Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.
A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos,
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927
XVI-
Da submissão à autoridade
«Nunca
deixes o orgulho reinar no teu coração; porque esse vício é a origem de todos
os males» dizia muitas vezes Tobias a seu filho. Seguindo o exemplo deste santo
velho, a mãe segundo a vontade de Deus extirpará do coração de seus filhos essa
raiz de toda a iniquidade, com todos os seus amargos rebentões.
Ora
o primeiro fruto do orgulho é o desprezo da autoridade e o espírito de
insubmissão, que põe em perigo a sociedade moderna, e que arrancou esta ameaça
à augusta Mãe de Deus : «Se o meu povo não quiser submeter-se, sou forçada a
deixar mover-se o braço de meu Filho»[1]. Todo o homem sensato o pode observar;
a mais santa autoridade, a da Igreja e de seu augusto chefe é indignamente
desprezada, não só pelos infiéis, mas até por filhos rebeldes e ingratos. Os
tronos sustentam-se hoje com grande dificuldade, agitados pelo vento da independência
e da revolta. Não tendes ouvido a cada passo os velhos a queixarem-se de que se
não respeitam os seus cabelos brancos? E os pais não se queixam igualmente da
insubmissão de seus filhos? Onde encontrar remédio para tão profunda chaga,
senão no zelo das mães verdadeiramente cristãs, que, com o leite, farão beber a
seus filhos o respeito da autoridade, e o espírito de submissão às suas leis se
elas próprias estiverem bem compenetrada da mais profunda veneração e do mais
terno amor pela santa Igreja, e pelo Soberano Pontífice, o vigário infalível de
Jesus Cristo, essas mães saberão transplantar esse sentimentos, do seu
coração, para o coração de seus filhos.
Não
é isso mesmo o que nós lemos acerca de M. Frémiot, presidente do parlamento de
Borgonha, e pai da santa baronesa do Chantal? Ficando viúvo com três filhos,
este generoso cristão reunia-os pela manhã e à noite sobre os joelhos, ou em
torno de si, e falava-lhes com a mais profunda convicção do poder e dos
benefícios da Igreja, das suas glórias e das suas provações. Sua filha Joana
Francisca (depois canonizada), estremecia alternativamente de alegria ou de
indignação, quando seu pai contava os triunfos ou as dores da Igreja. Os
sentimentos que nasceram das exortações paternas ficaram tão profundamente
radicados no seu coração, que, mais tarde, não podia atravessar, sem derramar
lágrimas, os lugares, donde os hereges haviam banido a fé da santa Igreja
romana.
«Fazei
amar e respeitar às crianças todas as comunidades que concorrem para o serviço
da Igreja, escrevia Fénelon; não permitais nunca que elas zombem do hábito ou
do estado religioso.» Num século em que os ímpios empregam gracejos sacrílegos
e as mais negras calúnias, para fazerem odiar e desprezar a religião e os seus
ministros, uma mulher cristã, longe de permitir que se profiram tais
palavras, diante de seus filhos, fará quanto em si caiba, por lhes inspirar o
respeito pelas coisas santas, e pelas pessoas revestidas dum caráter sagrado,
mormente os sacerdotes de Jesus Cristo. Não é o Padre o representante de Deus
na terra, e não recebeu uma autoridade e um poder que Deus não concedeu aos
anjos do Céu? Se, porém, arrastado pelo peso da fraqueza humana, a que o não
pôde subtrair o mais sublime ministério, se, dizemos nós, o Padre esquecesse o
que deve a si próprio e o que deve a Deus, não esqueceria a mãe cristã estas
palavras do grande imperador Constantino:
«Se
eu visse em falta um homem revestido dum caráter sagrado, cobri-lo-ia com o meu
manto, para esconder a sua fraqueza a todos o olhos.»
Não
há poder que não provenha de Deus, diz S. Paulo; quem pois resiste ao poder,
resiste à ordem estabelecida por Deus. O desprezo por uma autoridade qualquer
arrasta o desprezo de todas as outras autoridades. É preciso, pois, fazer
respeitar pelas crianças o poder civil, e todos quantos dele estão revestidos,
embora não se possa concordar com as leis que ferem a justiça ou os direitos
do Deus e da Igreja. A velhice também deve ser por elas respeitada.
«Levantai-vos em sinal de respeito perante a cãs do ancião», diz Salomão, e
Deus fez-nos conhecer o castigo dessas crianças que ousaram insultar o profeta
Eliseu chamando-lhe careca. Saíram alguns ursos duma floresta vizinha, e
devoraram esses desgraçados.
S.
Jerônimo escrevia a Laíta: — Acostumai vossa filha a correr com dedicação para
os braços de sua avó, quando a vir; que lhe faça carícias, e que lhe recite
algumas palavras dos cânticos sagrados.» Este conselho é hoje completamente
desconhecido. Quanto é custoso ver o avô ou a avó, tristemente assentados,
bebendo juntamente com as suas lágrimas, os desprezos dos netos, a quem os
próprios pais ensinam com suas palavras e exemplos, a desprezar os que são
dignos de tanta veneração e de tanto amor! Sabei, mulheres cristãs, que vossos
filhos vos tratarão um dia como vós tratais os vossos pais na sua velhice; e ai
de vós se não tendes senão ultrajes para os cabelos brancos dum pai, e duma mãe!...
Todas as manhãs, apenas faziam a sua oração, todos os filhos da Senhora de
Chantal iam abraçar o seu avô, e a própria mãe os acompanhava, para lhes dar o exemplo
do respeito filial, que todos os filhos devem ter para com seus pais.
[1]
Palavras da Santíssima Virgem aos dois pastores de la Salette.