domingo, 26 de maio de 2013

QUINTO MANDAMENTO DA IGREJA

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

A Igreja e seus mandamentos
por
Monsenhor Henrique Magalhães
Editora Vozes, 1946

QUINTO MANDAMENTO DA IGREJA
de Dezembro de 1940

            Vamos examinar hoje o 5.° Mandamento da Igreja, que assim vem enunciado em nossos catecismos: “Pagar dízimos segundo o costume”. Outros compêndios acrescentam — pagar dízimos e primícias. Trata-se, como é claro, do auxílio ao culto divino, incluídos os sacerdotes que o exercem em benefício dos fiéis.
            Vejamos os fundamentos deste preceito. Somos criaturas de Deus, de quem recebemos tudo quanto somos ou possuímos. É justo, portanto, que demos a Deus uma parcela do que temos. Provamos assim que reconhecemos o domínio do Senhor, aderindo à eloquente expressão do Profeta Rei David quando cantou: “De Deus é a terra e quanto nela se contém; o orbe da terra e todos os que nele habitam” (SI 23, 1).

            Deve o homem contribuir à medida de suas forças, para que o Senhor seja condignamente louvado, glorificado por um culto a que não falte o esplendor devido à majestade do supremo Rei Universo.
            Naquele memorável banquete em que Simão reuniu em torno à sua mesa os seus amigos, e para o qual convidou também Jesus, quando Maria Madalena, entrando de improviso, curvou-se aos pés do Mestre, ungindo-os com precioso bálsamo, Judas Iscariotes logo protestou. — “Para que este desperdício?... Seria melhor ter vendido o bálsamo, dando-se o dinheiro aos pobres”. — Ao que imediatamente respondeu Jesus, aprovando o gesto da pecadora arrependida, louvando a homenagem que havia escandalizado o traidor (Mt 26, 6-13).
            Através dos tempos ouve-se a voz dos que protestam contra o esplendor dos templos e o brilho do culto externo; e aos verdadeiros crentes soa também com a mesma autoridade e a mesma eloquência a palavra de Jesus, que, sem dúvida, recebe as fervorosas homenagens de seus filhos e os recompensará na glória do seu reino.
            Os hereges, os cismáticos, os incrédulos, em suma, todos os inimigos da Igreja e até, às vezes, seus próprios filhos, têm exprobrado a magnificência dos seus templos, a pompa das suas cerimônias, a riqueza dos seus ornamentos, e finalmente o luxo de que ele cerca os seus altares. E sempre o mesmo protesto: De que serve esta profusão? Não era melhor fundar asilos, dar esmolas aos pobres? — Raciocinemos, porém. Esta censura  infundada. Os reis, os presidentes da República, inúmeros personagens das altas esferas governamentais, habitam à custa da nação que deste modo lhes reconhece os serviços que prestam em seus postos, habitam palácios magníficos, que de ne­nhum modo se comparam com as residências co­muns dos outros mortais, nem quanto ao conforto, nem quanto à arte com que são feitos e ornados. Em certas ocasiões mais solenes, — recepções oficiais, aniversários, acontecimentos felizes, — tais palácios ostentam esplendoroso luxo. Ninguém entretanto condena todo esse aparato, intimamente ligado ao prestígio da próprio autoridade. Ninguém jamais pensou em cortar essas verbas, em suprimir essas homenagens — jantares, recepções, espetáculos de gala... sob pretexto de que os pobres é que devem ser aquinhoados com todo o dinheiro reservado à representação da autoridade.
            Para um homem de fé ardente, para um católico que sabe honrar esse glorioso título, o templo é o palácio do Rei dos reis. Jesus Cristo está realmente presente na divina Eucaristia, vivo, todo inteiro, em corpo, sangue, alma e divindade, no sacrário dos nossos templos. Esse tabernáculo, portanto, deve ser ornado, sempre que for possível, como todo esplendor ao alcance dos que vão frequentemente adorá-lo. — Nas ermidas campestres, nas igrejinhas das aldeias, seja o altar ornado com as perfumadas flores do campo: a açucena, toda branca, rescendendo um aroma penetrante, a rosa silvestre, a acácia cor de ouro... Parece-me estar vendo, na aurora do meu sacerdócio... há tantos anos... aquelas igrejas de que eu tenho uma saudade imensa, — enfeitadas com tanto carinho pelos nossos roceiros, tão simples e tão bons!
            As festas de Nossa Senhora da Conceição e do Natal, o presépio... que maravilha de simplicidade e devoção! — Nos grandes centros, façam-se de mármore os altares. Ornem-se os sacrários de bronze, de prata e até de ouro! Seja de ouro, e, se possível, ornado de verdadeiras pedras preciosas, o ostensório em que se expõe a Hóstia consagrada. Sejam ricos, preciosos, artísticos os ornamentos; por que não? Não é tudo em homenagem ao Rei dos reis?
            Os pobres terão, como até hoje têm tido, a sua parte, e ordinariamente com bastante generosidade. E se levantardes uma estatística leal, sincera, vereis que a Igreja em tempo algum se esqueceu dos pobres. Em todo o território brasileiro, o catolicismo não teme concorrência em matéria de caridade.
            Quanto ao que o sacerdote recebe dos fiéis, para sua sustentação, nada mais de acordo com a própria Escritura Sagrada. Lede o versículo 13, da Epístola primeira de São Paulo aos Coríntios, capítulo 9.°: “Não sabeis que os que trabalham no Santuário comem do que é do Santuário; e que os que servem ao altar, participam do altar?”
            Assim as espórtulas ou retribuições que recebemos dos fiéis, para manutenção da nossa vida, em virtude de vivermos servindo a nossos irmãos e dedicando-nos inteiramente ao serviço de Deus, em benefício desses mesmos irmãos, essas retribuições substituíram os dízimos, que era a décima parte da colheita ou da renda dos fiéis; e as primícias que eram os primeiros frutos produzidos no seu campo. Substituem também as côngruas que em países, como o nosso, o governo dava ao clero e já não dá.
            E se o ministro do altar, por desgraça, se deixa dominar pela avareza e chega a extorquir dos fiéis o que não deve nem pode, e assim enri­quece, acumula a sua própria condenação, diante de Deus e diante dos homens.
            Judas foi o primeiro sacerdote avarento... Livre-nos Deus de tão grande degradação e dê aos seus sacerdotes a compreensão exata dos próprios deveres e um acendrado amor à causa pela qual daremos o nosso sangue, a nossa vida se preciso for!