quinta-feira, 16 de maio de 2013

Amor da família - Parte I

Nota do blogue: Acompanhar esse Especial AQUI.
Cônego Júlio Antônio dos Santos
O Crucifixo, meu livro de estudos - 1950



Amor da Família

            Que é que se deve amar na família considerada como família?
            1.º É preciso amar a honra do nome. Este nome, diz Mgr. Baunard, os antepassados levaram séculos a criá-lo; fizeram-no de probidade, de inteligência e de glória, talvez, transmitiram-no de geração em geração, engrandecendo, acreditando-o, fazendo-o subir cada vez mais na estima dos homens. O primeiro dever daqueles que o usam, é não o desonrar. Este nome profana-se com uma vida de devassidão e de orgia e rebaixa-se, com uma vida de negócios pouco honestos ou de ociosidade.
            Quando me vejo obrigado por um dever doloroso a revelar a um pai ou a uma mãe uma dessas condutas que fazem com que um jovem não seja, mais do que um apóstata desta honra hereditária, vejo todo o sangue dos avós, revoltado e indignado, subir-lhes ao rosto.
            — Que desgraçado! Que fez ele do nome de seus pais! E vejo correr dos olhos destes abundantes lágrimas.

            2.º É preciso amar o espírito da família, quer dizer, este conjunto tradicional de convicções, de virtudes e de princípios domésticos que constituem o patrimônio sagrado de toda a família cristã. Tenhamos o nosso lugar marcado diante do Crucifixo para a oração em família, na igreja paroquial, nas obras de piedade, apostolado e caridade.
            3.º É preciso amar a vida da família. Haverá, com efeito, dias comparáveis aos que se passam com o pai e com a mãe em companhia dos irmãos e das irmãs?!
            Que inquietação me inspiram, diz ainda Mgr. Baunard, esses jovens e donzelas que acham longas as horas passadas no lar, e que voltam, com impaciência, os seus olhares para essas regiões longínquas donde lhes vem certos bafejos de liberdade prejudicial e nas quais aspiram ir perder aquilo que o Evangelho chama a sua substância, quero dizer, a sua alma, e bem assim, ao mesmo tempo, a sua felicidade, vivendo luxuriosamente.
            É preciso amar as reuniões de família, quer à mesa, quer noutra parte, que sejam periódicas, quer habituais.
            É preciso que se transforme em lei a celebração das festas dos santos padroeiros, das festas dos aniversários natalícios dos pais e avós. O culto doméstico, tem, como o culto religioso, as suas festas obrigatórias a que se não deve faltar.

I — Amor paternal e maternal

            A educação é uma obra de amor, de amor esclarecido e de amor cristão.

            1 — Amor esclarecido
            1.° O amor esclarecido põe a alma acima do corpo. — O amor esclarecido coloca cada coisa no seu lugar próprio e dá-lhe a atenção e estima que ela merece. Há na criança dois elementos que constituem a pessoa humana: — a alma e o corpo. Ambos estes elementos carecem de atenções, cuidados, de uma cultura delicada para favorecer o seu crescimento normal.
            O corpo. — Trata-se do corpo? É preciso alimentá-lo, vesti-lo, dar-lhe todo o vigor; é preciso desviar tudo o que possa prejudicar a saúde, deformar a sua constituição e comprometer a sua vida. São necessários para isto muitos trabalhos e sacrifícios.
            Quantas vezes a um pai a testa se lhe alaga em suor e as horas lhe correm rápidas, porque só o preocupa a idéia de ganhar o sustento para seus filhos. Quantas noites passa uma mãe sem dormir, quando no alvor da existência essa criança carece de todos os cuidados. E de que se trata? De um corpo frágil, mortal, que há-de converter-se num punhado de cinza na noite fria de um túmulo.
            A alma. — O corpo merece sem dúvida atenções e respeito, mas a alma vale mais do que o corpo, por isso, merece muito mais as primeiras preocupações e as melhores ternuras de um pai e de uma mãe.
            Pais e mães, não tenhais ilusões. Que vale um corpo forte, constituição vigorosa, se a alma é fraca! Que vale ter com que passar à farta, se a alma é indigente e miserável! Que vale a beleza do corpo, se falta a beleza da alma!

            O amor esclarecido põe a alma acima do corpo.

