A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946
Igreja
Única
14
de Setembro de 1945
Depois das teses e dos corolários
pelos quais vimos que Jesus Cristo fundou uma Igreja e que esta Igreja se
conserva em plena atividade até hoje e se conservará até à consumação dos
séculos veremos agora a conclusão: só a Igreja Romana é verdadeira Igreja de
Cristo.
Sob o nome de Igreja Romana — designa-se
não a diocese ou a província eclesiástica de Roma, mas a sociedade cristã que
reconhece a autoridade do Pontífice Romano.
Argumentemos, pois. — Verdadeira
Igreja de Cristo será a que reunir as seguintes prerrogativas: hierarquia — isto
é, que tenha Bispos, pastores regendo frações determinadas do rebanho universal
— como o foram os apóstolos, dos quais os mesmos Bispos são sucessores. Estes,
por sua vez, sujeitos ao Papa, como os apóstolos foram sujeitos a Pedro; e os
mesmos Papas são sucessores de Pedro. — Deve ter a autoridade infalível ensinar
e o poder supremo de governar. Há de se visível, indefectível, completa. Pois
esta é a Igreja que Jesus Cristo fundou. — E só a Igreja Romana satisfaz todas
estas condições. Logo, é a única verdadeira.
Vejamos. É uma sociedade
propriamente dita, pois os seus membros tendem para um mesmo fim, pelos mesmos
meios e sob a orientação do mesmo Chefe. A reunião desses membros é permanente.
As gerações passadas legaram a tradição da fé às gerações presentes... estas
conservarão este depósito sagrado, transmitindo-o aos que hão de vir. O fim por
todos colimado é a felicidade na outra vida. Para isso a Igreja ensina a seus
fiéis a lei de Deus, traça-lhes normas para uma vida mais perfeita, secunda o
preceito da oração dado pelo Cristo, continua pregando o Evangelho que, no
princípio, foi anunciado pelos enviados do divino Mestre. — A vida da Igreja é
fomentada pelos sacramentos, de modo especial a Eucaristia. Introduzido no
redil bendito pelo Batismo, o homem, integrado na grande sociedade católica,
começa a viver a sua vida e terá sempre o seu amparo, até ao último suspiro.
A união de toda a Igreja com o
Pontífice Romano é inteira, total, absoluta. Os Bispos são eleitos Pela Papa,
que lhes designa a respectiva Diocese. Isto sempre se observou. É regra que
jamais teve exceção. Nomeados pelo Pontífice Romano e prestando-lhe
incondicional submissão e obediência, os bispos formam um todo homogêneo,
mantendo, como colunas do Santuário de Deus, a verdadeira harmonia na estrutura
espiritual estabelecida pelo Cristo. —- A hierarquia se mantém na Igreja garantindo
sua força vital. — À frente de cada Diocese, um Bispo. A este ligam-se os párocos
que pastoreiam o rebanho constituído por cada paróquia. Só na Igreja Romana se
encontra esta perfeição da hierarquia.
A nossa Igreja é visível. Esta
qualidade é de evidência de luz meridiana.
Quanto à sua indefectibilidade,
atestam-na os historiadores de todos os tempos. Entre a sociedade que Jesus
instituiu sobre a célebre pedra angular de que nos fala o Evangelho — e a
Igreja atual, não houve jamais solução de continuidade. Papas e Bispos,
começando em Pedro e nos apóstolos, vêm-se sucedendo ininterruptamente.
A independência entre a Igreja e a
sociedade civil é notável. Vemo-la desde o início do Cristianismo. “Dai a César
o que é de César e a Deus o que é de Deus”. E no decorrer dos tempos inúmeras
vezes tem surgido a célebre questão: Igreja e Estado. Onde estes dois poderes
estão unidos, a Igreja vive; onde estão separados, a Igreja vive; onde o Estado
persegue a Igreja, esta vive e sofre; e, passada a tormenta, ainda se mostra
mais pujante e mais forte.
Não há nenhuma sociedade religiosa
que preencha todas estas condições como provam a história, a experiência e o
mais sucinto exame da matéria. Logo — a única Igreja verdadeira é a Igreja católica,
Apostólica Romana.