segunda-feira, 27 de maio de 2013

Graça

Nota do blogue: Acompanhar esse Especial AQUI.
Cônego Júlio Antônio dos Santos
O Crucifixo, meu livro de estudos - 1950

Graça
1. — Graça santificante.
2. — Graça atual.
3. — Excelência da graça
4. — Meios de aquisição da graça.

1— O pé do Crucifixo está firmado num grande reservatório. O sangue corre, em fio, das chagas do Redentor para esse reservatório. E, em seguida, transforma-se em torrentes de graças que passam por sete canais para pequenos cálices.

2— O reservatório é a Igreja. Os sete canais são os sete sacramentos. Os pequenos cálices são os cristãos.

3— Eu quero ser um dos pequenos cálices cheio dos méritos de Jesus Cristo, da Santíssima Virgem e dos Santos, e a transbordar com as minhas lágrimas de arrependimento dos meus pecados, já que não pode ser com os méritos das minhas virtudes que as não tenho.

Sangue de Jesus         

1.º O Sangue de Jesus é preciosíssimo porque é o Sangue de um Homem-Deus. — Um objeto qualquer, embora sem valor algum, torna-se precioso quando pertence a uma pessoa de elevada categoria. É por isso que a Igreja venera as relíquias que pertencerem aos santos. E convém notar que a veneração que se tem pelas relíquias é, maior ou menor, segundo a maior ou menor relação que houve entre estes objetos e a pessoa a quem pertenceram.

Assim um bocado de hábito de um santo, é, por certo, precioso, mas, não tanto como uma parte do corpo do mesmo santo, pois está mais unido à pessoa que um pedaço de pano. Por aqui já avaliamos a preciosidade do Sangue de Jesus Cristo, pois que este Sangue não é um objeto qualquer de que Jesus se tenha servido por mais ou menos tempo, mas é um elemento essencial da sua humanidade e está intimamente ligado à Pessoa de Jesus.        

2.º O Sangue de Jesus é preciosíssimo porque é o Sangue de uma pessoa divina. — Um objeto é mais ou menos precioso conforme a dignidade da pessoa a quem pertence. Ora o Sangue de Jesus Cristo pertence a uma pessoa divina, porque, em Jesus Cristo, as duas naturezas divina e humana unem-se na Pessoa do Verbo. O Sangue de Jesus Cristo é, portanto, Sangue divino. E como a Pessoa de Jesus Cristo é de dignidade infinita, assim também o Seu Sangue é infinitamente precioso. Só, por este motivo, uma gota de Sangue de Jesus vale mais do que todas as criaturas juntas; porque, embora sejam numerosas e sublimes, nunca terão uma dignidade e valor infinito. Prestemos, pois, a este Sangue divino a homenagem das nossas adorações.

3.º O Sangue de Jesus é preciosíssimo por causa dos seus admiráveis efeitos. — Ouçamos São Paulo sobre os efeitos do Sangue do Cordeiro Imaculado. 

1. ° Apaga o fogo do inferno aceso por causa dos nossos crimes: «Agora que estamos fortificados pelo seu Sangue seremos salvos da ira por ele mesmo» (Rom. X, 9). 
2. ° É o banho que purifica a nossa consciência, sobretudo, quando recebemos os sacramentos. «O Sangue de Cristo...”. purificará a nossa consciência.» 
3. ° É o preço da nossa redenção. «Temos a redenção pelo seu Sangue».

Os que foram resgatados pelo Sangue de Jesus Cristo podem reduzir se a três classes: os seus inimigos declarados que foram resgatados dos laços do pecado; as almas dos justos da antiga Lei que foram resgatados do limbo; e os seus amigos vacilantes e tíbios que foram resgatados das dúvidas da fé. E, por isso, o Redentor derramou o Seu Sangue por três partes: pelas mãos, pelos pés e pela chaga do peito.

1.º Jesus derramou o Seu Sangue pelas mãos a fim de que a virtude do Seu Sangue libertasse os pecadores das suas cadeias. «O Sumo Sacerdote estendia a sua mão para fazer a libação e derramar o sangue da uva para desprender os laços dos pecadores». — «Fostes Vós, Senhor, que quebrastes os meus laços.» (Ecles. 1,16); Salm. CXV).

2.º Jesus derramou o Seu Sangue pelos pés para mostrar que devia tirar do limbo as almas dos justos e conduzi-las à Pátria celeste. - «Pelo Sangue da Vossa aliança fizestes sair os cativos do fundo do abismo.» (Zac. IX, 11). «Subindo ao Céu levou consigo um grande número de cativos.» (Salm. LXVII, 19).

3.º Jesus Cristo derramou o Seu Sangue pela chaga do Seu peito e do Seu coração para que os Seus discípulos vacilantes na fé e esfriados no amor divino ou mortos para o bem, fossem iluminados e acalentados de novo. «Jesus Cristo mostrou ao discípulo incrédulo as suas chagas e convidou-o a meter a mão na chaga do lado e disse-lhe: não sejas incrédulo mas fiel.» E logo se avivou a fé de Tomé. «Eu sou semelhante ao pelicano do deserto.» Vendo em volta de si os filhinhos mortos, rasga com o bico o seu próprio peito e dá-lhes vida, derramando o seu sangue sobre eles. É assim que Jesus Cristo, com o Sangue quente de seu coração, vivifica aqueles que estão mortos pelo pecado ou esfriados no amor de Deus.

Adoremos Jesus Cristo fazendo-nos o dom do Seu Sangue até à última gota; agradeçamos-Lhe este inefável dom; amemo-lO fervorosamente e supliquemos-Lhe a graça de nos aproveitarmos bem dele, assistindo devotamente e com frequência à Santa Missa, frequentando os Sacramentos, correspondendo às graças inferiores e exteriores que são os frutos deste Sangue. Que o Seu Sangue caia sobre a nossa inteligência para a iluminar, sobre a nossa vontade para a fortalecer, sobre a nossa consciência para a purificar e sobre a nossa alma para a santificar. 

Que é a graça?

A graça é um dom sobrenatural concedido por Deus ao homem para o dispor para o seu fim sobrenatural.

1.º A graça é um dom porque é um puro efeito da bondade divina.

2.º A graça é um dom sobrenatural: sobrenatural na sua origem porque vem de Deus santificador e glorificador; sobrenatural na sua operação, porque nos une a Deus santificante; sobrenatural no seu fim, porque nos conduz à visão de Deus face a face, na glória.

3.º A graça é um dom concedido por Deus, porque só Deus é o autor da graça. Esta graça sendo o fruto da Redenção chama-se comumente a graça de Cristo, por oposição a graça de Deus, que é a que Deus concedeu sem ter em vista os méritos de Jesus Redentor: a graça concedida aos anjos e a Adão inocente.

4.º A graça é um dom sobrenatural concedido por Deus ao homem para o dispor para o seu fim sobrenatural. Esta disposição deve ser dupla porque é preciso: 

1. ° que a nossa natureza seja elevada ao estado sobrenatural, isto é, posta em estado de poder operar sobrenaturalmente; e 
2.° que esta natureza elevada ao estado sobrenatural produza efetivamente atos.

E a mesma graça que opera esta dupla disposição? Não é a mesma graça que opera esta dupla disposição, são graças diferentes, ambas sobrenaturais, mas cada uma tem a sua natureza distinta em relação com a sua função.

Quanto à sua natureza a graça divide-se em graça santificante e graça atual.

continuará...