Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.
A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos,
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927
XVIII- Da bondade
para com os iguais e os inferiores
Pai
da revolta contra a autoridade, o orgulho também cria, para com os iguais, a
dureza de coração, e o desprezo para com os inferiores.
Se
nada há mais nobre do que sacrificar-se a si próprio, com seus gostos e interesses,
por dedicação para com o próximo, nada há mais vil do que tudo querer para si.
Uma mãe cristã, atenta a formar em seus filhos uma grande bondade de coração, e
em destruir neles o egoismo, falar-lhes-á muitas vezes daquele que, por amor
dos homens, se aniquilou a ponto de tomar a forma de escravo, e até de morrer
sobre uma cruz. Far-lhes-á contrair o costume de fazerem às outras crianças
todos os serviços que lhes poderem fazer, e sobretudo de terem um terno amor
para com seus irmãos e irmãs.
Que
encantador espectáculo não oferece uma família, cujos membros são todos unidos
por laços duma forte e constante caridade! ... E, por outro lado, nada há mais
triste, do que encontrar irmãos armados, quase desde a infância, uns contra os
outros, inimigos até à morte, nunca se vendo, ou vendo-se com visível desgosto?
Atualmente é isso um espectáculo vulgar. E não é verdade poder dizer-se especialmente
hoje este provérbio tão conhecido: É raro que a concórdia reine entre os irmãos?
E essa desordem, as mais das vezes, é fruto da negligência da mãe, que não
teve cuidado de repetir muitas vezes a seu filhos, com o Apóstolo da caridade:—«Meus
filhos, amai-vos uns aos outros, porque é esse o preceito do Senhor!»
Lemos
na vida da Senhora Acarie que exortava seus filhos a serem amigos uns dos
outros, e lhes contava muitas vezes as vantagens da concórdia e as
conseqüências funestas da desinteligência:—«É preciso sempre ceder, lhes dizia,
exceto quando a honra de Deus exige que se resista. Quem cede, ganha sempre a
vitória contra o seu adversário.» Os seus filhos mais novos, diz Doval, vinham
todas as noites contar-lhe os seus sentimentos, e se tinham tido disputas uns
com os outros, como de ordinário lhes acontecia, pediam perdão uns aos outros,
e abraçavam-se diante de sua mãe. — Todas as manhãs os filhos da senhora de
Ghantal se abraçavam, e estes sinais exteriores de afeição servem muitas vezes,
para entreterem a união dos corações, contanto que haja grande cuidado em
evitar amizades particulares, e familiaridades muito ternas.
«Fazei
compreender às crianças, diz Fénelon, que é um erro brutal acreditar que haja
homens nascidos para lisonjear a preguiça e o orgulho dos outros; e sendo o
serviço dos criados estabelecido contra a igualdade natural dos homens, deve-se
suavizá-lo, tanto quanto possível.» A senhora Acarie exigia que seus filhos
falassem aos criados com doçura e polidez, recomendando-lhes que lhes não
obedecessem, quando assim o não fizessem. De forma que nunca diziam a um criado:
«Faze isto, ou faze aquilo.» Eram obrigados a dizer: «Faça o favor de fazer
isto.» Doutra forma o criado tinha ordem de não obedecer.
Os
pobres e os doentes, esses membros pacientes de Jesus Cristo, merecem também
nossos respeitos e nosso amor.
Como
acusam negligência ou pouca fé de sua mãe essas crianças, que se encontram nas
aldeias, ou mesmo nas ruas duma cidade, a correrem atrás dos desgraçados
cobertos de andrajos, muitas vezes para os apedrejarem ou encherem de sarcasmos
e insultos!
Longe
de desviar seus filhos dos horríveis espetáculos da miséria, da dor e mesmo da
agonia, a senhora de Chantal queria que eles a acompanhassem nas visitas que
fazia aos pobres. Um levava o pão, outro os remédios, outro o dinheiro. Era a
recompensa que lhes dava, quando eles tinham cumprido a sua obrigação ou dado
provas de obediência. O maior castigo que lhes podia dar, era obrigá-los a
ficar em casa, à hora em que ia visitar os seus pobres. Era assim, por esta
meiga intimidade com os desgraçados, e contraída desde a infância que a senhora
de Chantal desenvolvia na alma de seus filhos a unção do coração, e fazia
jorrar essas fontes profundas de sensibilidade que parecem ter desaparecido dos
nossos dias, porque as crianças são educadas na vaidade que seca, em vez de
serem criadas na caridade que enternece» (Abade Bougaud).
«Quando
eu era criança, escreve o historiador de Santa Catarina de Sena, minha mãe
colocava-me sobre os joelhos, para derramar no meu coração as verdades cristãs.
Insistia sobre a caridade, e dizia-me: «É preciso sempre ver na pessoa do pobre a pessoa adorável de Nosso Senhor
Jesus Cristo.» E por isso com que respeito nós levávamos aos pobres um pedaço
de pão ou uma pequena moeda de cobre! Era a grande recompensa da semana. Quem
de entre nós melhor se tivesse comportado, e que melhor tivesse sabido as suas
lições, tinha a honra de distribuir as
pequenas esmolas, e acompanhar a sua mãe às cabanas da aldeia. Quando tínhamos
muito desejo dum brinquedo, há muito tempo prometido, dizia-nos a mãe: — «E se
nós déssemos esse dinheiro aos pobres?» E o sacrifício era feito de boa vontade.
«Íamos
ordinariamente sentar-nos num banco de pedra, que estava em frente da casa, à
beira da estrada, e na nossa infantil crença, olnavamos, se os rostos pálidos
dos pobres se pareciam com o crucifixo de marfim que estava no quarto da mãe, e
os nossos olhares perscrutadores, seguiam-nos através dos atalhos das nossas
montanhas. Todos os dias visitávamos uma santa mulher, maior ainda pelo coração
que pelo espírito, que abrira o seu castelo aos pobres; uma criada velha,
chamada Serafina, era a encarregada dessa nobre hospitalidade. Nunca deixamos
de lhe ir oferecer os nossos serviços para lhe fazermos preguntas acerca das
aventuras dos seus hóspedes tão veneráveis, para nossos corações. Como poderia
eu esquecer estas gratas recordações duma infância cristã?
Lamartine,
o inolvidável poeta, escreveu de sua mãe: «Via-a muitas vezes sentada, de pé ou
de joelhos junto da enxerga do pobre, ou nesses antros miseráveis, onde dormem
os proletários, enxugar com suas próprias mãos o suor frio dos pobres moribundos,
agasalhá-los com os seus próprios cobertores, recitar-lhes as orações dos
últimos momentos, e esperar pacientemente horas inteiras que a sua alma
deixasse a mansão do mundo, ao som da sua meiga voz.» Não há efetivamente obra
mais caridosa, e zelo mais importante, como assistir cristãmente aos
moribundos.