA IGREJA (b)

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946

CATOLICIDADE DA IGREJA (b)
27 de Setembro de 1945

Vimos ontem a catolicidade da Igreja fundada por Jesus Cristo, através do Antigo e do Novo Testamento, e o ensino dos antigos Santos Padres, e em face da finalidade para a qual foi a mesma fundada por Jesus Cristo.

Continuemos a demonstração da nossa tese.

Segundo a tradição que se entrelaça nos tem­pos mais remotos, a catolicidade sempre foi con­siderada nota distintiva da verdadeira Igreja; tan­to mais que não há nenhuma seita universal.

Há uma frase histórica que se encontra na carta de São Paciano a Sinforiano (parágrafo 4.°) — “Christianus, mihi nomen; catholicus, cognomen; illud me nuncupat, istud ostendit; hoc probor, inde significor.” — “Cristão é meu nome; ca­tólico, meu sobrenome; aquele me identifica, este me revela; por um, provo quem sou; pelo outro, indico minhas intenções.”

Temos ainda a frase célebre de Santo Agos­tinho em sua carta a Petiliano: “Todo mundo conhece a verdadeira Igreja... o partido de Donato é ignorado de muita gente; logo não é a verdadeira Igreja”.

Além da tradição, milita em favor da nossa tese a razão. 1.° — Se Jesus Cristo veio ao mundo ensinar a verdadeira Religião, deveria proporcio­ná-la a todos os seres humanos; assim a verdadeira Religião deveria brilhar, como o astro do dia, iluminando o mundo, para que a humanidade ti­vesse ao seu alcance a salvação pelo Cristo. Mas esse resultado só se conseguiria por uma Igreja Católica, isto é — universal. 2.° — Deus quer que todos os homens se salvem. Impõe-lhes, todavia, uma condição: pertencer ao Seu rebanho. Ora, se­ria flagrante injustiça impor uma obrigação sem dar os meios indispensáveis para cumpri-la. Logo, a verdadeira Igreja não pode deixar de ser universal.

Vejamos agora a compreensão do termo - católica. — A catolicidade atribuída à verdadeira Igreja é moral e não física. As palavras da Escri­tura, sobre o nosso caso, não devem ser tomadas no sentido estrito, como se todos os povos, abso­lutamente todos, devessem ouvir o Evangelho; mas, segundo o falar e o entender gerais, é suficiente que os povos principais e entre eles notável mul­tidão de homens tenham recebido a catequese.

São Paulo, referindo-se à pregação da palavra de Deus, afirma que ela crescia e frutificava no mundo universo. Além disto a catolicidade exis­tente é progressiva, de sorte que a evangelização trabalho de anos e ate de séculos... é trabalhando que se prolongará até ao fim dos tempos.

Jesus Cristo determinou que os apóstolos en­sinassem a todos os povos; e em outro lugar — ambos já citados, — disse: “Eu tenho outras ove­lhas que não pertencem a este redil; é preciso trazê-las e que elas ouçam a minha voz e assim haja um só rebanho e um só Pastor”. O Mestre não pode enganar-se nem enganar-nos. É forçoso, pois, admitir a catolicidade moral como suficiente para que possamos afirmar — creio na Santa Igreja Católica.

O desenvolvimento e o progresso das Missões católicas é um fato importante que reforça as provas da nossa tese.

A catolicidade da Igreja deve ser formal isto é, sempre ligada à unidade, nota que já foi estu­dada. Santo Irineu, falando sobre este assunto, diz: “Assim como o sol, criatura de Deus, em todo o universo é um e o mesmo, assim também a pre­gação da verdade brilha e ilumina todos os ho­mens que querem chegar ao seu conhecimento”.[1]

São Cipriano escreveu um livro dedicado ex­clusivamente ao estudo da unidade da Igreja; e emprega a mesma comparação, da unidade com o sol, afirmando que a verdadeira Igreja, uma e universal, não pode ser fragmentada em seitas.[2]

Notas:
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[1] Contra os hereges - Livro I, c. 10, n.º 2.

[1] De unitate Ecclesiae, c. 5.