Monsenhor Francisco Pascucci, 1935, Doutrina Cristã,
tradução por Padre Armando Guerrazzi, 2.ª Edição, biblioteca Anchieta.
CREDO
Art. IV. - Padeceu sob o poder de Pôncio
Pilatos, foi crucificado, morto e sepultado.
Os Inimigos de Jesus
31.
- Jesus era o Messias prometido. Devia resgatar os homens da escravidão do pecado
e do demônio, reconciliá-los com Deus, ensinar-lhes o caminho do céu e os meios
para consegui-lo. Os Hebreus esperavam também pelo Messias, mas faziam dele uma
idéia errada, supondo que os devesse libertar do jugo dos Romanos e
restabelecer um reino terreno mais esplendoroso que o de Salomão.
Jesus
com a Sua pregação não deixava de combater fortemente o vício e desmascarar a hipocrisia
das várias seitas, que dominavam na Judéia, e especialmente a dos fariseus (separados).
Enquanto aparentavam estes o máximo respeito à lei, eram, no coração, cheios de
vícios, de tal modo que o Senhor os chamava sepulcros caiados.
Foram
eles precisamente, que, aliados aos grandes da nação - sacerdotes e escribas - decidiram
matar a Jesus; e o povo, fácil em deixar-se arrastar e mui débil, embora amasse
e seguisse a Jesus, de quem fora tão beneficiado - deixou-se vencer e chegou a
pedir a morte de seu benfeitor.
O
Filho de Deus Se encarnara para sofrer e morrer pelos homens, a fim de
satisfazer à divina justiça, ofendida pelo pecado e de par em par nos reabrir
as portas do céu. Como chegara o tempo estabelecido pelo Padre, deixou que a
malvadeza dos inimigos, a que outras vezes se subtraíra, tivesse livre curso
contra Ele.
Oração no Horto
32.
- Depois da última ceia, celebrada por Jesus com os Apóstolos, na quinta feira
antes da festa de Páscoa, após a instituição da Eucaristia, começou o drama da
Paixão.
Jesus,
retirado em oração ao horto do Getsêmani, em face dos tormentos que entrevia
num futuro próximo e, sobretudo em face dos pecados, qual responsabilidade
tomava sobre Si, sofre por várias horas terrível agonia, e, não obstante o
conforto trazido do céu por um anjo, espadana-Lhe do corpo santíssimo abundante
suor de sangue.
A condenação
33.
- Uma turba de soldados e ministros do templo, guiada pelo Apóstolo traidor,
Judas Iscariotes, veio capturá-lO. Um beijo do traidor hipócrita dá a conhecer
o Mestre aos soldados, que se apoderam d’Ele, O ligam e O conduzem ao tribunal
de Anás, antigo sumo sacerdote, e dali ao tribunal do sumo sacerdote Caifás, onde
se reunira todo o Sinédrio. Mal ouvidas umas poucas testemunhas de acusação, Caifás
conjura a Jesus, em nome de Deus vivo, lhe diga se Ele é o Cristo Filho de
Deus. Jesus responde: "Tu o disseste". A essa explícita declaração, o
sumo sacerdote e todo o Sinédrio o declaram réu de morte. Como, porém, após a ocupação
romana, não tivessem mais os Judeus direito de vida e de morte, Jesus Cristo
foi entregue às mãos de Pôncio Pilatos, que, em caráter de Presidente, governava
a Judéia em nome do Imperador Romano.
Pilatos
mais de uma feita interroga a Jesus, e nada Lhe encontra para condená-lO à
morte: procura libertá-lO; mas, finalmente, atemorizado pelas ameaças e pelos
gritos do povo, que os grandes da nação instigavam, O condena a morte de cruz.
Manda primeiro flagelar a Jesus Cristo, e, após ter lavado as mãos para
declarar-se inocente daquele sangue a derramar, entrega-O aos soldados, para
que O crucifiquem.
Caminho do Calvário. - Agonia e Morte
34.
- Carregado do pesado madeiro da cruz, entre dois ladrões, condenados também à
crucificação, Jesus foi conduzido ao Calvário, pequena eminência fora das
muralhas da cidade, e, nesse local, O despojaram das vestes e O afixaram a uma
cruz com duros pregos. Ergueram a cruz à vista de todos. E, nela, passadas três
horas de sufocante agonia, Jesus, inclinando a cabeça, rendeu o espírito ao Padre,
em presença de Sua Mãe santíssima, que, de par com o predileto discípulo João,
se achava ao pé da cruz. Quando Jesus esteve a morrer, o sol se obscureceu,
houve um terremoto fortíssimo e cindiu-se em duas partes o véu que encerrava o
Santo dos Santos no templo de Jerusalém.
Consumava-se
desse modo a Redenção do mundo, pela qual Jesus quisera suportar tantos sofrimentos,
embora Lhe bastasse e fosse até superabundante um só suspiro Seu, por ser um ato
de Deus e, por isso mesmo, de valor infinito.
Sepultura
35.
O corpo exânime de Jesus, transpassou-O barbaramente ao costado a lança do
soldado Longino, e, deposto da cruz por José de Arimatéia, foi sepultado num
sepulcro novo, de pedra, que José de Arimatéia construíra para si no horto,
junto ao Calvário. Por temerem os Judeus que os discípulos de Jesus lhe
furtassem os despojos e proclamassem depois que Ele ressuscitara - obtiveram de
Pilatos colocasse esbirros em guarda ao sepulcro, cuja pedra foi selada.