A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
CATOLICIDADE
DA IGREJA (b)
27
de Setembro de 1945
Vimos
ontem a catolicidade da Igreja fundada por Jesus Cristo, através do Antigo e do
Novo Testamento, e o ensino dos antigos Santos Padres, e em face da finalidade
para a qual foi a mesma fundada por Jesus Cristo.
Continuemos
a demonstração da nossa tese.
Segundo
a tradição que se entrelaça nos tempos mais remotos, a catolicidade sempre foi
considerada nota distintiva da verdadeira Igreja; tanto mais que não há
nenhuma seita universal.
Há
uma frase histórica que se encontra na carta de São Paciano a Sinforiano
(parágrafo 4.°) — “Christianus, mihi nomen; catholicus, cognomen; illud me nuncupat,
istud ostendit; hoc probor, inde significor.” — “Cristão é meu nome; católico,
meu sobrenome; aquele me identifica, este me revela; por um, provo quem sou;
pelo outro, indico minhas intenções.”
Temos
ainda a frase célebre de Santo Agostinho em sua carta a Petiliano: “Todo mundo
conhece a verdadeira Igreja... o partido de Donato é ignorado de muita gente;
logo não é a verdadeira Igreja”.
Além
da tradição, milita em favor da nossa tese a razão. 1.° — Se Jesus Cristo veio
ao mundo ensinar a verdadeira Religião, deveria proporcioná-la a todos os
seres humanos; assim a verdadeira Religião deveria brilhar, como o astro do
dia, iluminando o mundo, para que a humanidade tivesse ao seu alcance a
salvação pelo Cristo. Mas esse resultado só se conseguiria por uma Igreja
Católica, isto é — universal. 2.° — Deus quer que todos os homens se salvem.
Impõe-lhes, todavia, uma condição: pertencer ao Seu rebanho. Ora, seria
flagrante injustiça impor uma obrigação sem dar os meios indispensáveis para
cumpri-la. Logo, a verdadeira Igreja não pode deixar de ser universal.
Vejamos
agora a compreensão do termo - católica. — A catolicidade atribuída à
verdadeira Igreja é moral e não física. As palavras da Escritura, sobre o
nosso caso, não devem ser tomadas no sentido estrito, como se todos os povos,
absolutamente todos, devessem ouvir o Evangelho; mas, segundo o falar e o
entender gerais, é suficiente que os povos principais e entre eles notável multidão
de homens tenham recebido a catequese.
São
Paulo, referindo-se à pregação da palavra de Deus, afirma que ela crescia e
frutificava no mundo universo. Além disto a catolicidade existente é
progressiva, de sorte que a evangelização trabalho de anos e ate de séculos...
é trabalhando que se prolongará até ao fim dos tempos.
Jesus
Cristo determinou que os apóstolos ensinassem a todos os povos; e em outro
lugar — ambos já citados, — disse: “Eu tenho outras ovelhas que não pertencem
a este redil; é preciso trazê-las e que elas ouçam a minha voz e assim haja um
só rebanho e um só Pastor”. O Mestre não pode enganar-se nem enganar-nos. É
forçoso, pois, admitir a catolicidade moral como suficiente para que possamos
afirmar — creio na Santa Igreja Católica.
O
desenvolvimento e o progresso das Missões católicas é um fato importante que
reforça as provas da nossa tese.
A
catolicidade da Igreja deve ser formal isto é, sempre ligada à unidade, nota
que já foi estudada. Santo Irineu, falando sobre este assunto, diz: “Assim
como o sol, criatura de Deus, em todo o universo é um e o mesmo, assim também a
pregação da verdade brilha e ilumina todos os homens que querem chegar ao seu
conhecimento”.[1]
São
Cipriano escreveu um livro dedicado exclusivamente ao estudo da unidade da
Igreja; e emprega a mesma comparação, da unidade com o sol, afirmando que a
verdadeira Igreja, uma e universal, não pode ser fragmentada em seitas.[2]
Notas:
______________
[1] Contra os hereges - Livro I, c. 10, n.º 2.
[1] De unitate Ecclesiae, c. 5.