A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
APOSTOLICIDADE
DA IGREJA (b)
2
de Outubro de 1945
Continuando
a estudar a nota “apostólica”, podemos formular a seguinte tese: “A Igreja
Romana, e só ela, é apostólica pela apostolicidade da sua missão.”
A
Igreja Romana é apostólica. Prova-se: Ela foi fundada por Jesus Cristo sobre a
pedra angular, Céfas, Simão Pedro, o pescador do lago de Genesaré,
transformado pelo Mestre em “pescador de homens”. Simão foi feito chefe da
fundação e do colégio apostólico, constituído de onze membros. Foram, pois,
doze colunas do templo vivo do Senhor. Em torno desses apóstolos girou todo o
movimento da igreja nascente e sob sua direção se desenvolveram as primitivas
cristandades. A seiva que alimentou essa divina planta foi o sangue do
Redentor. Secundaram-no os fiéis discípulos, acrescentando ao sangue do Mestre
o próprio sangue!
Nos
primeiros albores do Cristianismo, dá-se a conversão daquele célebre fariseu
perseguidor da Igreja — Saulo. No caminho de Damasco, Jesus toca e transforma o
coração do inimigo que, dócil, já se submete aos imperativos da graça e, anos
mais tarde, é Paulo, o apóstolo e evangelizador dos gentios (At 9, 1 e segs).
Roma guarda, com o mais ardente zelo, os corpos de São Pedro e São Paulo — os
dois baluartes da obra do Cristo Salvador.
Ao
primeiro Chefe da Igreja e aos primeiros Bispos, sucederam ininterruptamente os
Papas e os Bispos que têm governado a Igreja espalhada por todas as regiões da
terra. Esta afirmação se baseia em documentos históricos irrefutáveis. Já vos
apresentei provas interessantes deste fato quando estudamos o Primado do Romano
Pontífice[1].
Vejamos
mais alguma coisa, para consolidar a vossa fé. — Tertuliano, em o número 36 das
“Prescrições”, diz: “Se estás vizinho da Itália, ali está Roma, onde temos
sempre à mão uma autoridade. Ditosa Igreja, na qual os apóstolos, com o seu
sangue, derramaram e difundiram a verdadeira doutrina”.
Em
o número 32, trata do mesmo assunto, afirmando que a sucessão dos Papas não
foi jamais interrompida, desde São Pedro até aos dias em que ele falava aos
seus ouvintes.
Santo
Agostinho, escrevendo contra os maniqueus, capítulo 4.°, número 5, diz:
“Mantém-se na Igreja, até ao presente, a sucessão do Episcopado e do
Sacerdócio, ligada à cátedra de Pedro, a quem o Senhor recomendou o pastoreio
de suas ovelhas”.
Nós
temos no Liber Pontificalis, um cuidadoso catálogo em que estão enumerados os
nomes de todos os Papas que tem ocupado a Sede Apostólica, desde Pedro até Pio
XII, com o tempo do reinado de cada um, sem solução de continuidade.
Houve
algumas vezes cismáticos que pretenderam usurpar a cadeira de Pedro, como Novaciano,
no século 3.°. Mas foram sempre energicamente repelidos. Do mesmo modo, por
ocasião do cisma ocidental, houve dúvida sobre qual dos dois Papas seria o
legítimo sucessor de Pedro. O Concílio de Constança restabeleceu a verdade,
sem que se interrompesse a cadeia dos venerandos timoneiros da barca da
Igreja. Demais, se um dos dois era o verdadeiro Papa, não houve solução de continuidade,
como é evidente.
Só
a Igreja Romana é apostólica pela apostolicidade da missão. Prova-se: A
instituição do Cristo é um corpo, que consta de cabeça e membros organizados.
Pedro é a cabeça. Os apóstolos e os discípulos, os membros. Os Papas sucedem a
Pedro; os Bispos e os Sacerdotes continuam através dos séculos a missão da
Igreja primitiva. Ora, não há no mundo, em época nenhuma da história, instituição
semelhante à nossa Igreja. Logo, só e exclusivamente à Igreja Romana compete
esta nota: apostólica.
Nota:
____________
[1] Ver “O Decálogo” já citado.