(As colunas de tua casa pelo Vigário José Sommer, 1938)
A confiança filial, com que em todas as
necessidades e aflições nos atiramos nas mãos paternais de Deus, tem em si algo
de muito honroso para Nosso Senhor e que nos traz muita felicidade. Força-O a ajudar-nos.
Ou acaso "poderias dar uma pedra a teu amigo, que está passando
necessidade e te pede pão, e, em lugar de um peixe, um escorpião?"
"E mesmo que uma mãe esquecesse o
filho, eu não poderia esquecer-te!" - diz Nosso Senhor.
Sob o título "O destino e a
humanidade", um pintor belga fez um quadro, que antes da guerra provocou
grande estrepito, numa exposição de quadros em Berlim. Representava a peleja
ardente, multiforme, em parte desesperada, de milhares de homens, um mar de
mãos humanas, que - cada uma com o seu tormento - se erguiam, como se fossem implorar
ao destino resposta e socorro. E no alto, circunfluído de raios frígidos, como disco
solar, a face do destino. Embotado e mudo, frio e insensível, olha fixamente do
vácuo.
Não tem um só olhar para a luta tormentosa
lá de baixo. Parece-nos ouvir as maldições e ímpetos de desespero, os gritos de
dor, as doces súplicas e o pranto refreado; julgamos ver os tormentos da alma,
que nestas mãos se contorcem – e, entretanto a face do destino; lá no alto,
permanece fria. Insensível à dor, não vê as agonias dos pobrezinhos - que
pelejam e clamam em vão! - Assim podem os muçulmanos representar o, seu Kismet, o cego destino.
Para os cristãos, porém, esse quadro é uma
blasfêmia ultrajante.
O cristão sabe, graças a Deus, outra coisa
melhor.
Para ele há somente um Pai no céu um
coração amante e bondoso, que palpita por ele.
"Nem um só fio de cabelo cai de
vossa cabeça, sem que Ele o saiba". - e: "Não valeis mais que os
pássaros do céu e os lírios do campo e vosso Pai celeste os alimenta e veste a
todos?"
A confiança em Deus guarda e eleva
também a família. Concorre para o cumprimento consciencioso e fiel do dever
conjugal, dissipa as dúvidas e torna-se o esteio e amparo em toda a aflição. É
uma coluna firme. Para homens sem fé e sem confiança o matrimônio facilmente se
torna uma grande carga; a vida torna-se uma cruz, sob a qual mais cedo ou mais
tarde caem aniquilados.
Junto ao leito da esposa cancerosa, gravemente
enferma e incurável, estava o esposo a ouvir-lhe as queixas.
"Meu marido, mata-me!" exclamava
a doente desesperada, - "as dores são insuportáveis”.
- "Sim, minha mulher, eu o faria, se
não tivéssemos fé. Sabes, porém, - a fé no-lo diz, - que teu Salvador vive e
que os sofrimentos desta vida não se comparam com a glória que se manifestará
em nós".
A mulher continuou a carregar avante a
pesada cruz.
Ainda no leito de morte tomou a mão do
esposo e disse-lhe entre lágrimas: - "Graças a Deus que te achei na vida! Tua
fé varonil susteve-me também a mim, fraca mulher."
Uma série de anos mais tarde jazia também
o homem com cancro. - Era um quadro de inspirar compaixão. E sua fé? Ouvi o que
ele repete continuamente, no meio do terrível sofrimento: "Senhor, quero
sofrer ainda mais! Somente nada de pecado!" - E depois segura com mais
força a cruz e comprime-a de encontro aos lábios ulcerados. E quando sente
aproximar-se a hora da morte, faz-se levar ainda uma vez à Igreja.
Foi tarde da noite, no domingo da Páscoa,
que dois possantes amigos para lá o levaram.
O velho pároco, por compaixão e admiração
pelo homem, que sofria terrivelmente, tinha mandado abrir de novo a Igreja, às
escuras.
À noite, já muito tarde, chegaram.
"Colocai-me no chão aqui, de onde posso ver o altar!"
- Emocionados fitaram-no o sacerdote e
os amigos. Então ele se levantou um pouco, amparado pelos amigos e rezou -
rezou a oração fúnebre do velho Simeão: "Agora, Senhor, deixai ir em paz o
Vosso servo, por que meus olhos já viram tua salvação!...”.
- Não é a santa paz da fé e da confiança
em Deus, a felicidade e a força nas grandes dores? - Oh! existem ainda casais felizes!
Nossa santa fé não faz somente homens santos, mas também felizes! Pois é a luz,
força e vida, o sol dos espíritos!
Numa casa encontrei sobre uma porta uma
ferradura, outra vez vi na parede um trevo de quatro folhas; outra vez também
um porco de madeira. Tudo isso devia trazer felicidade. O que tem isso com a
felicidade, é absolutamente impossível de saber: em compensação, porém, há
outra coisa, que traz certamente a felicidade à casa: é o sinal de nossa santa
fé, a cruz e a oração em comum diante do crucifixo.
“Onde dois ou três estão reunidos em meu
nome, estou no meio deles” – disse o Senhor.
Esta palavra de bênção parece quase
valer mais para aqueles que no lar usam a oração em comum aos pés da cruz.