sexta-feira, 17 de maio de 2013

Vigilância maternal

Fonte: Mãe Cristã


                Não há exortação mais repetida no Evangelho do que esta: Vigilate, orate. “Vigiai e orai!” Estas duas palavras resumem todas as regras da sabedoria cristã e tendem a evitar-nos as surpresas da morte. “Estai atentos – diz Jesus Cristo – pois não sabeis nem o dia nem a hora”. Vigiai sobre vós mesmos afim de que a morte não chegue no momento em que menos a esperardes: Ei-la a bater à vossa porta! “Insensatos, de que vos servirá conquistar o mundo inteiro, se perdeis vossa alma! O sol se porá ao meio dia – continua o profeta – e a terra se cobrirá de trevas na hora da luz” (Amós VIII).

                Quer isto dizer que, quando o homem se julgar em plena posse da vida, quando sonhar fortuna, gloria e prazeres, quando supuser, enfim, que nada mais lhe resta fazer, senão gozar, repousar e amontoar tesouros verá ele desabar com horrendo estrondo, inesperadamente, todo esse frágil edifício. Que pavoroso trovão num céu sem nuvens! Que irremediável decepção para o insensato que tudo havia previsto, exceto esta terrível catástrofe!

                Pelo seu lado, a Igreja não cessa de repetir, com as palavras do Evangelho, as advertências do príncipe dos apóstolos: “Sêde vigilantes e circunspectos, porque o vosso maior adversário, satã, vos rodeia a bramir, procurando perder-vos”.

                A vigilância cristã é uma consciência atenta; é a circunspecção da alma previdente; é a lâmpada que alumia os nossos passos e a sentinela que se posta à entrada do coração. O serviço é observar tudo o que entra e sai. Ela afasta as impressões perigosas, impede os atos de presunção e soberba, evita as ciladas, foge às ocasiões de pecar, repele os impulsos tentadores, resiste ao inimigo infernal e protege todas as virtudes.

                A vigilância é a companheira da prece; exercendo-se juntamente, mutuamente se ajudam e não se pode contar com uma, quando a outra a não acompanha.
                A prece e a vigilância não se aplicam somente à vida intima da alma; devem ambas estender a sua ação sobre todas as forças e funções da alma e dominar todos os sentidos.

                E isto, para uma mãe, ainda não é suficiente, pois não lhe basta velar sobre si mesma: cumpre-lhe velar sobre seus filhos e sobre a sua família e, semelhante à estrela da manhã, esclarecer com o doce olhar todo o firmamento da sua esfera de atividade. Eis ai o seu grande dever, apreciado sempre, e tantas vezes negligenciado.

                Atualmente, exalta-se a mulher, poetiza-se a sua missão, querem-se mulheres livres e artistas sábias e ilustres: não se trata, porém, da mulher cristã, esquecendo-se assim a condição principal que protege e salvaguarda a família.

                A vigilância maternal se deve exercer no lar doméstico, dirigindo-se a todas as perspectivas do presente e do futuro; mas o serviço que mais imperiosamente reclama essa vigilância é o da educação. E aí, contudo, quanta negligencia e quantos abusos, que são a causa mais ordinária dos desgostos que sofremos com os desregramentos e desvios dos entes que amamos mais!

                Seguramente, queremos que os nossos filhos sejam cristãos, isto é, filhos de Deus e herdeiros do céu, mas, ao inverso dos meios que poderiam conduzi-los a este destino glorioso, educamo-los como se só tivessem sido criados para a vida presente; e os cuidados que lhes prodigalizamos são mais para os fixar sobre a terra, do que para os elevar um dia ao céu. Fascinados por uma inconsiderada ambição, mais cogitamos nas vantagens de uma existência fugitiva, do que nos bens imortais e nos dons do Espírito de Deus. Desejamos que, desde a mais tenra idade, os filhos se tornem pequenos prodígios para que os triunfos do seu precoce talento projete sobre nós um reflexo de glória. Vaidade impensada que ordinariamente sofre decepções cruéis. A vigilância cristã saberia preservar as famílias de tão frequentes desgraças.

