Monsenhor Francisco Pascucci, 1935, Doutrina Cristã,
tradução por Padre Armando Guerrazzi, 2.ª Edição, biblioteca Anchieta.
CREDO
Art.
V. - Desceu aos infernos, ao terceiro dia ressuscitou dos mortos.
A descida ao Limbo
36. - A alma divina de Jesus, separada
de Seu corpo divino, desceu ad inferos,
aos lugares inferiores. Acha-se indicado com estas palavras o Limbo, isto é, o
lugar, onde se encontravam as almas dos justos do antigo pacto. Esperavam a Redenção,
para poderem entrar no Céu. A presença do Redentor difundiu alegria infinda àquelas
almas justas e lhes fez gozar da essencial bem-aventurança, que é a visão de
Deus. Verificou-se então a promessa feita por Jesus ao bom ladrão: "Em
verdade te digo, hoje estarás comigo no Paraíso".
A Ressurreição
37.- Ao alvorecer do terceiro dia, que
era o primeiro da semana, a alma de Jesus se Lhe reuniu ao corpo, e Jesus ressuscitou.
Do sepulcro ainda fechado, saiu Ele glorioso e triunfante, para não morrer
mais. Forte terremoto sacudiu a terra a Anjo do Senhor derrubou a pedra que
fechava o sepulcro.
A ressurreição de Jesus é em si o maior
dos milagres, porque Jesus ressuscitara por virtude própria, - e é a maior prova
de Sua divindade assim como da verdade de Sua doutrina. O corpo ressuscitado de
Jesus possuía todas as atualidades dos corpos gloriosos, isto é, a agilidade, a
impassibilidade, a subtileza, o esplendor: - conservou as cicatrizes das cinco
chagas para maior conforto dos bons, para maior confusão dos ímpios no dia do juízo
e para melhor demonstrar aos discípulos a Sua real ressurreição.
Aparições
38. - Jesus ressuscitado quis ficar por quarenta
dias na terra:
a) para mostrar que verdadeiramente
ressuscitara. Apareceu, de fato, muitas vezes em vários lugares, a muitas
pessoas e em tempos diversos: - apareceu a São Pedro, à Madalena, às pias senhoras,
aos apóstolos no Cenáculo, comendo com eles e fazendo-Se tocar por Santo Tomé,
que não queria crer na Ressurreição;
b) para confirmar na fé a Seus
discípulos e instruí-los mais profundamente em Sua doutrina. Naqueles dias
perfez a instituição dos sacramentos e conferiu a São Pedro o primado,
constituindo-o chefe.
Art.
VI. Subiu ao céu, está sentado à mão direita de Deus Padre Onipotente.
Ascensão e glória no Céu
39. - Passados quarenta dias, o Redentor
convidou os Seus discípulos a irem ao monte das Oliveiras, e, ali, erguidas as
mãos, os abençoou; acompanhado das almas dos justos, partiu do meio deles,
elevando-Se ao céu. Subira ao céu por virtude própria, não como Deus, porque já
o era, mas como Homem-Deus.
E foi tomar posse, como homem também, da
eterna gloria, para Ele preparada pelo Padre em premio de quanto fizera e sofrera
em obediência á sua santa vontade.
Desde aquele dia, a humanidade de Jesus
deixou de estar neste mundo com presença visível: ficou, porém, entre os homens
com presença invisível no augusto Sacramento do Altar. Como Deus, Jesus está em
todos os lugares; como Deus e homem, está no céu e no Santíssimo Sacramento do
Altar.
No céu, fica sentado à direita de Deus
Padre Onipotente. A Escritura se adapta com essas palavras à nossa linguagem;
quer significar que, assim como nós damos à direita ao personagem mais digno,
assim também no céu a humanidade santíssima de Jesus Cristo tem o primeiro lugar
de honra e de poder após a Divindade.
Art.
VII. - Donde há de julgar os vivos e os mortos
Juízo particular e universal
40. - No fim do mundo, Jesus Cristo
voltará, visivelmente, à nossa terra, com grande poder e majestade, para julgar
os vivos e os mortos, isto é, a todos os bons e maus, segundo as obras deles.
Não deveremos esperar pelo fim do mundo para sermos julgados, porquanto haverá
dois juízos: - um particular ou individual, logo após a morte; outro, universal,
no fim do mundo.
Este segundo juízo não reformará a
sentença do primeiro, mas o confirmará com maior solenidade:
a) para a glória de Deus, para que todos
conheçam e sejam constrangidos a confessar que Deus fez bem todas as coisas e
assim justificada seja a Sua Providência;
b) para a glória de Jesus, condenado e
desprezado pelos homens, para que todos O reconheçam por Deus e soberano Juiz;
c) para a glória dos santos, afim de que
sejam exaltados diante de todos, os que viveram cá na humildade e, não raro,
padeceram perseguições;
d) para confusão dos maus, afim de que
sejam envergonhados diante de todos e desmascarada a hipocrisia dos perversos.
