A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
APOSTOLICIDADE DA IGREJA (a)
1.°
de Outubro de 1945
Concluindo
nosso estudo sobre as notas da Igreja, veremos hoje: a apostolicidade.
Apostólica.
Esta nota significa que a Igreja tira a sua origem dos apóstolos.
Há
três espécies de apostolicidade: de doutrina — é apostólica a Igreja que
ensina a mesma doutrina dos apóstolos. Apostolicidade de missão ou de
autoridade — quer dizer que os que têm na Igreja alguma missão ou exercem
alguma autoridade, receberam-nas dos apóstolos, por uma série legítima e não
interrompida de pastores. É apostólica quanto à sociedade — a Igreja que hoje
apresenta as mesmas características essenciais da sociedade fundada pelo Cristo
sobre os apóstolos.
É
evidente que haverá apostolicidade de sociedade se ficar provada a
apostolicidade da missão e da doutrina. Assim também é forçoso aceitar a
apostolicidade da doutrina, se ficar provada a Missão apostólica. Porquanto só
os enviados de Jesus Cristo, os que receberam a missão de ensinar, podem
transmitir a verdadeira doutrina, como caudais que derivam da mesma fonte de água
cristalina e pura.
Posso
ilustrar esta demonstração com as palavras de Santo Irineu, que é dos
primeiros séculos do Cristianismo, “Contra os hereges”, livro 4.º, cap. 26:
“Os que pertencem à Igreja devem atender aos presbíteros que se vêm sucedendo
desde os apóstolos, como já demonstramos, e que, com a sucessão do episcopado,
receberam o carisma certo da verdade, por vontade do Pai. Os que, todavia, se
desligam desta sucessão, venham donde vierem, devem ser considerados como
suspeitos”.
Vejamos,
pois, a apostolicidade da missão. Afirma-se: Na verdadeira Igreja de Jesus Cristo
deve encontrar-se a apostolicidade da missão, isto é, devem encontrar-se
pastores dotados do poder de ensinar e de reger, derivado dos apóstolos. —
Prova-se: 1.° pelas palavras de Jesus Cristo: “Assim como o Pai me enviou, eu
vos envio” (Jo 20, 21). “Ide, portanto, e ensinai a todos os povos...” (Mt 28,
19-20), “e eis que eu estarei convosco, todos os dias, até à consumação dos
séculos”. E São Paulo, no capítulo 10.° de sua epístola aos romanos, diz
textualmente: “Como invocarão aquele em quem não crêem? como crerão naquele de
quem não ouvirem? como ouvirão sem haver quem pregue? e como pregarão se não
forem mandados?” (Rom 10, 14-15). Logo, ninguém pode pregar o evangelho sem ter
recebido esse poder dos apóstolos, direta ou indiretamente, sendo que esses
mesmos apóstolos foram, por sua vez, mandados pelo Cristo. 2.° prova-se pela
praxe constante seguida pelos apóstolos que, quando fundavam um núcleo de
cristãos deixavam ali Bispos e Presbíteros aos quais conferiam o poder de
ensinar e governar, poder que era transmitido aos outros que devessem
auxiliá-los ou sucedê-los.
Aqui
tendes mais um precioso documento em o número 32 das Prescrições de Tertuliano,
referindo-se aos hereges: “Publiquem as origens de suas igrejas, enumerem a
ordem dos Bispos de modo que se veja a sua sucessão ininterrupta e o seu
primeiro Bispo tenha sido sucessor de algum apóstolo, ou varão apostólico que
tenha perseverado em união com os apóstolos”.
Continuaremos
amanhã.