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Fr. Manuel Sancho,
Exercícios Espirituais para Crianças
1955
PARTE SEGUNDA A Imitação de Cristo
(Via iluminativa)
VI. VIDA
OCULTA DE CRISTO
1.
Conexão desta meditação com as anteriores. 2.
História da vida oculta de Cristo. —3. Humildade que nela resplandece. — 4.Sua
obediência: a) Na vida oculta Ele praticou especialmente esta virtude; b) Quem
obedece; c) Porque obedece; d) Como obedece.
1.
— Tereis observado que, desde que começamos a segunda semana de Exercícios,
isto é, desde a consideração do Reino de Cristo, caminhamos sempre de olhos
voltados para Ele, o que é ir pela via iluminativa. Na última explicação
falei-vos da humildade, virtude que Cristo tão excelentemente nos ensinou na Sua
Encarnação e no Seu nascimento. Mas, como essa virtude é tão necessária e se
aplica a todos os atos da vida espiritual, não é de estranhar que hoje, ao
falar-vos da vida oculta de Cristo, sejam a humildade e a obediência as
virtudes que na época mais longa da vida de Cristo resplandecem. Por isto,
quadra neste lugar a explicação que hoje nos ocupa, explicação que
indubitavelmente chegará ao vosso coraçãozinho, por tratar de Cristo na época
em que
Ele era mais parecido convosco, na época da infância e da Sua primeira
juventude.
2.
— Não me deterei a vos contar aquilo que já sabeis a respeito da vida de Jesus
na infância. A adoração dos Reis Magos, a perseguição de Herodes, a fuga para o
Egito, o regresso à Galiléia e, finalmente, a perda e o encontro do Menino
Jesus no Templo: estes fatos todos vós os sabeis de memória. Somente vos direi
algo da vida oculta que Jesus menino e adolescente levou em companhia de José e
da Virgem Maria, em Nazaré.
Figurai
uma casinha parecida com uma cabana no seu aspecto tosco e pobre. A casa está
unida, suas paredes estão pegadas a umas penhas em que há cavada uma gruta que
forma como que o fundo da casa, e na entrada desta há um jardinzinho.
Assim
se explica hoje em dia aos viajores o lugar ocupado por uma igreja, lugar a que
chamam casa de nutrição, como se disséssemos casa onde o divino Menino cresceu
“em idade e ciência diante de Deus e dos homens” (Lc 11, 52). Quando Ele era
pequeno, assim de vossa idade, ajudava Sua mãe e seu pai putativo nos afazeres
domésticos; trazia água da fonte próxima, a que agora chamam Fonte da Virgem,
amontoava aparas e rebotalhos de madeira, que levava ao lar, cumpria diversos
misteres. Nos momentos livres que seus pais lhe concediam, brincava. Pasmai!
também brincava! E como vós brincaríeis bem com Ele! Entre parênteses,
dir-vos-ei que Ele sabe brincar muito bem de esconder, coisa de que ainda
agora, sendo grande, brinca. Escondido está na Eucaristia; escondido está
quando deixa a alma atribulada e aparentemente só; escondido quando o chamamos
e Ele se faz de desentendido, para que com mais eficácia o forcemos. Quando
tiverdes desejo de estar com o divino Menino e de amá-lO e beijá-lO, chegai-vos
ao SS. Sacramento e dizei-Lhe:
Por
que te escondes, meu Jesus? Quando te verão meus olhos? Sei que estás aí: a fé
mo ensina, mas eu quisera ver-Te como estavas em Nazaré. Manifesta-me Tua
presença por Tuas graças suaves, como a manifestavas às crianças de Nazaré por Tua
amabilidade requintada. Oh! Jesus, quão bem sabes o brinquedo de esconder que o
amor te ensinou! e como atormentas o meu pobre coração ansioso por Ti! Não te
escondas de mim totalmente, meu Jesus!
Convém
que as considerações sobre Jesus no Seu nascimento, na Sua vida oculta, na Sua
vida privada, vão entremeadas de afetos, porque falar de Jesus não é
simplesmente contar uma história qualquer, porém uma história do amor imenso
que Ele nos teve.
