Fonte: Mãe Cristã
Os alquimistas da idade média procuravam, com incríveis esforços, o segredo de transformar em ouro os metais mais comuns; e tantos labores não tinham outra intenção senão descobrir a maravilhosa e famosa pedra filosofal. Um segredo existe, de importância bem mais considerável: é o de tornar nobres as ações banais, quotidianas, dando-lhes um valor que por si mesmas não têm. “Buscai tesouros que se não gastem, que não excitem a cobiça dos ladrões e que os vermes não roam” diz o Evangelho.
É certo que as ações mais vulgares podem ser convertidas em méritos preciosos e recompensar-nos por conseqüência em indestrutíveis riquezas.
Para operar esta transformação, três coisas são necessárias. Distingui-las-emos com três palavras: a intenção, a atenção e a execução. A intenção é que dá aos nossos atos o seu valor intrínseco, a atenção é que os consolida e aperfeiçoa e a execução é que os conclui e realiza.
A obra mais obscura aos olhos dos homens pode avolumar-se magnificamente diante de Deus, ao passo que as grandes coisas que espantam o mundo, muitas vezes aos olhos do Senhor não são mais do que uma vã fumaça.
Pouco vale uma migalha aos pobres; e, todavia, aquela migalha que a viúva do templo oferece com intenção pura, obtém os elogios de Jesus Cristo.
Custa pouco dar um copo de água: e, toda via, diz o Evangelho, um copo de água oferecido em nome de Jesus Cristo não fica sem recompensa.
A intenção bem dirigida tem, pois, o poder de consagrar os nossos menores atos; e se ela fosse habitualmente pura e reta, cada dia da nossa vida se encheria de boas obras e de méritos.
Ora, se a regra soberana das nossas ações é a vontade de Deus, esta é que deve dirigir todas as nossas vistas. A nossa intenção permanece, muitas vezes renovada, se deve referir sempre a Jesus Cristo. A Ele é que nos cumpre agradar e para Ele cumpre agir, sofrer, morrer e viver. Nestes termos, as intenções são santas, os sofrimentos abençoados, as preces atendidas e as esperanças justificadas; e ainda mesmo que os homens nos condenassem, Deus, que vê dentro do coração, nos faria justiça.
Mas à intenção é preciso juntar a atenção, predicado este bem pouco comum, pois o defeito ordinário dos homens é serem desatentos e distraídos. “O ouvido que escuta é um dom de Deus” diz a Escritura. Se nós não escutamos a voz divina é porque nos falta a atenção, ou porque esta é momentânea, ligeira, caprichosa e fugitiva como a borboleta que esvoaça entres milhares de flores, sem se deter em nenhuma. Este defeito dispersa os raios do espírito e destrói a sua energia, o que é quase sempre a causa da nossa obscuridade, das nossas inquietações e da nossa aridez espiritual.
Se não somos atentos em nossas relações com Deus, também não o somos em nossas relações com os homens; do que se segue o levarmos, tanto para o nosso trato com o próximo como para os nossos exercícios de piedade, um pensamento vago, dúbio, ou alheio ao assunto.
A atenção, qualidade dos espíritos sérios, é particularmente desejável na mãe cristã. Ela é o início de uma consciência delicada e a condição da boa ordem e do bem-estar. Como é bonito ver uma mãe piedosa que, dedicada inteiramente aos seus deveres, à sua família e à sua casa, é tudo para todos e chega a se esquecer de si para não deixar de atender a ninguém.
Onde falta a atenção, não há, não pode haver regularidade nas ações, lucidez na inteligência nem igualdade no gênio e no procedimento. E como discernireis as aspirações de Deus, ou aproveitareis a oportunidade das circunstâncias, quando não sabeis reagir contra essa multidão de influencias que por todos os lados vos agitam e fazem vibrar tumultuosamente as molas da vossa vida?
Uma excelente prática para conservar o vigor da atenção e a presença do espírito é consagrar freqüentes instantes ao repouso, ao recolhimento e ao silêncio; prática fácil, agradável e digna de ser recomendada à mãe, à dona de casa.
“Tornai a entrar na cela, fechai a porta, ficai atenta e tranqüila; e o vosso Pai celeste que vê no incógnito – acrescenta o Evangelista – não vos negará as forças, as graças e as luzes de que careceis”.
Contudo a atenção, mesmo quando se junta a uma intenção reta, não é suficiente. É preciso levá-la a efeito, pô-la em execução; e eis aí o ponto difícil. Os homens de ação são raros em todo o tempo. Há muitos que pensam e dizem coisas admiráveis, mas que não passam da teoria à prática: os bons desejos goram, os belos planos se malogram, e fica tudo por fazer ou por acabar. Em ocorrendo obstáculos, os braços desabam e interrompe-se a tarefa que não estava sequer na metade; e Deus que, segundo a linguagem da Escritura, não aceita as vitimas estropiadas, recusa às obras imperfeitas a bênção que as teria feito prosperar.
Quantas vezes a mãe cristã, animada aliás da melhores intenções e sabendo claramente o que Deus lhe indica, recua diante de atos reclamados pelo sentimento do seu dever e pelo interesse de seus filhos! Ela conhece os perigos de certos lugares públicos, de certas companhias e de certos divertimentos; receia ai levar as suas filhas; e, todavia, não chega a uma salutar determinação! São as opiniões do mundo que a embaraçam e desanimam e ela as teme ainda mais do que os juízos de Deus. Ela conhece, sem dúvida, o bem que é preciso fazer e o mal que é preciso evitar; mas, covarde e irresoluta, esmorece no momento da execução.
O respeito humano, isto é, a deferência inconsiderada que se dispensa à opinião dos homens é uma das causas mais freqüentes de se frustrarem os bons projetos. Em frente desse frágil obstáculo as melhores intenções naufragam.
Se os nossos atos quotidianos fossem executados com direita intenção, atenção conscienciosa e mão firme, eles se desdobrariam brilhantemente perante Deus e se transformariam em ouro puro que seria uma rica herança para os seus filhos.
“Aquele que é fiel – diz o apostolo São Tiago – e que faz o bem que deve fazer será beatificado”.