Nota do blogue: Agradeço a Daniella Buarque, irmã e amiga em Cristo, pela transcrição desse capítulo. Deus lhe pague, querida de Deus.
Indigna escrava do Crucificado e da SS. Virgem,
Letícia de Paula
(Jesus Cristo falando ao coração do Sacerdote, ou meditações eclesiásticas para todos os dias do mês, escritas em italiano pelo Missionário e doutor Bartholomeu do Monte traduzidas pelo Pe. Francisco José Duarte de Macedo, ano de 1910)
I.
- Filho, ainda que sejas pio, fervoroso, humilde e tudo o que quiseres, se não
és casto, nada és em Minha presença. Quem quer ser Meu amigo deve amar a
pureza; muito mais um ministro Meu, que se obrigou solenemente a viver casto.
Se
uma só vista curiosa, um mau pensamento consentido torna réus de culpa grave os
seculares, quanto mais réu serás tu, em quem os pecados contra a castidade são
gravíssimos sacrilégios?
Parece-te,
filho, que aquela língua, que todos os dias Me chama e faz baixar do Céu ao
altar, deva ser imunda? Que as mãos, que tocam a Minha carne imaculada, devam
ser sórdidas? Que quem tem no coração o ídolo da torpeza, deva receber o Filho
da Virgem?
Se
Me queres ofender, busca outra língua, e não essa que tinges com o Meu Sangue;
busca outras mãos, e não essas que tocam a Minha Carne Sacrossanta; busca outro
coração, e não esse que deve arder no Meu Amor.
Com
que rosto ousarás aproximar-te do Meu Altar, ardendo em chama impura? Como não
te horrorizas de consagrar o Meu Puríssimo Corpo, e de representar-Me, a Mim,
que Sou espelho de pureza?!
II.
- Não te envergonhas, filho, de ser escravo de uma paixão torpe, tu que devias
viver uma vida mais que angélica, emulando a Minha Pureza?
Deves
ser com o teu exemplo, com o desvelo e doutrina o defensor e o propagador da
virtude da castidade; mas como o serás, se não és casto? Com que eficácia
pregarás aos outros, no púlpito ou no confessionário, que sejam puros, se o não
és tu?
Que
farão os seculares, hoje tão inclinados a conversas e atos lascivos, se te vêem
obrar e ouvem falar como eles?
Para
evitares o mau exemplo é necessário que fujas de toda a familiaridade e frequência
não só má, mas até da que simplesmente se possa suspeitar mal.[1] Não digas: Eu
sei em minha consciência, e Deus, meu Juiz, me é testemunha de que não peco
nisto nem venialmente[2]; não te basta isto; não, porque és devedor aos fiéis
da mais santa edificação[3]. E sendo assim, com quanta maior razão deves evitar
o trato e familiaridade com as pessoas que sabes são impudicas? Quantos
estragos e ruínas trarias às Minhas pobres almas? Não seria isto inspirar-lhes
coragem para pecar? Arrastá-las a todo o gênero de maldades, e, com o teu
exemplo, subministrar-lhes o veneno da morte e a condenação eterna, tu, que
devias conduzi-las ao Céu?!
III.
- Foge, filho, foge de por os pés neste caminho escorregadio; porque é fácil a
entrada nele; mas oh, quão difícil é depois a saída![4]
O
demônio emprega mais e maiores tentações contra os sacerdotes; porque lucra
mais com a sua queda, que com a dos outros.
Lembra-te
que vives rodeado de perigos contínuos. Varões exímios na virtude e vida
espiritual, de cuja queda se podia recear tanto, quanto da dos Jerônimos, dos
Ambrósios, dos Gregórios santos, caíram.[5]
Infeliz
de ti, filho, se cais neste vício! Uma queda arrasta consigo mil pecados de
pensamentos, de obras tuas e de outras, de injustiças, de impiedades, de
sacrilégios, etc.
Depois
a força do hábito, a violência da paixão, a cegueira do entendimento e a dureza
do coração levam a estado tal, que já se não atendem os avisos dos parentes, os
rogos dos bons, as correções dos superiores, nem toda a murmuração do público;
já os não detém a perda da honra, da fazenda, da vida, da alma, nem as cãs que
lhes cobrem a cabeça.
Já se não atendem, antes se
desprezam, as Minhas luzes e graças, os remorsos, os castigos, as misérias
públicas e até os mesmos milagres; abusa-se sacrilegamente das confissões, das
Missas e de todos os Sacramentos; já se não crê ou se não tem o juízo, o
inferno, a eternidade com todos os seus horrores[6].
Deste
modo ou morrem ao fim repentinamente, ou, recebendo naquela hora os Sacramentos
em pecado, como os receberam em vida, param na condenação eterna.
Foge,
filho, foge e teme esse abismo[7]; por um lisonjeiro e momentâneo prazer não
queiras ser comparado ao mais insensato dos brutos (jumentis insipientibus); não entres em tão horroroso caminho, que
conduz à perdição eterna.
Se,
porém tens ânimo de condenar-te, corre após teus imundos prazeres; mas
lembra-te que Eu estou sobre esta Cruz, padecendo por ti; ao menos hás de
confessar que Eu te quis salvar; mas que tu, a despeito das Minhas Chagas e do
Meu Amor, te quiseste condenar.
Fruto.
- Foge do ócio[8]; acautela os sentidos[9]; mortifica a carne ao menos com o
estudo, com a sobriedade e abstinência.