Prossigamos
a nossa narração:
A
Virgem instruía Seu Filho na lei de Moisés, fazia-Lhe de mestra, e Ele, que
sabia tudo enquanto Deus, enquanto homem recebia lições de uma donzelinha. Como
Jesus tinha vindo ao mundo para nos remir, embora fosse Menino, com a
gravidade de um homem passeava à noite no terraço que têm as casas da
Palestina, e, contemplando o céu, pensava em nós, orava por cada um de vós,
porque era infinito e nada escapava ao Seu entendimento divino.
Uma
sombra de tristeza pousava-lhe sobre aquela fronte serena de menino: nublava-a
o pensamento da sua morte espantosa, e, como homem, Ele a sentia, embora
intensamente a desejasse. Naquelas meditações surpreendia-O Sua Mãe, que O
compreendia, porque ninguém compreendeu Jesus como Maria, e dizia-Lhe que era
hora de repousar. O Menino mansamente obedecia; Maria recebia no Seu coração a
tristeza de Seu Filho, beijava-O, e o Menino sorria.
Já
maior, ajudava Seu pai no seu labor de carpintaria tosca, pois é tradição que
S. José fazia arados e jugos, e manejava a garlopa, o malho, a verruma, o
martelo... E, ao dar marteladas pregando pregos, Jesus pensava nas marteladas
que sobre Ele haviam de desfechar os seus algozes pregando-o na cruz.
Não
procurava a publicidade, trabalhava no seio da família, orava, obedecia. Amava
sua Mãe como ninguém amou a sua, e ao bendito S. José como ninguém amou seu
pai. Nunca replicava, rezava em comum com eles, adivinhava-lhes os pensamentos
para os pôr em prática imediatamente.
Eu
creio que, conhecendo os mistérios da redenção e não ignorando os futuros
padecimentos de Seu Filho muito amado, a Virgem alguma vez, ao Lhe beijar a
fronte, deixaria cair sobre ela puríssimas lágrimas. Mas um sorriso de Jesus
dissiparia a tristeza do porvir brumoso, com a alegria do bem atualmente
possuído. Por outra parte, as doces intimidades que provinham, sobretudo de
Jesus, como da Sua fonte natural, derramariam sobre aquela casinha venturosa
como que um orvalho celestial de inefável felicidade, orvalho com que Jesus
banha tudo o que toca. Essa vida oculta de Jesus com Sua família parece-me uma
mistura destas duas coisas. As histórias nada nos deixaram dessa etapa da vida
de Jesus, a mais longa e a mais oculta.
3.
— Mas, deixando de lado o que poderia acontecer na vida oculta de Jesus, duas
virtudes podemos tirar dela. A primeira é a humildade que Jesus praticou
durante Sua vida toda, mas sobretudo na Encarnação e no seu Nascimento, como já
vimos e agora acabamos de considerar na Sua prolongada vida oculta de trinta
anos.
Deus-Homem,
oculto trinta anos, sem fazer ostensivamente coisa alguma! Aquele que havia de
fazer tanto ruído, revolvendo o mundo, passava existência tranquila trabalhando
como carpinteiro, ignorado de todos, o último de todos! Conta-nos o Evangelho
que os que viam os milagres d’Ele e ouviam a Sua doutrina maravilhosa, diziam:
“Não é este porventura o filho do carpinteiro?” E, se o tivessem conhecido, os
Seus vizinhos de Nazaré também poderiam dizer então: “Este é o Filho de Deus?
Este é aquele que há de transtornar a humanidade? Este é aquele que há de atrair
a Si todo o mundo? Este carpinteiro é um ente tão grande assim? É Deus? Este?”
Oh!
como confunde a nossa soberba Jesus Menino, Jesus adolescente, passando em
Nazaré a Sua vida oculta! Como é diferente o proceder daqueles que,
parecendo-lhes estarem no mundo para grandes coisas, só desejam publicidade,
ruído, fama. Verdade é que os bombos soam muito, e já não soa tanto um bloco de
ouro.
Já
vistes nos moinhos de água das torrentes como ferve a espuma? A água
precipita-se formando borbotões e, sobre eles, aparatosa, fervente, turbulenta,
aparece a espuma. Ui! como deve ser terrível a espuma, que dessa forma se nos
apresenta! Todavia, ela não é nada. Mal aparece, desfaz-se. Em compensação, as
pepitas de ouro não se vêem, estão no fundo da torrente, ocultas entre areias e
pedrinhas.
