Nota do blogue: Agradeço a Verônica, irmã e amiga em Cristo, pela transcrição desse capítulo. Deus lhe pague, querida de Deus.
Indigna escrava do Crucificado e da SS. Virgem,
Letícia de Paula
(Jesus Cristo falando ao coração do Sacerdote, ou meditações eclesiásticas para todos os dias do mês, escritas em italiano pelo Missionário e doutor Bartholomeu do Monte traduzidas pelo Pe. Francisco José Duarte de Macedo, ano de 1910)
I. – Filho, caís em muitos defeitos,
até com advertência e, porque são culpas leves, julgas que não são grande mal.
Mas oh! quanto te enganas! Porque não são mortais, porque te não condenam às
penas do Inferno, não deverás abster-te deles para Me comprazer? Oh! se
souberas quão grande é o teu Deus, não O estimarias tão pouco![1]
Não deverias antes perder tudo, até a
mesma vida, que dar-Me o mínimo desgosto? Qualquer culpa, ainda que leve, não
será sempre maior que a mais grave pena? Conheces isto, filho, ensiná-lo aos
outros, e não obstante tratas-Me assim? não uma só, mas muitas vezes, e até no
exercício dos atos mais santos!?
Compadeço-Me da tua fragilidade; mas
quão pouco te custaria vencer-te em tão pequenas coisas, não rejeitando tu os Meus
auxílios? Não merecerei, pois que faças por Mim tão pequeno sacrifício? Se não Me
és fiel no pouco, nunca o serás no muito.
II. – Levanta os olhos, caro filho,
contempla-Me nesta cruz, e vê como Me têm tratado e Me tratam ainda os pecadores!
E a ti bastará só o não tornares a crucificar-Me? E deverei Eu dar-Me por
satisfeito com que tu não calques aos pés o Meu sangue? Tão escassamente te ei
amado?
Vê como te envergonham tantos seculares
que, com menos faltas do que tu, edificam no caminho da virtude, sendo tu tão
negligente em servir-Me. É assim que Me comprazes?
Lembra-te que Eu quis lavar os pés a Meus
apóstolos, antes da última Ceia, principalmente para lhes ensinar que, quem se
aproxima da Minha mesa, deve possuir especial limpeza da alma; e tu, que tantas
vezes sobes ao Meu altar, viverás cheio de defeitos, e não farás diligência
alguma para preparar-Me um coração o mais puro possível? Quem se alimenta de Mim,
não deverá viver todo para Mim?
III. – Eu sofro com paciência; mas
sabes, filho, que não posso deixar impune a culpa; sabes que nenhuma mancha tem
lugar no caminho do Céu; sabes que em Meu tribunal há de ser pesada até uma
palavra ociosa que não for exigida por pia utilidade e por justa precisão;
sabes que todo o Sacerdote há de ser julgado com maior severidade do que os
leigos.
Considera como um Moisés foi punido por
aquela falta; considera quantas almas são atormentadas no Purgatório, por longo
tempo, com penas maiores do que quantas se podem padecer no mundo; considera
quantas outras foram condenadas às chamas eternas, porque, com as culpas veniais,
abriram caminho às mortais; vê como Judas principiou por pouco, e acabou por
vender o seu divino Mestre.[2]
Se não atendes a Mim, atende ao menos ao
teu interesse. Se, por cada culpa venial, tivesses de ser lançado a uma
fornalha ardente, farias todos os esforços por não cair nela; e não farás
esforço algum por evitar perigos muito mais graves, e castigos muito mais
horrendos?
Fruto. – Faze todos os dias exame de
consciência; renova os propósitos sobre faltas mais frequentes, impõe-te alguma
penitência por elas. Dize muitas vezes a ti mesmo: Se eu, com um só pecado
venial, pudesse resgatar todo o Inferno, ainda assim o não havia de cometer.
Oh! se tantas almas que padecem no Purgatório
por culpas veniais, pudessem voltar ao mundo...! mas já não é tempo! Lembra-te
principalmente que, desprezando o pouco, cairás no muito.[3]
S. Tomás de Vila Nova costumava dizer: Que,
sendo certo que qualquer simples cristão, que não progride na piedade, volta atrás;
um Sacerdote, que não tende como todo o esforço à perfeição, não só volta atrás,
como se torna muito pior que um leigo tíbio e negligente.
Santo Agostinho também dizia: Desde que
comecei a servir a Deus, assim como nunca conheci pessoas melhores que as que
tinham feito progressos no caminho da virtude, assim também nunca as conheci
piores que as que tinham decaído daquele estado.
[1] Quum Dominus
etiam pronuntiaverit, quod de omni verbo otioso, quod locuti fuerint homines,
reddent rationem in die Judicii, nihil omnino tanquam minutum contemni debet.
Quamquam quis est, qui peccatum ullum, cujuscumqne modi illud sit, leve audeat
appellare, cum asserat Apostolus, quod per transgressionem legis Deum
inhonoras? (Basil., Regul. brev. 4.)
[2] Mirabile
quiddam, atque inauditum dicere audeo. Solet mihi nonnunquam, non tanto studio,
magna videri peccata esse vitanda, quanto parva, et vilia; illa enim ut
aversemur, ipsa peccati natura efficit; hæc autem hac ipsa re, quia parva sunt,
desides reddunt. Unde cito ex parvis máxima fiunt negligentia nostra. Sic in
Juda maximum proditionis malum exortum est: nisi enim putasset parvum esse
pecuniam inopum surripere, in tantam protervitatem non devenisset. Hac via
omnia scelera fieri videbis: nemo enim repente ad extremam improbitatem
insiliit. (Chrysost., Hom. 87.)
[3] Scriptum est:
Qui modica spernit, paulatim decidit. Qui enim peccata minima flere ac devitare
negligit, a statu justitiæ, non quidem repente, sed partibus cadit. (Greg., Past.
III, Adm. 34.)