Monsenhor Francisco Pascucci, 1935, Doutrina Cristã,
tradução por Padre Armando Guerrazzi, 2.ª Edição, biblioteca Anchieta.
Art.
11. - E em Jesus Cristo, um só Seu Filho, nosso Senhor.
O
Homem-Deus Redentor
22. - Vinda a plenitude dos tempos, isto
é, o tempo estabelecido por Deus para a redenção do mundo, o Filho unigênito do
Padre, por Ele gerado desde toda eternidade, Se fez homem. Cumpre-se destarte a
união da natureza divina com a natureza humana numa única pessoa.
A natureza divina era necessária, para
que a redenção tivesse valor infinito; a natureza humana era necessária, para que
o Filho de Deus pudesse sofrer e morrer.
Temos assim o segundo mistério principal
da nossa fé: - Encarnação, Paixão e Morte de Jesus Cristo. E é justamente esse
o nome que assume o Homem-Deus: - Jesus, que significa Salvador; Cristo, que
significa ungido e consagrado.
O verificarem-se as profecias faz
reconhecer em Jesus o Messias prometido; porém, Suas obras, isto é, os Deus
milagres e as Suas profecias, lhe demonstram a divindade.
Divindade
de Jesus Cristo: os testemunhos
23.
- Jesus Cristo era verdadeiramente Deus.
Afirmara-o
Padre Eterno no Batismo de Jesus e na Transfiguração:
-
"Este é meu Filho dileto, no qual pus as minhas complacências" (Mat.
III, 17).
Afirmara-o mais vezes Ele mesmo, Jesus,
quando falou a Nicodemos: "Tanto amou Deus o mundo que deu seu Filho
Unigênito" (Jo. III, 15); aprovando e louvando a Pedro pela sua confissão:
"Tu és o Cristo Filho de Deus vivo", (Mat. XVI, 16); respondendo a
Filipe: "Quem me vê a mim, vê também o Pai (Jo. XIV, 9); proclamando mais
de uma vez: "Eu e o Pai somos uma mesma coisa" (Jo. X, 3); e, por
fim, confessando altamente a divindade em face de Caifás, que o conjurava a
dizer se era Ele o Cristo, filho de Deus bendito: "Tu o disseste" (Mat.
XXVI, 64). Tais afirmações, confirmou-as com milagres e profecias.
As
provas da Divindade: Milagres
24. - Milagre é um fato sensível superior
a todas as forças da natureza criada, fato de tal ordem que somente pode vir de
Deus, autor da natureza.
Deve ser um fato sensível, que realmente
caia sob os sentidos, para que possa verificar-se e ter desse modo valor
probativo;
deve ser superior a todas as leis da
natureza de forma a não poder ser produzido pelas forças naturais; mas será
devido só à intervenção da causa primeira, que é Deus.
Deus, de fato, havendo desde a
eternidade estatuído as leis da natureza, preestabeleceu também as exceções a
essas leis, para serem cumpridas no tempo.
Os milagres podem distinguir-se em acima
e fora das leis da natureza e contra esta. - São acima, se o fato excede a
todas as forças naturais, como, por exemplo, a ressurreição dos mortos; são
contra, se o fato ocorre de modo contrário ao que regularmente acontece em
casos semelhantes, como, por exemplo, os três jovens não serem queimados na fornalha
de Babilônia; são fora, quando o efeito poderia ser produzido também pelas
forças da natureza, mas em outras circunstâncias e de outro modo, como, por
exemplo, a cura instantânea de um enfermo a uma simples palavra.
O milagre feito em confirmação de uma
doutrina demonstra com certeza a verdade da mesma, visto como Deus não pode
intervir a confirmar com milagres uma doutrina falsa.
É, porém, necessário observar:
a) que o fato miraculoso tenha verdadeiramente
acontecido;
b) que o fato seja verdadeiramente
miraculoso, isto é, superior a todas as forças da natureza: e nós conhecemos
bem o que a natureza não pode nem poderá fazer nunca;
c) que o fato seja realizado em
confirmação daquela doutrina, que se quer fazer aceitar por verdadeira.
Ora, Jesus Cristo realizou
verdadeiramente fatos superiores a todas as forças humanas e às da natureza, e
os operou em confirmação da Sua divindade.
1. - Os milagres, operados por Jesus
Cristo, são historicamente provados. Narram-no-los testemunhas oculares, que
não poderiam ter-nos referido coisas falsas, pois, quando eles escreveram os Evangelhos,
ainda viviam os inimigos de Jesus, e esses teriam podido taxá-los de mentira,
se houvera.
2. - Os fatos foram realizados por Jesus
Cristo, em nome próprio, para demonstrar a Sua divindade. Assim na cura do paralítico,
sarado propositalmente para demonstrar que tinha Jesus Cristo o poder de
perdoar os pecados, e que logicamente era Deus (Mat. IX, 1-7). Os santos
operaram, outrossim, milagres e os operam, mas em nome de Deus e para provarem
a verdade da doutrina de Jesus Cristo.
As
profecias
25. - Além de se verificarem em Jesus
Cristo as profecias do Antigo Testamento, fez Ele também profecias Suas, que se
verificaram todas e com todas as minúcias.
Assim, predisse a Sua paixão, morte e ressurreição,
a negação de Pedro e o abandono dos Apóstolos, a destruição de Jerusalém, a difusão
do Seu Evangelho pelo mundo, a dispersão do povo judeu, etc.
Logo, Jesus Cristo é verdadeiro Deus: -
esta é a verdade ensinada pela Igreja contra a heresia de Ário, que negava a
divindade do Verbo, e foi condenado pelo Concílio de Nicéia em 325.