sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

XIII - A morte (Sacerdote)

Nota do blogue: Meus agradecimentos para uma bela alma pela transcrição desse capítulo. Deus lhe pague, querida de Deus.

Indigna escrava do Crucificado e da SS. Virgem,
Letícia de Paula

(Jesus Cristo falando ao coração do Sacerdote, ou meditações eclesiásticas para todos os dias do mês, escritas em italiano pelo Missionário e doutor Bartholomeu do Monte traduzidas pelo Pe. Francisco José Duarte de Macedo, ano de 1910)


I. – Lembra-te, filho, que hás de morrer.
Tu agora vês moribundos, assistes a funerais e exéquias, celebras Missa por defuntos; e não consideras que brevemente por ti se hão de fazer os mesmos Ofícios?
Passado pouco tempo, teu corpo será depositado na igreja com aquelas vestes com que todos os dias sobes ao altar, e será enterrado naquela sepultura de sacerdotes, sobre a qual passas tantas vezes. Dir-se-á: Morreu aquele sacerdote mundano...; depois com o melancólico som dos sinos acabará tua memória.
De quem serão as tuas dignidades, as riquezas, as comodidades, que com tanto afã procuraste gozará delas quem menos pensas. Se, passados poucos meses, poderás levantar da sepultura a cabeça, verias talvez tudo dissipado em loucuras e pecados.
Tua carne tão delicadamente tratada, será pasto de vermes; e tornar-se-á tão disforme teu corpo, que teu maior amigo não teria coragem de dormir uma noite, nem ainda estar poucas horas com ele, cerrado no mesmo aposento.
E que será feito da tua alma?...

II.- Reduzido ao triste espaço de uma cama, acabado para ti o mundo, acabará com ele também a ilusão. Então, à luz da vela benta, quão diferente juízo formarás das riquezas, dos prazeres, das honras, dos negócios do mundo, dos respeitos humanos, que tanto dominaram o teu coração? Confessarás que tudo era vaidade e aflição de espírito.
Valer-te-á então a ciência vã, a ociosidade, as palavras e maneiras estudadas; ou as boas obras e trabalhos, sofridos pela salvação do próximo? Escarnecerás da vida bem regulada dos sacerdotes mais exemplares; ou invejá-las-ás com a maior ânsia? Consolar-te-á o ter vivido uma vida mundana e inquieta; ou ter procurado a perfeição do teu estado?
Quantos sacerdotes de espírito vão e soberbo, conhecendo, naquele momento extremo, a grandeza das luzes e graças que receberam, dos deveres que não cumpriram e dos pecados que cometeram, se deram ao desespero por se não terem santificado!
Naquele momento, filho, não poderás emendar o passado; morrerás miseravelmente, como Anfioxo e Judas![1] Acabará o erro e a ilusão; mas também acabará o tempo!...

III. – Num instante te verás às portas da eternidade.
Oh! Quanto maior seria então o teu contentamento, se tiveras gastado o tempo, não na ociosidade ou divertimentos profanos, em ajuntamentos e conversações inúteis, e ocupado em negócios alheios a um eclesiástico; mas sim procurando a salvação das almas e fazendo dignos frutos de penitência!
Oh! Se naquele transe poderás haver um só de tantos dias perdidos, ou ainda uma só hora para alcançar perdão, graças e coroas de glória! Mas não, filho, não te será concedido mais nem um instante de tempo; não gastarás mal quando era teu! Então não sabias em que matar o tempo; os dias te pareciam anos; nunca chegava a noite. Eis de todo acabado o tempo: estarás satisfeito?!...[2]
Considera por um pouco qual o estado em que te acharias, se agora te colhesse a morte! E porque não te resolves já a fazer o que naquela hora quiseras ter feito?
Fui Eu que disse, filho, e te repito ainda como bom pai: - Faze o bem enquanto é tempo, antes que te surpreenda a eternidade; porque então principiam as trevas da noite, em que já não é possível trabalhar!...[3]

Fruto. – Reflete bem se, sendo agora assaltado pela morte, tua consciência estaria tranqüila; senão, tranquiliza-a sem demora. Paga dívidas, corta pela raiz o mal, fugindo da ociosidade, daquela ocasião, daquela companhia, daquela casa, reconciliando-te com aquelas pessoas, etc.
Confessa-te, como se fora a última confissão que houveras de fazer; celebra o santo sacrifício da Missa, comungando nele como se fora por viático; recita a ti mesmo as orações Commendationis animae, que se acham no fim do Breviário.
Em tuas obras e resoluções pergunta a ti mesmo: se eu agora tivesse de morrer, faria isto?
Santo EDMUNDO, arcebispo de Cantuária, estando no leito da morte, quando avistou o SS. Viático, que tinha pedido com grande instância, exclamou com grande afeto, estendendo-lhe os braços: Sois Vós, Senhor, aquele em que tenho crido sempre, e quem tenho pregado: Vós sois testemunha de que só a Vós tenho buscado em toda a minha vida. Eu não tenho desejado outra coisa, nem desejo senão fazer a Vossa santa vontade. 



[1] ...Plaga divina admonitus,... Antiochus  aiebat: Reminiscor malorum, quae feci;... et propterea invenerunt me mala: justum est subditum esse Deo. Pollicebatur autem Templum sanctum optimis se donis ornaturum... super haec, in omnem terrae locum praedicaturum Dei potestatem,... Orabat autem scelestus ille Dominum, a quo non esset misericordiam consecuturus. (1.° MACHAR., VI, 12 e seg.; e 2.°, IX, 13.)

[2] Amittere tempora tanta, perdere tanta lucra! Nihil pretiosius tempore: sed heu! nihil hodie vilius aestimatur. Transeunt dies salutis, et nemo cogitat: nemo sibi non redditura momenta periisse causatur. (BERNARD., Declam. 16.)

[3] Quia igitur momentis suis horae fugiunt, agamus, ut in boni operis mercede teneantur. Audiamus quid sapiens Salomon dicat: Quodcumque potest manus tua facere, instanter operare; quia nec scientia, nec ratio, nec sapientia erunt apud inferos, quo tu properas. Eccles., IX, 10. (S.GREG., Homil. 13.)