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TRATADO DOS ESCRÚPULOS DE CONSCIÊNCIA
PELO
ABADE GRIMES
1854
CAPITULO
VIII
CONFISSÕES
E COMUNHÕES DOS ESCRUPULOSOS
Sob este título, não queremos falar das
dificuldades, das penas, dos temores que eles experimentam nas suas confissões
e comunhões; já falamos disto mais acima, e ainda falaremos noutro lugar. Aqui
se trata das confissões e das comunhões mais ou menos frequentes a permitir ou
a prescrever aos escrupulosos. Deve-se fazê-los comungar amiúde? deve-se
fazê-los confessar-se frequentemente?
Não se pode repetir demasiado, primeiramente que as
práticas de piedade devem sempre harmonizar-se com as obrigações de cada um,
com a posição, a idade, o engenho, a cultura de espírito que lhe é própria; de
tal sorte que a frequência dos sacramentos ou os exercícios espirituais não
impeçam o penitente de cumprir os deveres do seu estado, de fazer as suas
práticas de piedade de maneira conveniente, e sirvam ao seu progresso e à sua
consolação segundo as diversas necessidades de sua alma. Cumpre, também, em
regulando o presente, pensar no futuro, e não fazer abraçar coisas de mais, a
fim de poder o penitente perseverar.
A frequência da confissão depende necessariamente
das circunstâncias individuais. Em geral, as pessoas que comungam de oito em
oito dias, ou mesmo várias vezes na semana, habitualmente se confessam de oito
em oito dias; há outras, entretanto, que, ou por vivacidade natural, ou por
violência das paixões, ou por obstáculos mais numerosos, ou por dificuldades
de conservarem a pureza de coração, precisam confessar-se mais vezes. Não
obstante, é para desejar que elas se acostumem, pouco a pouco, a caminhar sozinhas,
e a ser bastante firmes para só se confessarem uma vez na semana. Os verdadeiros
escrupulosos, os que são incessantemente roídos pela apreensão, ora devem ser
admitidos a uma confissão mais frequente, ora não devem sê-lo. Ao confessor é
que compete julgá-lo. Deve este considerar as faltas que eles acusam ordinariamente.
Se são verdadeiros pecados veniais caracterizados, ele deve ouvi-los; se são
faltas que não são formalmente pecados veniais, se são censuras vagas,
inquietações, não deve ele ouvi-las senão uma vez por semana, no máximo, ainda
mesmo quando eles comungassem várias vezes na semana. Geralmente, há muitos
inconvenientes em que um escrupuloso insista muitas vezes sobre essas espécies
de faltas ou de pretensas faltas.
Quanto às comunhões, é preciso primeiro seguir as
regras de São Francisco de Sales no tocante à comunhão frequente. Isenção de
pecado mortal, ausência de afeto ao pecado venial, grande e ardente desejo para
a comunhão de oito dias. Para a comunhão de cada dia, ou de vários dias na
semana, é preciso, além disso, haver vencido a maioria das más inclinações do
coração. Eis aí de acordo com que regras é preciso comportar-se. Mas, quanto às
repugnâncias dos escrupulosos de boa fé, quanto àqueles que o demônio quereria
afastar desse foco sagrado de fervor, de força e de vida, não se deve
escutá-los. A resistência deles para se aproximarem muitas vezes não deve levar
o confessor à condescender com o seu desejo. Pelo contrário, eles têm mais
necessidade que qualquer outro desse maná celeste para lhes sustentar o ânimo,
para lhes despertar a piedade e lhes consolar o coração. Sem esse divino
alimento, eles definhariam, cairiam em desfalecimento, e sucumbiriam
inteiramente.
É preciso tranquilizá-los, acalmá-los, e, não raro, forçá-los a
aproximar-se da divina Eucaristia; porquanto são precisamente esses esmorecidos,
esses fracos, esses doentes que o Pai de família quer fazer entrar como que à
força na sala do seu festim; e o que prova que a comunhão é um dos melhores
remédios contra os escrúpulos é que, ordinariamente, os escrupulosos nunca
ficam mais tranquilos do que no dia em que comungam. Mister se faz, pois,
resguardar-se bem de lhes secundar a repugnância, e de escutar os pretextos
que eles aduzem para se absterem da comunhão: quanto mais o espírito deles for
distraído e volúvel, tanto mais necessário é dar-lhe esse freio; quanto mais
árido for o coração deles, tanto mais necessidade tem de ser regado por essa graça
divina. Eles não deixarão de alegar, e é este o fantasma que mais os espanta, o
pouco fruto que tiram da comunhão. Mas pode-se-lhes opor a resposta de São João
Crisóstomo: “Não será porque as vossas comunhões ainda são muito raras?” Aliás,
quem é que não sabe que os efeitos da comunhão nem sempre são, ou só são mesmo
bem raramente, sensíveis? Os sentimentos que se produzem na alma nem sempre se
assinalam exteriormente por impressões sobre os sentidos. Deus assim o permite
para nos reter na humildade e na aplicação. Pode-se, pois, tirar grande
proveito da comunhão sem o perceber, sem o sentir. Finalmente, pode-se-lhes
dizer que a humildade que leva a pessoa a se crer indigna desse augusto
sacramento não é um dos menores efeitos da comunhão. Pode-se, pois,
ordenar-lhes participarem com frequência do festim eucarístico.