Assim
são os soberbos: espuma e só espuma. Os humildes, ricos em verdade, calam-se e
estão ocultos entre ofícios vis, como as pepitas de ouro entre o cascalho da
torrente. Assim estava oculto Jesus de Nazaré; não era espuma no vazio e no
bulício; era bloco de ouro acendrado de amor aos homens, ouro riquíssimo das
mais excelsas virtudes.
Era
uma vez um valdevinos vestido de rei, parecendo rei de comédia, arlequim de
feira. Era um pobre diabo que fora elevado ao governo supremo do país por uma
revolução popular, como as tempestades soem revolver o fundo dos rios e trazer
vermes à superfície. O reizinho gritava e gesticulava e dava chicotadas no povo
soberano, e expedia “ukases” e tossia bem forte. Era um cruel forrado de tolo,
e fazia muitíssimo ruído. A nação precipitava-se no abismo vertiginosamente.
Um
pobre homem, um campônio rústico e virtuoso, tendo a mão no cabo do arado e nos
lábios o Deus que manda as chuvas temporãs e as tardias, ia lavrando a sua
terra.
Enquanto
os homens públicos, dirigidos pelo arlequim soberbo, todo espuma e
estardalhaço, traziam à nação a fome e miséria mais espantosa, a terra que o
calado labrego fecundou com seu suor cobriu-se de messes... e com isso a
sociedade salvou-se da sua total ruína.
Assim
faz o humilde calado; com suas virtudes ocultas salva a sociedade, enquanto os
amotinadores prometedores de grandes bens e verdadeiros males a levam ao
despenhadeiro.
A
consequência disto é bem simples. Não queirais ser famosos, não queirais
sobressair como a espuma, não queirais ser arlequins da sociedade. Imitai a
Cristo; aprendei da Sua vida oculta a humildade, e assim, ao vos salvardes,
salvareis a sociedade em que viveis.
Há
meninos que, mal sabem que um b com a faz ba, já lhes parece que sabem muito, e têm ânsia de comunicar a sua
ciência. Outros quereriam empunhar a férula do mestre e desferir palmatoadas a
torto e a direito. Oh! quão bem o fariam! Outros querem brilhar com discursos e
poesias, e ensinar-nos a nós, pobrezinhos que não sabemos. Uns sonham redimir a
humanidade e fazer cátedra pública de virtudes que eles não praticam. Estes
últimos não sois vós, incapazes ainda de tanto orgulho; mas indubitavelmente
tereis ouvido falar desses novos redentores.
Coitadinhos
duns e doutros! Os meninos a quem apetece sobressair e ensinar, e os homens que
se dizem redentores, quão diferente proceder têm do verdadeiro Redentor do
mundo, no seu humilde retiro de Nazaré!
Da
vida oculta de Jesus, meus filhos, aprendei a não quererdes brilhar, e apetecei
o vosso cantinho, o vosso labor oculto, como o do campônio, o vosso viver
trabalhando, estudando e obedecendo por amor de Deus; assim imitareis a
humílima vida oculta de Cristo.
4.
— De propósito empreguei a palavra obedecer, porque esta é a outra virtude que
brilha como um sol na vida oculta de Cristo.
a)
O santo Evangelho resume toda a vida que Cristo passou em Nazaré, em companhia
de S. José e da Virgem, com estas simples palavras: “Erat subditus illis". Era-lhes submisso; obedecia-lhes. Que
fez Cristo nessa etapa, a mais longa da Sua vida? Obedecer, somente obedecer.
S. José dispõe-se a fugir para o Egito; o Menino, que, embora ainda tão
pequeno, tudo compreendia, obedece. S. José volta do Egito, o Menino obedece
satisfeito. S. José permanece em Nazaré, o Menino ali permanece obediente.
Obedecia aos mandados, às insinuações, ao agradável, ao penoso, a tudo.
