Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI.
A Mãe segundo a vontade de Deus ou Deveres da Mãe Cristã para com os seus filhos,
do célebre Padre J. Berthier, M.S
Edição de 1927
XIV-
Do amor do trabalho
O
meio mais eficaz de combater, entre as crianças, a voluptuosidade e as suas
tristes conseqüências, é fazer-lhes amar uma vida ativa e laboriosa. Nada é
mais recomendado na sagrada Escritura, que o trabalho; e nada, depois do temor
e do amor de Deus, é mais útil ao homem, que o hábito do trabalho, que,
procurando-lhe o pão de cada dia, exerce e desenvolve as suas faculdades;
oferece-lhe verdadeiras consolações no meio das vicissitudes e contrariedades
da vida; arranca-o aos perigos da ociosidade, e faz-lhe expiar as suas faltas
e fraquezas.
Enganam-se,
pois, os país, que, condenados ao trabalho desde a manha até à noite, maldizem
o que chamam a sua triste sorte, e ensinam a seus filhos a não considerarem
senão como um suplício, o que é um grande benefício. Mas ainda é mais fatal a
ilusão dos que, ou por negligência, ou por qualquer outro motivo, deixam seus
filhos na mais completa ociosidade.
O
ilustre bispo de Orleans, combatendo este fato: — «Quereis, brada, ser alguma
coisa neste mundo, sem fazerdes nada? Isso é impossível; todas as leis morais e
sociais se opõem a semelhante absurdo. Exigir que um rapaz de dezoito anos seja
virtuoso, conserve o gosto do trabalho, e se torne um homem distinto, vivendo
nos passeios de Paris, ou de qualquer outra grande cidade, numa faustosa
ociosidade, com os cavalos, os charutos, os cães, a caça, os bailes, os
teatros, e toda a louca vida do mundo; respondo simplesmente: é um absurdo. E
poderia dizer qualquer coisa ainda com maior severidade.»
A
terra sem cultura produz tojos e silvados, em cujos centros medonhos répteis vivem à sua vontade. A água estagnada corrompe-se, e a traça rói e devora o
vestuário que se não usa... tristes imagens do estado infeliz de uma alma
ociosa. S. Bernardo chama à ociosidade o esgoto de todas as tentações, de
todos os maus e inúteis pensamentos, e também a madrasta das virtudes, a morte
da alma, a sepultura dum homem vivo, o receptáculo de todos os males.
«Sois
ricos? pergunta Mgr. Dupanloup. Essa razão, em vez de vos justificar, torna
mais culpada a vossa ociosidade. Então, pelo fato de terdes sido pago adiantadamente,
não merecestes o vosso salário? Que respondereis no tribunal de Deus, quando Ele
vos pedir contas do talento que vos confiou, isto é da alma de vosso filho e da
inutilidade da sua vida?»
Nas
classes inferiores da sociedade, quantas crianças vemos nós na mais completa
ociosidade, não só durante longas horas, mas até durante dias inteiros? Não
encontramos nós nas praças e nas ruas das cidades uma imensidade de rapazes mandriões,
correndo e brincando ? Até nas aldeias nos dias em que o tempo e a estação não
permitem cultivar as terras, também vemos rapazes na mais completa inação. Os
próprios que estão encarregados de guardar os rebanhos, conservam-se todo o
dia, sem fazerem nada, que possa fixar a sua atenção, ou fornecer a seus membros
um exercício salutar.
Quase
por toda a parte, e em todas as condições, ninguém se ocupa em dar às crianças
de cinco a dez anos qualquer entretenimento capaz de lhes dar gosto pelo
trabalho, e retê-los em casa.
É
essa uma grande desordem, cujas conseqüências dão o mal que constantemente se
presencia. Pobres crianças! Entregues assim a seus próprios pensamentos, e a
todas as inclinações de seu coração, que tende incessantemente para o mal, vão
encontrar na ociosidade o gosto dos brinquedos, ganhando horror à casa paterna.
Companheiros mais idosos ensinam-lhes o mal que até aí ignoravam, e este
fermento de paixão, assim deposto na sua alma inocente, desenvolve-se depois
com mais força na sua ociosidade. E assim ficam toda a vida. O próprio Santo
Agostinho nos confessa que multiplicava as suas desordens, durante os ócios
que seus pais lhe consentiam.
Uma
mulher cristã nunca deixará o seu filho ocioso. Desde a idade de quatro anos a
sua filhinha começará a dar pontos num pano velho, e para que ela goste de se
entregar a este inútil trabalho, terá cuidado de elogiar a sua aplicação. O
rapazinho poderá entregar-se a trabalhos em relação com os seus gostos e
aptidões. A mãe não temerá empregar cedo os seus filhos nos humildes arranjos
da casa, se isso não estiver muito abaixo da sua condição. Na aldeia saberão
varrer a casa e preparar os alimentos, e nunca irão guardar os rebanhos, sem
levarem consigo algum trabalho, marcando-se-lhe tarefa, que deverão trazer pronta,
quando regressarem.
Desde
que os filhos tiveram forças, para serem empregados na casa, M.me Acarie
deu-lhes funções proporcionadas às suas forças e inteligências. Via-os depois
a trabalhar, seguia a sua execução, e aplaudia-lhes a aplicação e o bom
sucesso. S. Jerônimo escrevia a Loeta: — «Na educação de vossa filha, convém
que a leitura preceda a oração, e a oração a leitura, que pegue alternadamente
na agulha e no fuso, cosendo obras finas, e fiando peças de lã, e essa
variedade lhe fará parecer o tempo curto.» É preciso efetivamente que os
meninos, especialmente quando são pequenos, variem varias vezes de ocupação. De
certo se desgostarão dom trabalho que dure muito tempo.
Seria
igualmente útil ensinar-lhes belas artes, para poderem recriar o espírito.
Gostamos de encontrar num menino o gosto pelo desenho, pela pintura, pela
música, pela cultura das flores, pela botânica, mineralogia e todas as ciências
naturais. O importante é que as crianças nunca estejam umas em frente das
outras, sem terem nada em que se ocupar, e que o seu espírito e imaginação
estejam cheios de preocupações inocentes. «A santa baronesa de Chantal, diz o
autor da sua vida, esforçava-se por estabelecer na alma de seus filhos o santo
amor do trabalho. Mal as filhas souberam pegar na agulha, ensinou-as a bordar
toalhas para os altares, a fazer roupa para os pobres, a nunca estarem ociosas.
Habituou também os filhos a uma vida ativa e ocupada, suprimindo assim uma
parte dos perigos que mais tarde haviam de encontrar no mundo.