Recorre
às chagas de Jesus, mormente no tempo da tentação[10]. Tem fervorosa devoção para
com Maria Santíssima.
Evita
a conversação de pessoas díscolas e mundanas, principalmente de mulheres; não
te fiando até nas que são piedosas[11]. Santo Inácio dizia: Que do trato
frequente com mulheres, ainda que espirituais, nasce ou chama que queima, ou
fumo que tisna a fama.
Também
te não fies nas parentas. São Filipe Nery adverte: Que o demônio saberá dizer
mulher, e não irmã; e que na guerra dos sentidos os covardes, que fogem, são os
vencedores.
Notas:
1. Cavete omnes suspiciones; et quidquid
probabiliter fingi potest, ne fingatur, ante devita. (HIERON., Epist. ad
Nepotian., 2.)
2.
Neque paratum habeas illud et trivio:
sufficit mihi conscientia mea; non euro
quid de me loquantur homines. Apostolus enim jubet provideri bona, non
tantum coram Deo, sed etiam coram omnibus hominibus. (HIERON., Epist. 11)
3.
Propter nos conscientia nostra sufficit
nobis; propter alios vero fama nostra nos debet pollui. Qui fidens conscientiae
suae, negligit famam suam, crudelis est: maxime in loco isto positus, de quo
dicit Apostolus: Circa omnes te ipsum bonorum operum exemplum praebe. (AUGUST.,
Serm.)
4.
Fovea profunda, ei putens augustus...
(Proverb., XXII, 14; XXIII, 17). Haec rubigo vix potest aboleri: praecipue quia
tales personae quasi nunquam integre et plene confitentur... Saepe mutant
confessarium... Sed, quod pejus est, eum quaerere deberent medicos spirituales
cautos, peritos, et expertos, qui scirent illam aegritudinem, ei causas ejus
agnoscere, ac congruum remedium adhibere, non solum id non faciunt; sed si
semel ad aliquem talem pervenerint, ipsum ex tune fugiunt: quaerunt ergo
confessores idiotas, etc. (S. THOM., Opuscul. 64).
5.
Multos vulneratos dejecit, et fortissimi
quique interfecti sunt. (Prov. VII, 26) Non in praeterita castitate confidas:
nec sanctior enim David, nec Salomone potes esse sapientior. (HIERON., Epist.
2).
6.
Quando ab impudica libidine capta fuerit
anima, nullum sinit videre ulterius, non praecipitium, non gehennam, non
timorem... Et quomodo qui sunt orbati, si vel in fixo meridie steterint sub
medio coeli, lucem non suspiciunt: ita isti quoque, etiamsi innumerabilia
undique insonent salutaria dogmata, illorum anima hoc morbo praeoccupata,
omnibus ejusmodi verbis aures obstruunt. (S. JOAN CHRYSOST., Hom. 11. 1ª
Corint.)
De
luxuria enim caecitas mentis, inconsideratio, inconstantia, praecipitatio, amor
sui, odium Dei, affectus praesentis saeculi, horror autem, vel desperatio
futuri generantur. (S. GREG., Moral., 31)
7.
Libidinem fugiendam esse Apostolus
evidenter ostendit: qui cumomnibus vitiis praedicaverit resistendum, dum contra
libidinem loqueretur, non dixit resistite, sed fugit fornicationem... ergo
contra libidinis impetum apprehende fugam, si vis obtinere victoriam. Nec tibi
verecundum sit fugere, si castitatis palman desideras obtinere, etc. (S.
AUGUST., Serm. 250 de Temp.)
8. Facit aliquid
operis, ut te sempre Diabolus inveniat occupatum (HIERON., Ad Rust. Ep. 4). Salamon per otium semetipsum
involvit fornicarionibus... Libido cedit rebus, cedit operibus; cedit luxuria
laboribus et industriae (S. BERN., De modo bene vivendi)
9.
Averte faciem tuam a muliere compta: propter speciem mulieris multi perierunt:
et ex hoc concupiscientia quasi ignis exardescit: Speciem mulieris multi
admirati, reprobi facti sunt. In medio mulierum noli commorari: de vestimentis
enim procedit tinen, a muliere iniquitas viri (Eccl., IX, 8-11); XLII, 12-13;
Eccles., VII, 27). Unde ab omnibus christianis, praecipue tamen Clericis sive
monachis, mulierum familiaritas vitanda est; quia sine ulla dubitatione, qui
familiaritatem non vult vitare, cito dilabitur in ruinam (AUGUST., Serrm.).
Nec
solum extrancarum, sed etiam ancillarum nostratum, vel quarumcumque vicinarum,
aut filiae, aut alumnae, aut ancillae, vitanda familiaritas, ei secreta
collocutio, atque refrenanda ocularum incauta fragilitas: quia illarum quanto
vilior conditio, tanto facilior ruina est (Ibidem).
10.
Quum me pulsat turpis aliqua cogitatio,
recurro ad vulnera Christi. Cum me premit caro mea recordatione vulnerum Domini
mei resurgo, etc. (AUG., Manual., 22).
11.
Nec tamen quia sactiores fuerint, ait S.
Augustinus, ideo minus eavendae. Quo enim sactiores fuerint, eo magis
alliciunt: et sub praetextu blandi sermonis immiseet se viscus impiisimae
libidinis... Noverint spirituales, quod licet carnalis affectio sit omnibus
periculosalosa est magis, maxime quando conversantur cum persona, quae
spiritualis videtur, etc. (S. THOM., Opusc)