terça-feira, 14 de maio de 2013

Amor do próximo - Oitava Parte

Nota do blogue: Acompanhar esse Especial AQUI.
Cônego Júlio Antônio dos Santos
O Crucifixo, meu livro de estudos - 1950

Formação cristã no amor do próximo

            1 — Educação
            É preciso ensinar a amar para se ser bom desde a infância. Assim como na obra da educação se insiste sobre a obediência e a pureza, também se deve insistir sobre a caridade. Há muitas pessoas que têm espírito de humildade e de pureza mas pouco espírito de caridade. O educador, diante do egoísmo que leva a criança a reservar para si a parte maior de uma maçã, e a parte mais pequena de um trabalho, diante do espírito vingativo que leva a criança a acusar os seus adversários, diante da brutalidade com que maltrata os seus companheiros no jogo, o educador deve mostrar tanta indignação como perante uma mentira ou uma grave insubordinação. O educador deve combater o egoísmo, deve também mostrar a excelência das virtudes da bondade e caridade e exortar à sua prática. Se compreendêssemos o valor e a excelência do amor do próximo, diz santa Teresa de Jesus, não nos aplicaríamos a outra coisa.

            2— Oração

            Na recitação do Pai-nosso, devemos dizer com muita devoção: Venha a nós o vosso reino, o reino do amor divino; livrai-nos do mal, do mal que é a falta de caridade, da dureza do coração; livrai-nos do maior dos males: do ódio e do reino eterno do ódio.

            3— Comunhão
            1.º A Eucaristia cria o espírito de amor. —Jesus Cristo, depois de estar em contato com o coração humano, promulgou esta lei de amor: «Amai-vos uns aos outros assim como eu vos amei». Porque é que promulgou esta lei só depois de instituir a Eucaristia? Porque entendia que o amor do homem para com o homem só podia ser dedicado, desinteressado e generoso, rendo as suas raízes no amor de Deus.
Assim como o espírito, para se desenvolver precisa de estar em contato com outro espírito, que, primitivamente, não era senão o Espírito de Deus, assim também o coração humano, para amar divinamente, deve estar em contato com o coração de Deus, foco de todo o Amor. A Eucaristia, cria, pois, este espírito de amor naqueles que a recebem.
            2.º A Eucaristia ensina-nos a aplicar este espírito de amor. — A Eucaristia ensina-nos que devemos fazer, em proveito do nosso próximo, o sacrifício dos bens de fortuna, do amor próprio e da vida.
            Sacrifício dos bens de fortuna. — Jesus, depois de nos ter dado a Sua doutrina, os Seus exemplos e méritos da Sua vida, deu-nos a Sua substância: a divina e a humana; a que recebeu de Seu Pai, na Sua geração eterna, e a que recebeu de Maria, na Sua Encarnação, e, por isso, deu-nos o Seu Corpo, Sangue, Alma e Divindade sob as espécies do pão e do vinho consagrados.
            Dando-se na Eucaristia, não pôde dar mais.
Qual será aquele que, sentando-se, de manhã, à Mesa da Comunhão, poderá depois, ao sentar-se à mesa em sua casa, recusar aí um lugar ao pobre? Qual será aquele que recebendo o pão espiritual recusará a esmola do pão material? Certamente ninguém que comungue.
            Sacrifício do amor próprio. — A paixão dominante é o amor próprio; pretendemos elevar-nos acima dos outros.
            Ora a Eucaristia estabelece uma verdadeira igualdade entre os homens perante Deus. Nunca o sacerdote pergunta àqueles que se aproximam da sagrada Comunhão: Quem sois vós? Sois ricos e poderosos? Vinde tomar o primeiro lugar. Sois um mendigo? Ide lá para o fundo do templo, é lá que deveis esperar as migalhas do banquete preparado para os grandes. Não; não procede assim. Aproximam se confundidos uns com os outros e todos com a mais profunda humildade. O criado do Visconde de Turena, no momento em que ia comungar, vendo ao seu lado o seu senhor, diz: Passe para diante, senhor. Aqui não sou senhor, observou-lhe o Visconde, aqui não há senão um Senhor, deixa-te estar no teu lugar.
            Quando nós vemos os ricos e os poderosos confundidos com os pobres, igualmente participantes deste banquete celestial, é uma prova evidente de que, no convívio social, também se aproximam uns dos outros com os sentimentos da mais profunda estima e veneração.
            3.º Sacrifício da vida. — São João dizia a propósito: «Nós conhecemos o amor de Deus por este grande sinal: Ele deu a vida por nós, para também nós darmos a vida uns pelos outros. Ora a Eucaristia repete-nos o mesmo, pois que é a comemoração e a continuação do maior de todos os sacrifícios — do Sacrifício da Cruz.
            Quanto mais os homens se aproximarem de Deus pela Comunhão, diz são Tomás, tanto mais se aproximarão uns dos outros pela caridade.
            Por isso, os primeiros cristãos, que comungavam todos os dias, tinham tanta caridade e amor ao próximo, que arrancavam aos pagãos esta exclamação: Vede como eles se amam! E a sua caridade vai tão longe que até socorrem os seus próprios inimigos e perseguidores.
            Nos tempos de hoje o que se observa entre os cristãos? O pobre não é socorrido, o enfermo não é visitado, o moribundo não é assistido, o pecador não é salvo; só há indiferença, sentimentos de aversão de ódio e de vingança.
            São Paulo, notando que os Coríntios comungavam e, não obstante, havia entre eles desunião e discórdias, posto que não tão graves como há entre nós, chamava a essa desunião — heresia. Um grande orador sagrado faz este comentário: — «Não é heresia contra o Sacramento enquanto é mistério de Fé, é heresia contra o Sacramento enquanto é mistério de Caridade». É que os que comungam e não vivem em união, desmentem, negam a verdade da Comunhão, fazem com que a Comunhão não seja Comunhão.
            A nossa heresia é mais prejudicial do que a dos hereges. Os hereges negam o Sacramento, mas não fazem com que o Sacramento não seja Sacramento; nós fazemos com que a Comunhão não seja Comunhão.— Os hereges são blasfemadores deste Mistério, e nós, destruidores dele. — Os hereges negam a essência e nós desmentimos a virtude deste Sacramento. Razão teria São Paulo para lamentar também o nosso procedimento. Por um lado, amigos da Comunhão e por outro, inimigos da mesma Comunhão; por uma parte, com o Sacramento do Amor no peito e, por outra, com a aversão e o ódio no coração. Acabamos de comungar o Corpo de Jesus Cristo no Sacramento e partimos logo para nos comermos uns aos outros. Acabamos de beber o Sangue de Jesus Cristo e, ali mesmo, desejamos, talvez, beber o sangue dos que comungam conosco.
            Jesus dando-se a nós na sagrada Comunhão, continuamente nos está repetindo: «Amai-vos uns aos outros assim como Eu vos amei».