Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.
A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos,
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927
XV- Do
desprendimento dos bens da terra
Os
Romanos, diz Fénelon, e antes deles os Gregos, ensinavam a seus filhos a não
estimarem senão a glória, e a quererem, não possuir riquezas, mas vencer os
reis que as possuíam, julgando que só pela virtude se podia ser feliz. Quando,
serão os filhos do século mais sábios que os filhos da luz?
Quando
deixarão de correr após as vaidades os discípulos daquele que não teve uma
pedra onde repousasse a cabeça, e que começou as Suas prédicas evangélicas,
por estas palavras: — «Bem-aventurados os que têm o coração desprendido dos
bens deste mundo!» Os exemplos dos pagãos deveriam cobrir de confusão os pais
cristãos, que só sabem ensinar uma única ciência a seus filhos—a de fazerem
fortuna; que os habituam a não considerarem felizes, senão os poderosos; que
só julgam do merecimento dos homens, pelas suas riquezas. Vós, ao menos,
piedosas mães, apreciais pelo seu justo valor o que o mundo tão cegamente
ambiciona.
As
riquezas fornecem, é fato, o meio de fazer boas obras, e de socorrer os pobres,
com a esmola. É a única vantagem que elas podem oferecer. E para isso é
necessário que quem as possui, tenha o necessário desprendimento, para fazer
delas esse nobre uso. Mas o mais das vezes fomentam no homem a luxúria e o
orgulho, que são as duas fontes de todos os nossos males. As preocupações que
dão, afastam os pensamentos sérios da fé e das práticas da religião; e é fora
de dúvida, que a indiferença religiosa, que é a chaga do nosso século, tem
origem nesta sede de bem estar material que devora a sociedade. De sorte que,
as riquezas trazem-nos mais perigos para nossa alma, do que verdadeira
felicidade. Afinal, consideradas em si próprias, que são as riquezas senão um
pouco de pó e cinza que em breve temos de deixar? E nada podem acrescentar ao
valor pessoal do seu possuidor, visto que não fazem parte dele.
Uma
mãe, segundo a vontade de Deus, encontrará na sua fé, e na sua razão bastante
grandeza de alma, para se elevar acima dos pensamentos mundanos, para desprezar
os bens da terra, e para ensinar os filhos a desprezá-los. Citar-lhes-á o
exemplo de Salomão que preferiu a sabedoria a todas as prosperidades, e a
todas as riquezas que o Senhor lhe oferecia, e especialmente o de Jesus Cristo
nascendo num presépio, e morrendo numa cruz.
Se
a seus filhos deverem tocar, por herança, alguns bens, far-lhes-á compreender
que Deus lhes pedirá conta do uso que delas fizerem; pois que de nada lhes
servirá serem ricos, se não forem virtuosos. Pelo contrário, servir-lhes-á a
fortuna de condenação, se os levar ao esquecimento de Deus e dos seus deveres
de cristão. Sendo pobres, dir-lhes-á com Tobias:—«Levamos uma vida pobre; mas
possuiremos muitos bens, se temermos a Deus.» Depois, para lhes fazer ter desapego
do que possuem, habituá-los-á a deixarem tirar por estranhos os seus
brinquedos; a pedir-lhes aquilo que já lhes tinha dado, e privando-os por algum
tempo dos objetos que mais pareciam extremar.
Se
disputam entre si a posse dum objeto, deve repreendê-los, e fazer-lhes sentir
que não há nada mais bonito do que privar-se um menino do que possui, para ser
útil aos outros. Será bom encarregá-los de levar aos pobres as esmolas dos pais,
para lhes fazer contrair cedo costumes de caridade; também se pode deixar à
sua disposição algum dinheiro, destinado aos indigentes que encontrarem.
Importa, todavia evitar que as crianças se acostumem à prodigalidade, que
dissipa loucamente os bens que se poderiam empregar em tão úteis ou tão nobres
usos, evitando sobretudo que eles se afeiçoem ao jogo, que pode, levado ao
estado de paixão, arruinar as mais brilhantes fortunas.