Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.
A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos,
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927
XX- De alguns
outros defeitos das crianças
A
sabedoria do mundo, diz S. Gregório, consiste em ocultar, por meio de mil invenções
e subterfúgios, tudo o que temos no coração, velando os sentimentos sob as
palavras... Mas a sabedoria dos justos consiste, pelo contrário, em nada
esconder, sobre falsos exteriores, servindo-se da palavra, para ser a
intérprete do pensamento. É preciso, escrevia Fénelon, que todas as palavras,
que se dizem às crianças, sirvam para lhes fazer amar a verdade, e para lhes
inspirar o desprezo de todas as dissimulações. Por isso não é bom servir-se de
qualquer fingimento para sossegá-los, ou para fazê-los persuadir de qualquer
assunto. Nem se devem fazer promessas ou ameaças, que eles conheçam não deverem
ter execução (Rollin). Seria ensiná-los a ter dissimulações.
«Fugi
de imitar as pessoas que elogiam as crianças que mostram o seu espírito, adotando
fingimentos ou dissimulações. Longe de achar graça a esses atos, deveis pelo
contrário, repreendê-los severamente. Privai-os daquilo de que eles mais
gostam, já que o quiseram obter por meio de estratagemas... fazei-os
envergonhar, quando os encontrardes em qualquer fingimento ou ardil... mas
quando mostrarem claramente os seus defeitos, não os trateis rudemente, para
que se não façam hipócritas e reservados» (Fénelon).
A
senhora de Boisy aproveitava-se de tudo, para formar, no coração de seu filho,
o horror pela mentira e pelo vício e criar nele o amor da verdade e do bem. Assim,
nunca se ouvia sair da boca de São Francisco de Sales uma só palavra contrária
ao que ele julgava a verdade, respondendo com ingenuidade e candura, e por isso
antes queria ser castigado, do que evitar o castigo por meio de uma mentira» (Vida
de São Francisco de Sales).
«Entre
todas as faltas, diz a filha primogênita da senhora Acarie, a que mais aversão
causava a minha mãe, era a mentira. Para nos fazer amar a verdade, dizia-nos
muitas vezes: Quando houverdes perdido tudo, ou virado a casa de cima para
baixo, se confessardes a vossa falta, perdoar-vos-ei de boa vontade; mas o
que nunca perdoarei, é a mais pequena dissimulação. E não era bastante que
todos os filhos confessassem ingenuamente as suas faltas, quando eram
interrogados; queria que eles se acusassem espontaneamente, pelo próprio
impulso dum humilde arrependimento.»
Acabemos
pelo conselho do grande arcebispo de Cambrai: «Acostumai (os filhos) a não
sofrerem nada de sujo ou mal arranjado; mas ao mesmo tempo evitai neles o
excesso da polidez e da limpeza... Zombai, diante das crianças, dos arrebiques
de certas mulheres que para isso fazem grandes despesas... dizei-lhes quanto é
baixo e vil ralhar por uma sopa mal feita, uma toalha mal posta, ou uma cadeira
mal colocada. Essa má delicadeza, não sendo reprimida nas mulheres que têm
espírito, é ainda mais perigosa para as conversações, que para tudo o mais. A
maior parte das pessoas lhes são piegas ou enfadonhas; o maior defeito de
polidez lhes parece um cúmulo, e por isso são sempre irônicas e aborrecidas. É
preciso fazer-lhes compreender cedo, que nada há menos correto, que julgar
superficialmente uma pessoa pelas maneiras, em vez de examinar o fundo do seu
espírito, dos seus sentimentos, e das suas qualidades úteis...»