Quando
S. José lhe dizia: Jesus, apanha o cepilho, — o Menino apanhava o cepilho. —
Agora a garlopa, — e assim o fazia com muito gosto o Menino, obedecendo a tudo
prontamente e com alegria.
Sendo
Deus, Jesus podia, num suspiro, fazer um arado melhor do que os de então, de
ouro e de madeiras preciosas; contudo, parecia-lhe melhor o que aquele santo
varão S. José ordenava, pois em bondade ninguém O ganhava; e entre os dois eles
faziam o Seu arado com fadigas. Como vedes, Jesus sujeitava o Seu próprio
parecer ao de S. José.
No
melhor da coisa, ouvia-se a voz da Virgem: Meu filho, não há água em casa, — e
lá se ia Jesus à fonte com Seu cântaro ao ombro.
À
hora de jantar, Ele comia com alegria o seu caldo sem procurar finuras, antes
dando graças a Seu Pai celestial. Assim fazeis vós, quando vos queixais,
resmungando porque tal prato não vos agrada, ou porque desejais geléias e
doces? Quão pouco imitam a Jesus obediente os meninos que assim procedem!
Ao
considerardes o Menino Jesus obedecendo a S. José e à Virgem, talvez Ele não
vos pareça mui digno de admiração porque, direis, “às vezes eu também obedeço”.
Discorrer
assim indica escasso conhecimento do assunto que tratamos. Vereis às vezes uma
pedra preciosa, um diamante, por exemplo, tosco e sem polimento. Mas limai-o,
poli-o, esfregai-o na roda do lapidário, e Ele lançará faíscas, e a sua limpa
beleza vos causará admiração. Assim acontece com estes mistérios de Jesus
Cristo. Se considerardes a Sua vida de obediência em Nazaré como a vida de um
menino ou adolescente, ela não vos chamará a atenção; mas, se considerardes
quem é aquele Menino, quem é aquele Jovem que obedece a tudo quanto lhe mandam Seus
pais, maravilhar-vos-eis das cintilações daquela alma puríssima, e, se
considerardes como Ele obedece, subirá de ponto a vossa admiração e entusiasmo.
b)
Quem é aquele Menino que obedece? É Deus, reparai bem; é Deus, é aquele que fez
todas as coisas, aquele que deu o ser a Seu próprio pai putativo e a Sua Mãe a
Virgem Maria, é o Deus a quem adoram, tremendo, anjos e querubins; é o Deus
que, com um simples olhar ou um ato da Sua vontade, instantaneamente pode criar
milhares de mundos bons, e mesmo melhores do que este que habitamos; é o Deus
imenso, onipotente, belíssimo, infinito, sem medida. E este Deus, oculto no
frágil corpinho de um menino ou de um adolescente, este Deus-Homem, a quem
todas as criaturas obedecem, este Deus serra tábuas com Seu pai putativo, ajuda
Sua Mãe, varre quando Ela Lhe diz que varra, limpa quando Lhe diz que limpe,
dorme quando Lhe diz que durma... Oh! agora já não achareis isso tão simples,
não é verdade? Não é a mesma coisa lavar pratos uma copeira ou uma imperatriz;
não é a mesma coisa um soldado obedecer a um capitão ou um general obedecer a
um recruta. E Deus é mais do que uma imperatriz ou do que um general.
Humilhai
a vossa fronte e meditai e ruminai devagar este mistério da obediência de
Cristo em Nazaré, e dizei-lhe: “Meu Jesus, Tu obedecendo dessa maneira? Por
que tanta humildade? Por que te sujeitares e seguires em tudo a vontade alheia?
— Oh, Meu filho, — diz-nos Ele ao coração, — oh, Meu filho, faço-o por ti,
porque vejo que a tua grande desobediência tu a trazes no sangue, herdada!
