sábado, 11 de maio de 2013

A esperança - Sacerdote

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.

(Jesus Cristo falando ao coração do Sacerdote, ou meditações eclesiásticas para todos os dias do mês, escritas em italiano pelo Missionário e doutor Bartholomeu do Monte traduzidas pelo Pe. Francisco José Duarte de Macedo, ano de 1910)


            I. — Filho, só a Mim deves temer; só deves esperar em Mim, que Sou teu Deus, por ti solenemente escolhido para tua porção e tua herança.
            De que te servirá pores tua confiança nas riquezas, na força, nos protetores; lisonjeares-te de virtude ou capacidade propriamente tua, se é maldito quem confia no homem, e será sempre humilhado quem se glória da própria virtude?[1]
            Se não despes a humana presunção, jamais serás assistido da Minha virtude divina. Espera em Mim, e queixa-te depois se, buscando-Me de todo o coração, te faltar alguma coisa[2].

            II. — Não esmoreças, amado filho, não desanimes; Eu não quero que esperes sem temer por ti; mas não quero também que temas sem esperares em Mim [3].
            Tens sobeja razão do temor, atendendo aos teus pecados, até porque são mais graves que os dos seculares; mas não te prometi eu o perdão de todos eles? Não dei à Minha Igreja poder para te absolver de tudo? Não cheguei eu a jurar que não quero a morte do pecador, mas sim que se converta e viva?
            Tu ensinas ao Meu povo estas verdades, e como te esqueces tu mesmo delas? Não só te perdoarei, mas estou pronto a fazer-te um santo. Olha um Pedro e um Paulo; eram pecadores; não obstante os fiz grandes santos, e os primeiros príncipes da Igreja, para que conheças qual é o Meu coração para com os pecadores.
            Eia, filho, não te desanimem as tribulações, nem as tentações, nem a tua fragilidade, nem o peso de tuas obrigações; acaso negar-te-ei o meu auxílio, se for sincera tua vontade? Olha para estas chagas, e vê a grandeza do amor que te tenho.
            Se, na hóstia que todos os dias ofereces, nos Sacramentos que administras, nos ministérios que exerces, te dei as Minhas graças, o Meu sangue, a Mim todo, para bem dos mais miseráveis; serás tu excluído destes benefícios? Se te escolhi para o Sacerdócio, e te impus graves deveres; negar-te-ei os auxílios necessários para fielmente os cumprires? Se comecei a Minha obra, porque a não hei de concluir, se tu cooperares? Confia em Mim, e serei contigo.

            III. — Lembra-te que és Meu filho, e filho herdeiro da Minha glória; se quiseres padecer comigo, todas as penas desta vida são nada em comparação do prêmio da outra: e tu julgarás que é demasiado o pouco ou nada que fazes?
            Quanto não padeceram para ganhar o Céu tantos Sacerdotes, ainda, talvez, mais fracos que tu? Mas, fortalecidos com a esperança daquele prêmio imenso e eterno, julgaram ligeiríssimos e momentâneos todos os seus trabalhos e padecimentos[4].
            Quanto não tive de padecer eu mesmo, para entrar na Minha glória? Padecerás tu tanto como Eu padeci?
            Que não sofrem os mundanos, e que não terás tu mesmo sofrido por bens mentirosos e caducos? só pelas coisas do Céu serás negligente e insofrido?
            Preparei-te no Céu uma coroa mais rica, dei-te, para a conseguires, meios mais copiosos que aos seculares, e serás menos solicito que eles?
            O tempo é breve: empenha-te em acumular merecimentos: próxima está a Minha vinda, e será pronta a Minha recompensa, que distribuirei a cada um, segundo as suas obras.

            Fruto. — S. Bernardo dizia: Que deviam ser admitidos ao sacerdócio somente aqueles que tivessem estudo e prática da oração, e que em qualquer empresa confiassem mais na oração, que na própria ciência e trabalho. Foge das ocasiões que te lisonjeiam, do mundo e dos divertimentos profanos. Deus mandou a Seus Anjos que te assistam em teus caminhos; mas não em teus precipícios.
            Talvez a disciplina eclesiástica te pareça pesada e austera; mas sabes por quê? porque tens muito apego ao mundo, e amas o viver licencioso dos seculares. Lem­bra-te que és Sacerdote, e que não és deste mundo. Pensa a miúdo nos grandes bens do Céu; e desprezarás, como vil lodo, todas as coisas da terra.

Notas:
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[1] Non derelinquis... Domine... præsumentes de te ; et præsumentes de se, et de sua virtute gloriantes, humilias. (Judith., VI, 15.) 

[2] Respicite, filii, nationes hominum, et scitote quia nullus speravit in Domino, et confusus est. Quis enim speravit in mandatis ejus, derelictus est? aut quis invocavit eum, et despexit illum? (Eccl., II, 11-12.)

[3] Metuendum est, ne te occidat spes, et cum multum speras de misericórdia, incidas in judicium; metuendum est rursus, ne te occidat desperatio, et cum putas jam tibi non ignosci quæ gravia commisisti, non agas pœnitentiam, etc. (August., In. Joan. Tr. 33.)

[4] Ludibria; et verbera experti, insuper et vincula, et carceres: lapidati suut; secti sunt, tentati sunt, in occisione gladii mortui sunt; circumierunt egentes, angustiati, afflicti,... non suscipientes redemptionem, ut meliorem invenirent resurrectionem. Aspiciebant enim in remunerationem. (Hoebr., XI, 35-37.)