Nada sabemos do lugar e do tempo, onde
se fará o juízo universal. Jesus Cristo, no Santo Evangelho, nos fala somente dos
sinais precursores do juízo e do modo como se desenrola. Far-se-á num instante:
Deus iluminará todas as consciências: não haverá necessidade de exames nem de
interrogações, as ações de cada um todos as verão como queridas e realizadas. A
sentença, dá-la-á Jesus, que chamara para o céu os justos, com as palavras:
"Vinde, benditos de meu Pai, tomai posse do reino preparado para vós desde
a fundação do mundo" e condenara os maus com a sentença: "Apartai-vos
de mim malditos, para o fogo eterno, que está preparado para o demônio e para
os seus anjos". (Mat. XXV, 34-41.)
Art.
VIII. - Creio no Espírito Santo
O
Espírito Santo
41. - Professamos crer no Espírito
Santo, terceira pessoa da SSma. Trindade, procedente do Pai e do Filho por via
de amor.
Macedônio negou a divindade do Espírito
Santo; pelo que a Igreja, no Concilio Constantinopolitano do ano 381, juntou ao
Símbolo Niceno uma afirmação explícita contra essa heresia. Focio negou que o
Espírito Santo procedesse também do Filho, e a Igreja contra esse erro ajuntou
ao símbolo Niceno-Constantinopolitano a afirmação explícita: "qui ex Patre
Filio - que procedit - que procede do Padre e do Filho".
Manifestações
42. - O Espírito Santo Se manifestou no
Batismo de Jesus em forma de pomba, e é a forma em que vem comumente figurado;
no dia de Pentecostes, desceu sobre Maria Santíssima e os Apóstolos, no
Cenáculo, em forma de línguas de fogo - símbolo da chama purificadora e
transformadora do Evangelho.
Obras atribuídas ao Espírito Santo. -
Dons e efeitos
43. - Ao Espírito Santo se atribui
particularmente a santificação das almas, obra de amor: comunica invisivelmente
a graça às nossas almas, santificando-as; opera em todos os sacramentos, mas em
dois de modo especial e eficaz: na Crisma,
isto é, quando se recebe a abundância dos sete dons, e na Ordem, em que o ministro de Jesus Cristo recebe, com o caráter, uma
plenitude de luz, força e santidade, como a tiveram os apóstolos, para
cumprirem bem os próprios deveres e fazerem dignamente as obras de Deus. Ao
Espírito Santo se recorre para se Lhe implorar luz, força e consolação.
Os sete dons do Espírito Santo são: - sabedoria,
inteligência, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus.
Art.
IX. - A Santa Igreja Católica, a comunhão dos Santos.
Origem e definição da Igreja.
44. - Jesus Cristo veio à terra para
salvar a todos os homens.
A esse fim duas coisas seriam
necessárias: ensinar-lhes a verdade e infundir-lhes, na vontade, a força para praticá-la.
A obra de Jesus Cristo devia perpetuar-se na terra: nesse objetivo quis Ele
instituir uma sociedade, onde precisamente pudessem os homens encontrar os
meios de conseguirem a salvação eterna. A tal sociedade chamou-lhe Igreja, palavra grega que equivale a assembléia, reunião. Jesus, realmente, entre os que O seguiam, a doze
escolhidos, que chamou Apóstolos, lhes deu o poder de ensinar, santificar e
reger; e aos fiéis incumbiu-lhes o de crerem naqueles e lhes obedecerem. À
testa dos doze, pôs São Pedro; tudo para a glória de Deus e salvação das almas.
Temos, pois, todos os elementos de uma sociedade, isto é, cabeça, membros, fim
e meios.
Tal sociedade fora prenunciada pelos profetas.
E Jesus Cristo dele falou frequentemente em Suas parábolas, quando assemelhava
"o reino dos céus" a um campo, em que vai semeada a boa semente de
par com a cizânia; a uma rede, onde há bons e maus peixes; a um celeiro, em que
há grão e palha, etc.
A Igreja é, portanto, a sociedade dos
verdadeiros cristãos, isto é, dos batizados, que professam a fé e doutrina de
Jesus Cristo, participam dos seus sacramentos e obedecem aos pastores por Ele
estabelecidos.
Note-se a expressão "verdadeiros
cristãos", porque não basta ser batizado para se pertencer verdadeiramente
à Igreja; faz-se mister ainda professem a verdadeira fé, frequentem os
sacramentos e obedeçam aos legítimos pastores. Jesus Cristo fundou uma
sociedade: a) visível, que possa
facilmente ser reconhecida, e não uma sociedade de espíritos; b) religiosa, sobrenatural no fim a colimar, que é a vida eterna, e nos meios que
conferem a graça; c) necessária, enquanto
fora dela se não pode obter a salvação; d) perfeita,
enquanto possui fim e meios próprios e é independente de qualquer outra
sociedade; e) desigual e hierárquica, pois nela há quem governa e
quem deve obedecer.