Soberbo e desobediente por inclinação, sê doravante humilde e obediente, em
vista da Minha humildade e obediência”. Será possível que não ouçais esta voz
do bom Jesus? Desde já prometereis ser obedientes, não replicar, fazer a
vontade dos vossos superiores, como Jesus, com presteza e alegria, sujeitando o
vosso parecer ao alheio.
c)
Mas sabeis por que é que Ele obedece? Por amor de vós. Amor a nós, sempre amor
a nós, humilha-O até o nosso barro e O faz obedecer e sujeitar-Se naquela vida
oculta de Nazaré. Então, assim Te traz cativo o amor, meu Jesus? Então, é o
amor que Te torna obediente e humilde? O amor, ó minha vida, o amor Te cativa e
Te faz viver naquela humilde casinha; o amor Te move quando Tu Te moves
obedecendo; o amor faz-Te empunhar o cepilho, pegar o cântaro, varrer com Tua
Mãe; o amor manda-Te dormir, e Tu dormes; o amor faz-Te velar, e Tu velas. O
amor Te estimula, o amor Te força... e assim a Tua obediência é um ato de amor
a mim... Oh meu amor! Como pode haver quem não Te ame?
Animados
por tão sublime exemplo, cheios de amor a Jesus, desde já fazei propósitos de
obedecer sempre, pois Ele obedeceu por amor de nós.
Obedeceu
sobretudo para dar glória a Seu Pai Celestial. Deus determinou que toda
criatura vá ao seu fim obedecendo a outra criatura que o representa, e esta a
outra pela mesma razão; e recebe muita glória ao ver que o homem se sujeita a
outro homem por amor de Deus, honrando-o assim de modo excelente. Assim Jesus
obedecia a Maria e a José, olhando a Seu Pai, que por meio deles lhe mandava.
Com isto Ele nos ensina como devemos considerar a obediência.
Um
regimento vai a operações com o seu coronel à frente. Cada soldado obedece ao
seu cabo, os cabos e sargentos obedecem aos tenentes, estes aos capitães...
Obedecem cegamente, sem criticar, e operam todos eles com precisão admirável.
Como um simples soldado obedece igualmente o próprio filho do coronel. Ao qual
diz o general em-chefe que dirige as operações:
Amigo,
isto redunda em glória para ti, pois todos obedecem aos chefes subalternos como
tu mesmo.
Nisto,
passa por diante dos dois chefes, com passo marcial, um soldadinho que olha
risonho para o coronel.
E
esse bravo soldado? — pergunta o general.
É
meu filho.
E
ele obedece como os outros?
Exatamente:
é o primeiro na disciplina, e a nenhum cede em bravura.
Isto,
sim, é que honra ao sr. muito mais, coronel.
E
com isto o bravo militar fica satisfeitíssimo.
Igualmente,
com a obediência aos nossos superiores, nós honramos a Deus; mas Jesus Cristo
honra-O de maneira excelentíssima obedecendo a S. José e à Virgem.
Olhai,
finalmente, como é que Jesus obedece a Seus pais. Obedece pronta e
silenciosamente, sem replicar. Não se parecia convosco, que às vezes ides aos
vossos mandados murmurando entre dentes não sei que ladainhas; ou então fazeis
o que vos mandam movendo-vos preguiçosamente, como as tartarugas. Quanto custa
a uma tartaruga mover-se! Assim vos moveis vós para a obediência. Assim não era
Jesus.
Ademais,
obedecia com alegria. O seu gosto era fazer a vontade da Virgem e de São José. É
vosso gosto fazer a vontade dos vossos superiores? Refleti um pouco, e vos
vereis desobedientes e maus; mas animai-vos desde agora com o exemplo de
Cristo, e começai nova vida. Que íntima alegria acharíeis se, ao irdes
deitar-vos à noite, examinando a vossa consciência, pudésseis dizer:
Por
amor ao bom Jesus obedeci hoje aos meus superiores com presteza e alegria.
Graças, meu Jesus, que hoje posso oferecer-vos este punhado de rosas de
obediência.
Por
mais que vos custe, a isso estais obrigados. Com o exemplo de Cristo,
resolvei-vos a praticar virtude tão necessária, e dizei à Virgem:
Minha
Mãe, as nossas desobediências quotidianas ligam-se umas às outras, como elos
funestos de uma cadeia que nos sujeita ao demônio. Quebra esta cadeia, ó Virgem
Maria das Mercês; redime-nos da torpe escravidão da desobediência, e, com o teu
auxílio, seguiremos a Jesus pelo caminho da obediência, que é o caminho que
leva ao céu.
Pedi-Lhe
comigo esta mercê, rezando-lhe três Ave-Marias.