            2.º O amor esclarecido põe o interior acima do exterior — Há pais e mães que só se precupam com o exterior de seus filhos: devem apresentar-se e viver na sociedade com uma grande correção de linguagem e distinção de maneiras. Pouco lhes importa que seu filho seja instruído e cristão; que sua filha seja instruída e piedosa, o que querem é que se tornem notáveis e brilhem no mundo. Imaginai que um homem pensava assim: pouco me importa que a minha casa seja construída sobre areia movediça e com fraco material, o que me importa é que ela seja agradável à vista, de maneira que todos os que passem pela sua frente possam exclamar: Ai que belo edifício! Eu digo: construção frágil! A mais pequena ventania deita-a por terra.
            O espírito e o coração dos filhos estão vazios, não há aí senão lindas aparências; a educação sólida não lhes foi ministrada!
            3.º O amor esclarecido coloca a virtude acima da ciência. — Há pais que dizem: Eu quero que meu filho seja um sábio, pouco me importa que seja um cristão; quero que minha filha seja instruída, pouco importa que seja piedosa.
            Feliz o filho que é instruído, mas, mais feliz o que é virtuoso.
            Ciência sem consciência é a ruína da alma, dizia Rabelais. A virtude é o perfume que impede a ciência de se corromper. Dai a vossos filhos mais do que a força da sabedoria, dai-lhe a força da virtude. Assim amais vossos filhos com um amor verdadeiramente esclarecido.

2— Amor cristão

            O amor esclarecido põe a alma acima do corpo, o interior acima do exterior, a virtude acima da ciência; o amor cristão põe a piedade acima de tudo o mais. O amor cristão é um amor que crê, que opera e que ora.
            O amor cristão tem espírito de fé:
            1.º É um amor que crê na realidade da salvação. — Os pais crêem que seus filhos têm uma alma a salvar. Portanto, eis alguma coisa mais que um lar a sustentar e uma carreira a preparar aos filhos. E preciso fazer dessas crianças homens, de homens, cristãos e de cristãos, eleitos para o Céu.
            Havia no século XVI um professor que tinha o costume de dar as suas lições de cabeça descoberta. Perguntando-lhe porque procedia assim, respondeu: Procedo assim para honrar os cônsules, chanceleres, doutores e mestres que sairão da minha escola.
            Pais e mães de família, é mais que um cônsul, um chanceler, um doutor e mestre que levais nos vossos braços e cobris de beijos, é um santo, um eleito para o Céu.
            Mas como se faz isto? Pela educação religiosa, começando pelo ensino do catecismo que é o leite da doutrina.
            2.º É um amor que crê na eficácia da graça. — Os carvalhos gigantescos estão contidos na pequena bolota que o pastor encerra na mão. Como se faz isto? O germe foi-se desenvolvendo devido aos sucos recebidos da terra ou aos orvalhos da atmosfera.
            Mas, convém notar que não foi o que plantou, nem o que regou que deu o incremento; foi Deus. E necessária a ação da graça na obra da educação; isto é, a ação de Deus pela sua graça. Esta recebe-se pela oração e sacramentos.
            O amor cristão tem espírito de piedade: é um amor que ora.
            Os filhos são como que uma cidadela cercada de inimigos — inimigos exteriores que conspiram com os interiores. Nisi Dominus custodierit civitatem, frusta vigilat qui custodit eam. Os pais trabalham em vão por salvar esta cidade ameaçada, se Deus a não defende com eles. A primeira coisa que fazia Jó, ao levantar-se de manhã cedo, era oferecer sacrifícios pelos seus filhos. Pais, orai pelos vossos filhos. Virá a hora em que eles resistirão aos vossos conselhos, às vossas repreensões e até às vossas lágrimas, mas não deveis desesperar, tendes uma grande potência, a maior de todas, a da oração.
            Santa Mônica com o seu amor e a sua fé heróica acompanha sempre seu filho. Durante, dezessete anos chora e ora. E no fim, Agostinho, convertido, lança-se nos braços de sua mãe e exclama: É às vossas orações e aos vossos méritos que eu devo o que sou; e, em seguida, voltando se para Deus, acrescenta: Se sou vosso filho, ó meu Deus, é porque me tendes dado por mãe uma das vossas servas.