sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Doutrina Cristã - Parte 5

Monsenhor Francisco Pascucci, 1935, Doutrina Cristã
tradução por Padre Armando Guerrazzi, 2.ª Edição, biblioteca Anchieta.

Art. III. - O qual foi concebido do Espírito Santo, nasceu de Maria Virgem.

A Encarnação

26. - O Filho de Deus, para Se fazer homem assumiu um corpo e uma alma, como temos nós no seio puríssimo de Maria Virgem, por obra do Espírito Santo: corpo perfeito, mas sujeito às misérias humanas (fome, sede, cansaço, etc.), para se assemelhar em tudo aos irmãos, na frase de São Paulo; e alma dotada de todas as faculdades humanas em grau sublime, isto é, inteligência e vontade livre e impecável.
Duas naturezas há, pois, em Jesus Cristo: a humana e a divina, numa só divina pessoa: a pessoa do Verbo;
duas vontades, uma divina e outra humana, como fora confirmado pelas palavras pronunciadas no horto: "Padre, se é do teu agrado, aparta de mim este cálice: contudo, não se faça a minha vontade, e sim a tua", (Luc., XXVII, 42); onde, enquanto se fala numa vontade minha, isto é, humana de Jesus Cristo, fala-se depois numa tua vontade, isto é, divina do Padre, a qual deve ser também a de Jesus Cristo, Filho de Deus, e uma coisa só com o Padre.
As operações de Jesus, mesmo humanas, como procedem da única pessoa do Verbo, têm todas valor infinito.

Maria Virgem: - prerrogativas. - S. José

27. - O Filho de Jesus foi concebido por obra do Espírito Santo no seio puríssimo da Virgem Maria, escolhida para a missão de Mãe de Deus, e, consequentemente, enriquecida de especiais privilégios ou prerrogativas, que são:

1.º- Imaculada Conceição, que importa numa redenção preventiva, enquanto Ela, pelos méritos do Seu divino Filho, foi à única entre os filhos de Adão, preservada do pecado original! É dogma de fé, definido por Pio, em 1854.
2.º - A Maternidade divina. Maria é verdadeira Mãe de Deus, porque Mãe de Jesus Cristo, que, assumindo a carne no seio da Virgem, d’Ela nasceu, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, na unidade da pessoa divina; do mesmo modo como nós dizemos mãe da nossa pessoa à que nos deu à luz, embora a alma nos seja criada por Deus. Dogma de fé também este, definido contra Nestório no Concilio de Éfeso em 431.
3.º - A Virgindade perpétua, porque uniu as glórias da virgindade aos júbilos da maternidade divina. Dogma de fé, definido pelo V Concilio geral, em 533.
4.º - Cheia de graça, como Lhe foi anunciado pelo Anjo. 
5.º - Assunção ao céu em alma e corpo. Não é ainda dogma de fé, mas universalmente professado pela Igreja.[1]
Como homem, Jesus não tem pai: São José, esposo castíssimo de Maria, foi-Lhe o pai nutrício, putativo, isto é, criado pelos homens como verdadeiro pai, enquanto era só um guarda, escolhido por Deus para tal ofício, que fielmente executou, salvando a Jesus das mãos de Herodes, criando-o e procurando-lhe o necessário à vida, à educação, etc.

Anunciação. - Nascimento. - Infância

28. - Pelo Arcanjo Gabriel, enviado por Deus a Nazaré, soube Maria, esposa de José, da estirpe de David, que devia ser a Mãe de Deus. Como Ela a isto dera o Seu assentimento, cumpria-se desse modo o mistério da Encarnação.
Indo com José a Belém, para o censo ordenado pelo Imperador Augusto a todo o mundo romano - num presépio, aonde se acolheram por falta de estalagens, Maria deu á luz o Salvador do orbe, envolvendo-O em pobres panos, e reclinou-O a uma rude manjedoura de animais. O nascimento fora primeiro anunciado pelos Anjos aos pastores; depois, com a aparição de uma estreita, aos Magos, que vieram do Oriente, para adorá-lO. Em obediência à lei, oito dias depois do nascimento, o menino Jesus foi circuncidado, e, no quadragésimo dia, apresentado no templo, onde se cumpriu o rito da purificação de Maria Santíssima. Perseguido pelo rei Herodes, que O queria matar, teve de fugir para o Egito com Maria Santíssima e São José, donde voltou depois da morte de Herodes, monarca. Encerrou-se destarte o período da infância de Jesus e principia Sua vida privada até à idade de trinta anos.

Vida privada

29. - Transcorreu Jesus Sua vida privada na pequena cidade de Nazaré, da Galiléia, no silêncio e no recolhimento. Filho de Deus, vindo ao mundo para ensinar aos homens, quis primeiro dar o exemplo de toda virtude.
O santo Evangelho nos refere da vida de Jesus em Nazaré:
1.º- que Jesus era obediente a José e a Maria, Sua Mãe;
2.º- que era de todos reputado o filho do carpinteiro, porque teria ajudado a Seu pai putativo no exercício dos seus misteres, com que sustentava a si e à sua família;
3.º- que Ele crescia em idade, sabedoria e graça diante de Deus e dos homens, isto é, enquanto efetivamente crescia em idade; manifestava gradualmente no exterior Sua sabedoria e suas obras eram cada vez mais aceitáveis e gratas ao Senhor;
4.º - que indo, aos doze anos de idade, com Seus parentes ao templo de Jerusalém para a festa de Páscoa, ali ficou pelo espaço de três dias, sem que os parentes soubessem onde estava, - e conseguiu maravilhar os doutores pela sabedoria de Suas perguntas e respostas.

Vida pública

30. - Aos trinta anos de idade, mais ou menos, Jesus começou a vida pública, que Lhe durou três anos.
Deixando o tranquilo remanso de Nazaré, veio às margens do Jordão, e ao precursor João Batista pediu o batismo de penitência. Retirou-Se daí para o deserto, onde permaneceu quarenta dias, para Se preparar com o jejum e com a oração ao grande ministério que ia empreender. No fim de quarenta dias, permitiu ao demônio se Lhe aproximasse e quis sofrer, para instrução nossa, uma tríplice tentação. Mal saiu do deserto, iniciou a pregação evangélica.
A doutrina que ensinava era alta e sublime, exposta as mais das vezes de modo mui simples, por meio de semelhanças e parábolas, colhendo argumento de tudo quanto caía sob os olhos dos ouvintes, de maneira que pudessem mais facilmente compreendê-lO. Acompanhava depois e confirmava a Sua doutrina com milagres.



[1] Nota do blogue: Na época em que o livro foi escrito o dogma da Assunção de Nossa Senhora ao céu de corpo e alma ainda não havia se dado. O Papa Pio XII, na Constituição Apostólica Munificentissimus Deus definiu tal dogma no ano de 1950.