Porque é que sou católico, por Jean Guiraud, redator chefe de "La Croix", 1930
Não
foi somente na minha vida intelectual, mas também na vida de família que pude
averiguar a excelência da minha fé católica. Ora, se me foi ela necessária a
mim, na criação e direção do meu lar, não o terá sido menos para todos os pais
e mães de família.
É
antes do casamento, que o catolicismo prepara o jovem para o papel e as pesadas
responsabilidades que tem de assumir, quando fundar, casando, uma família. Recorda-lhe
que é para o seu lar que deve manter extreme de toda impureza o corpo e a alma.
Não
pecar contra a castidade,
Não
desejar a mulher do próximo,
recitou
ele desde os mais tenros anos no catecismo. Ao principio, não penetrava o sentido
dessas palavras, mas desde que se manifestou a puberdade e que certas curiosidades
discretamente satisfeitas lhe revelaram o mistério da transmissão da vida,
explicaram-lhe que Deus não o dotou de poderosas energias vitais para que as esperdice
e corrompa em prazeres solitários ou com a cumplicidade de um parceiro. Só podem
ser tais energias despendidas para dar vida, e a própria vida não se pode transmitir
senão dentro do próprio quadro criado por Deus para dirigi-la: a família. Foi também
dito ao moço que lhe cumpre conservar a pureza e integridade do corpo para que
a vida que vai dar um dia aos que dele devem provir, seja pura ela também, e nenhum
abuso, nenhuma contaminação lhe tenha diminuído ou conspurcado a fonte.
A
família está assente sobre o amor humano santificado pela caridade do Cristo.
Devem os futuros esposos trazer ambos um afeto que paixão alguma tenha vindo macular,
deve achar-se o coração deles tão puro como o corpo. Só assim, é que, de fato,
a sua união pelo casamento chegará a ser íntima e profunda, porque é
inteiramente, na integridade absoluta do próprio ser, que se dão um ao outro.
Assim é que o catolicismo, os prepara um para o outro, antes mesmo que se
tenham conhecido.
Chegada
a hora do casamento, ensina-lhes a se conhecerem mutuamente, indicando-lhes as
qualidades essenciais que deverão antes de tudo procurar um no outro para a sua
união. Declara-lhes a fé cristã: não é o casamento nem a união de duas
fortunas, pois não seria em tal caso mais que uma sociedade comercial; nem, a
união de dois caprichos, pois ser-lhe-ia tão efêmera a duração como o próprio capricho,
nem tão pouco a correspondência de duas paixões, pois não resistiria quando já não
estivesse uma no mesmo diapasão da outra. É pois, o casamento o dom total dos
dois esposos um ao outro para a vida que daí em diante será comum, com as suas
alegrias materiais e morais, os seus prazeres e as suas venturas, mas também
com os seus cuidados, as suas penas, as suas tristezas e os seus lutos. Como esses
compromissos perpétuos são de tal ordem que vão além das forças humanas quis o
mesmo Deus sancioná-los tornando-lhes possível o cumprimento pela penetração desse
socorro divino que se chama a graça; e assim é que de um pacto humano fez Ele
um sacramento, um ato sobrenatural.
Para
que produza esse sacramento todos os seus efeitos, mister se torna seja recebido
com o espírito que lhe deu o ser e tenham os nubentes idéia nítida do fim
sobrenatural da união que vão contrair. Limitá-la a um prazer puramente humano,
fôra, de certo, profaná-la. Assim é que recorda a Igreja aos esposos, em suas
preces, os seus votos e também as suas prescrições morais invioláveis, isto é,
que sendo o fim da família a transmissão da vida, quebranta a lei essencial do
casamento quem nele apenas vê a satisfação dos sentidos, quem pretende
desfrutar prazeres egoísticos que não comportam nenhum dever, nenhum sacrifício,
e quem, sobretudo, com manobras criminosas, restringe a vida que tinha
obrigação de propagar.
Nossa
fé nos ensina que há uma castidade conjugal resolvida a não fazer nada que
diminuir possa o objetivo do casamento, a saber, a transmissão da vida. O que a
violam encontram-se em franca rebelião contra a lei divina e não poderiam continuar
a praticar a sua religião persistindo numa falta que a moral cristã fere com
todo o peso da sua reprovação. Os esposos que praticam a restrição voluntária
da natalidade, sem juntar a isso a castidade absoluta, acham-se excluídos de toda
a vida sobrenatural, enquanto perseverarem nessa triste perversidade.
Nenhuma
atenuante admite a nossa fé a essa regra que diz respeito à própria essência da
moral conjugal. Onera-nos duramente o encargo de filhos numerosos, incompatível
com os nossos parcos recursos? - É Deus quem nutre os filhotes dos passarinhos
- responde-nos a Igreja. As ocupações que tendes não se compadecem com a faina
de repetidas maternidades? - Pois mudai de ocupações, tratai de organizar
diversamente a vida, uma vez que as condições materiais nas quais a mesma se
exerce são coisas secundárias, postas em confronto com a divina lei. Mas minha saúde
não suporta a maternidade, numerosas maternidades. - Não façais então nada que
possa provocar uma maternidade e tornai a vida conjugal uma união casta, da
qual o prazer material esteja excluído, procedendo do mesmo modo se, de veras,
e em consciência, não podeis educar os filhos aos quais daríeis a existência.
Para
pôr em prática essa moral austera, é mister que um mesmo ideal moral, mais
ainda, uma mesma fé una os esposos, pois é fácil imaginar que desacordo, chegando
até à ruptura, não viria separar consortes que não pensassem e não quisessem agir
de combinação em tal matéria. Por isso é que condena a Igreja, em princípio, os
casamentos mistos, não somente os que contraem entre si pessoas de cultos diferentes,
como os que pretendem unir um crente a um incrédulo; se os tolera é com a
condição de obter o católico a promessa de que o seu ideal moral será respeitado.
Assim, é a harmonia de toda uma vida que proporciona aos esposos por suas exigências
e seus conselhos, e é sobre a lei imutável de Deus, pela união estreita dos corações
e das consciências e um compromisso perpétuo santificado pelo próprio Deus, que
a fé cristã funda os lares.