                O assunto é grave! Assinalaremos, sem os atenuar, alguns dos mais vulgares abusos. Há mães, aliás ternas e dedicadas que, menosprezando os mais sublimes conselhos da prudência, confiam seus filhos a pessoas de costumes duvidosos ou a educadores que vivem fora dos princípios da fé. Prescindem elas do menor escrúpulo em tal caso, sob o pretexto de que os filhos, pela sua pouca idade, estão ainda isentos de sofrer influencias perniciosas; mas esquecem que as impressões recebidas na meninice são vivas e duradouras e que muitas vezes se conservam na alma, durante todo o curso de uma longa vida, germens que nos primeiros anos a envenenaram.

                Se vos censurarmos por levardes os filhos ao teatro, replicareis dizendo que São Francisco de Sales tolerava esse passatempo.

                Pois bem, mais se seguísseis com a mesma docilidade os conselhos de São Francisco de Sales, o perigo seria talvez menos para temer-se. O nosso grande santo não quis de certo proibir essa espécie de distração à idade madura, mas duvidamos que a tivesse permitido aos adolescentes. Demais, é bom considerar que naquele tempo o teatro não era o que hoje é. Os próprios títulos das atuais obras dramáticas, só por si, indicam a degradação do bom gosto e a deplorável decadência dos costumes públicos. E como se poderão educar jovens almas embotadas nesses monstruosos espetáculos que superexcitam a imaginação, ferem o pudor e destroem o senso moral? As crianças que vão a teatros meditam as cenas a que assistem e procuram imitá-las. A inocência ai recebe fundos golpes quase sempre e sobeja maus exemplos para perverter lastimavelmente os tenros filhos com grande magoa para os pais que lhes permitem semelhantes distrações. Mas quem semeia ventos, colhe tempestades... outro abuso é o dos bailes infantis, que se consideram uma diversão muito inocente, mas que nos parece das mais perniciosas, por ser uma triste iniciação da criança nos tumultos da vida. Estes divertimentos precoces, a que as próprias mães conduzem os filhos, foram inventados para a perda das almas. Neles é que a vaidade começa a germinar com todos os seus espinhos e que se contraem as inclinações, os atratativos e gostos que mais tarde hão de explodir, quiçá em paixões, ciúmes e cóleras.

Ouvimos já dizer algumas jovens almas: Eu gostava do trabalho e da oração e era feliz; mas, depois daquele baile, não pude mais trabalhar nem rezar e sou muito desgraçada.

       Há certos brinquedos infantis que consistem em vestir e enfeitar bonecas e em que as meninas aprendem a ensaiar as diferentes modas de vestuários e adornos e as várias combinações de luxo moderno. Para que aplicar um espírito ainda novo aos mistérios da casquilhice (o que é da última moda, muito enfeitado) e das festividades? Isto, na aparência inofensiva, não passa de uma dessas aberrações cujas más consequências são fáceis de prever.

           O certo é que as brincadeiras da infância se tornam realidades na idade madura; pelo que requer esse assunto, não menos vivamente do que os outros, toda a atenção e vigilância por parte dos pais.

            Seria necessário lembrar também às mães cristãs o dever de fiscalizarem as leituras de seus filhos, dever capital que no entanto dificilmente se concilia com os costumes de hoje? É verdade que se fecham a chave as bibliotecas de livros perigosos; mas ficam por fora, expostas à curiosidade dos filhos e atraindo-lhes os olhares, as estampas, as revistas, as brochuras e as publicações ilustradas de que algumas páginas, lidas furtivamente e as pressas, lhes fazem nascer o desejo de ler outras. Eles se esforçarão por compreender depois o que não puderam compreender ao princípio, empregando nisto o melhor de sua atenção e os pensamentos de cada dia; confundirão os romances de fantasias com os fatos do mundo real; sonharão aventuras heroicas; aborrecerão a monotonia da vida da família; e, daí, as amarguras, os queixumes, os desvarios e os passos desastrosos que lançam em luto e consternação tantas famílias.

                Que a vigilância maternal afaste pois, estes perigos do lar doméstico! Que ela se oponha com coragem às invasões, como às exigências e aos engodos do espírito do mundo!

                Procurai para vossos filhos e para vós mesmas distrações que não molestem a consciência, que não alterem a piedade, que não embotem o sentimento da verdade e do bem e que não faltem jamais ao respeito devido à religião e à família.