terça-feira, 7 de janeiro de 2014

A Mãe segundo a vontade de Deus/ XIV- Do amor do trabalho

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI

A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos, 
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927


XIV- Do amor do trabalho

O meio mais eficaz de combater, entre as crian­ças, a voluptuosidade e as suas tristes conseqüências, é fazer-lhes amar uma vida ativa e laboriosa. Nada é mais recomendado na sagrada Escritura, que o trabalho; e nada, depois do temor e do amor de Deus, é mais útil ao homem, que o hábito do traba­lho, que, procurando-lhe o pão de cada dia, exerce e desenvolve as suas faculdades; oferece-lhe verda­deiras consolações no meio das vicissitudes e con­trariedades da vida; arranca-o aos perigos da ociosi­dade, e faz-lhe expiar as suas faltas e fraquezas.


Enganam-se, pois, os país, que, condenados ao trabalho desde a manha até à noite, maldizem o que chamam a sua triste sorte, e ensinam a seus filhos a não considerarem senão como um suplício, o que é um grande benefício. Mas ainda é mais fatal a ilusão dos que, ou por negligência, ou por qualquer outro motivo, deixam seus filhos na mais completa ociosi­dade.

O ilustre bispo de Orleans, combatendo este fato: — «Quereis, brada, ser alguma coisa neste mundo, sem fazerdes nada? Isso é impossível; todas as leis morais e sociais se opõem a semelhante absurdo. Exigir que um rapaz de dezoito anos seja vir­tuoso, conserve o gosto do trabalho, e se torne um homem distinto, vivendo nos passeios de Paris, ou de qualquer outra grande cidade, numa faustosa ociosidade, com os cavalos, os charutos, os cães, a caça, os bailes, os teatros, e toda a louca vida do mundo; respondo simplesmente: é um absurdo. E poderia dizer qualquer coisa ainda com maior severidade.»

A terra sem cultura produz tojos e silvados, em cujos centros medonhos répteis vivem à sua vontade. A água estagnada corrompe-se, e a traça rói e devora o vestuário que se não usa... tristes imagens do estado infeliz de uma alma ociosa. S. Bernardo cha­ma à ociosidade o esgoto de todas as tentações, de todos os maus e inúteis pensamentos, e também a madrasta das virtudes, a morte da alma, a sepultura dum homem vivo, o receptáculo de todos os males.

«Sois ricos? pergunta Mgr. Dupanloup. Essa razão, em vez de vos justificar, torna mais culpada a vossa ociosidade. Então, pelo fato de terdes sido pago adiantadamente, não merecestes o vosso salá­rio? Que respondereis no tribunal de Deus, quando Ele vos pedir contas do talento que vos confiou, isto é da alma de vosso filho e da inutilidade da sua vida?»

Nas classes inferiores da sociedade, quantas crianças vemos nós na mais completa ociosidade, não só durante longas horas, mas até durante dias inteiros? Não encontramos nós nas praças e nas ruas das cidades uma imensidade de rapazes mandriões, correndo e brincando ? Até nas aldeias nos dias em que o tempo e a estação não permitem cultivar as terras, também vemos rapazes na mais completa inação. Os próprios que estão encarregados de guardar os rebanhos, conservam-se todo o dia, sem fazerem nada, que possa fixar a sua atenção, ou fornecer a seus membros um exercício salutar.

Quase por toda a parte, e em todas as condi­ções, ninguém se ocupa em dar às crianças de cinco a dez anos qualquer entretenimento capaz de lhes dar gosto pelo trabalho, e retê-los em casa.

É essa uma grande desordem, cujas conseqüên­cias dão o mal que constantemente se presencia. Pobres crianças! Entregues assim a seus próprios pensamentos, e a todas as inclinações de seu cora­ção, que tende incessantemente para o mal, vão encontrar na ociosidade o gosto dos brinquedos, ganhando horror à casa paterna. Companheiros mais idosos ensinam-lhes o mal que até aí ignora­vam, e este fermento de paixão, assim deposto na sua alma inocente, desenvolve-se depois com mais força na sua ociosidade. E assim ficam toda a vida. O próprio Santo Agostinho nos confessa que mul­tiplicava as suas desordens, durante os ócios que seus pais lhe consentiam.

Uma mulher cristã nunca deixará o seu filho ocioso. Desde a idade de quatro anos a sua filhinha começará a dar pontos num pano velho, e para que ela goste de se entregar a este inútil trabalho, terá cuidado de elogiar a sua aplicação. O rapazinho poderá entregar-se a trabalhos em relação com os seus gostos e aptidões. A mãe não temerá empregar cedo os seus filhos nos humildes arranjos da casa, se isso não estiver muito abaixo da sua condição. Na aldeia saberão varrer a casa e preparar os alimentos, e nunca irão guardar os rebanhos, sem levarem consigo algum trabalho, marcando-se-lhe tarefa, que deverão trazer pron­ta, quando regressarem.

Desde que os filhos tiveram forças, para serem empregados na casa, M.me Acarie deu-lhes fun­ções proporcionadas às suas forças e inteligências. Via-os depois a trabalhar, seguia a sua execução, e aplaudia-lhes a aplicação e o bom sucesso. S. Jerônimo escrevia a Loeta: — «Na educação de vossa filha, convém que a leitura preceda a oração, e a oração a leitura, que pegue alternada­mente na agulha e no fuso, cosendo obras finas, e fiando peças de lã, e essa variedade lhe fará pare­cer o tempo curto.» É preciso efetivamente que os meninos, especialmente quando são pequenos, variem varias vezes de ocupação. De certo se desgostarão dom trabalho que dure muito tempo.


Seria igualmente útil ensinar-lhes belas artes, para poderem recriar o espírito. Gostamos de encontrar num menino o gosto pelo desenho, pela pintura, pela música, pela cultura das flores, pela botânica, mineralogia e todas as ciências naturais. O importante é que as crianças nunca estejam umas em frente das outras, sem terem nada em que se ocupar, e que o seu espírito e imaginação estejam cheios de preocupações inocentes. «A santa baronesa de Chantal, diz o autor da sua vida, esforçava-se por estabelecer na alma de seus filhos o santo amor do trabalho. Mal as filhas souberam pegar na agulha, ensinou-as a bordar toalhas para os altares, a fazer roupa para os pobres, a nunca estarem ociosas. Ha­bituou também os filhos a uma vida ativa e ocu­pada, suprimindo assim uma parte dos perigos que mais tarde haviam de encontrar no mundo.