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NO CÉU NOS
RECONHECEREMOS
Pelo
Pe. F. Blot, da Companhia de Jesus
Versão 19.ª edição francesa
pelo
Pe. Francisco Soares da Cunha
“Li, diz ele, com muito prazer e fruto o seu livro – No Céu nos Reconheceremos.
Continuai, meu bom Padre, a escrever obras tão piedosas e
atraentes ao mesmo tempo; muitas pessoas vos deverão a felicidade de se resolverem
a marchar com passo firme no caminho que conduz à pátria celeste, onde se
tornarão a encontrar para viverem eternamente em Deus”.
O sr. Hamon, pároco de S. Sulpício, escrevia-nos assim:
“O seu agradável opúsculo é muito próprio para consolar
tantas pobres almas aflitas, que, tendo gozado na terra a felicidade de amarem
certas pessoas queridas, têm dificuldade em conceber que se possa ser feliz
longe delas.
Sem dúvida, Deus só, basta ao coração; mas a parte sensível
da nossa alma tem repugnância de se elevar a esta verdade; e se o conhecimento
que tivermos uns dos outros no Céu não aumentar a felicidade essencial no seio
de Deus, a esperança deste conhecimento aumentará imensamente a nossa
consolação nesta vida. É o fim que vos propusestes, e que haveis perfeitamente
conseguido.
O seu livro é, pois, uma boa obra, um verdadeiro ato de
caridade que lhe agradeço pela minha parte”.
O bem que produziu este opúsculo prova-se por cinqüenta mil
exemplares em língua francesa, espalhados no espaço de quatro anos; pelas
numerosas traduções feitas no estrangeiro; pelos novos opúsculos que suscita
cada ano sobre o mesmo objeto, e por fatos que nos têm sido contados muitas
vezes.
Aqui é uma mulher do mundo, sem alguma piedade que, por
ocasião da morte de seu único filho, recebe de uma de suas amigas estas cartas
de consolação; percorre-as e resolve-se a mudar de vida para estar segura de ir
reunir-se no Céu ao pequeno anjo que a precedeu.
Ali é um homem ainda jovem que, na morte imprevista de sua
muito amada esposa, é tentado pelo desespero, mas encontra entre os livros da
defunta o opúsculo – No Céu nos Reconheceremos. Lê-o com empenho, e sente-se
inteiramente mudado. Vai confessar-se, comunga e marcha daí por diante sobre as
pisadas de sua virtuosa esposa, na esperança de se lhe reunir para sempre junto
de Deus.
Acolá é uma filha cujo pai, à hora da morte, tinha dado
todos os sinais exteriores de impenitência. Ela olhava como inútil tudo quanto
pudesse fazer em benefício de sua alma; mas lê o apêndice à terceira carta e toma
a resolução de multiplicar as suas orações e sacrifícios por esta alma tão
querida, até ao último instante da sua vida.
O bom resultado que tem obtido este modesto escrito foi uma
doce consolação para a alma sensível que no-lo pediu, e que quis aliviar-se a
si, aliviando os outros. Ela mesma nos escreveu:
“Sou-lhe, por certo, devedora de muitas consolações e bons
desejos. Tendes sempre a delicadeza de me dar parte dos bons resultados do
livrinho - No Céu nos Reconheceremos.
Agradeço-lhe de todo o meu coração.
Quando penso que foram os meus suspiros e as minhas lágrimas
que tiraram do seu coração esta excelente obra, não me canso de admirar a
Providência que, dum grão de mostarda, formou uma árvore onde repousam as almas
aflitas”.
Ai! a morte levantou de novo a sua espada, por bastante
tempo suspensa, e descarregou um terrível golpe, arrancando ainda a esta pobre
mãe uma filha muito querida. Mas a graça deu-lhe alguma semelhança com Maria,
por meio duma religiosa resignação: “Consagrei-me, diz ela, a esta boa Mãe no
mais terrível momento da minha dor, e ela me auxiliou. Ainda que me não foi
dado ficar de pé como ela junto da cruz, fiquei assentada, e não a tenho
abandonado. Esta graça, foi ela que ma obteve”.
Possam todas as mães, a quem a morte arrebata um filho,
invocar e imitar assim aquela que viu crucificar seu Filho único!
Possam todos aqueles que lerem este livro recorrer à
Consoladora dos Aflitos, e ficar pelo menos assentados ao pé da Cruz, se junto
dela não puderem permanecer de pé.
A virtuosa viúva, cujas palavras há pouco citamos,
assemelhava-se, desde há muitos anos, àquelas árvores fecundas e robustas que
são abatidas, cortando-se uma após outra as suas raízes, e algumas vezes os
seus principais ramos.
Deus tirou-lhe, pouco a pouco, os ramos brotados da sua fecundidade;
desprendeu-a da terra onde a retinham profundas raízes, preparando-a para cair
sem muita dificuldade.
Tempo antes, a sua queda, isto é, a sua morte teria
mergulhado na dor a seu esposo e a seus numerosos filhos. Agora aqueles que a
precederam no Céu vão regozijar-se, pois vêem que a morte só a inclina para a
terra, a fim de apressar a sua reunião com eles na pátria celeste.
Aqueles que ficam neste mundo, como estas tenras vergônteas
que ela via crescer junto de si, vão adoçar, pelos testemunhos do seu amor, o
momento da separação. Mas, antes de chamá-la a si, Deus reservava-lhe uma
grande alegria.
A 12 de Março de 1865, a Senhora *** assistiu, em Paris, à
primeira missa do mais jovem de seus filhos, e recebia de suas mãos a Sagrada
Comunhão. Deste modo tinha um ante-gosto da felicidade que gozarão os pais na
glória, quando se virem com seus filhos assentados ao banquete do Senhor.
Pela sua parte, o novo padre, por mais ocupado que estivesse
de Deus e do Augusto Sacrifício, conservava em sua alma a viva lembrança de sua
família, e não se esqueceu de sua mãe, orando pelos vivos, nem de seu pai,
orando pelos mortos.
Quando desceu os degraus do altar para dar o Pão dos Anjos
àquela que lhe havia dado o ser, distinguiu-a, sem dúvida, entre todas as
outras pessoas queridas a quem ia administrar a Sagrada Eucaristia, e as
pulsações de seu coração lhe fizeram sentir que, se é doce para um filho
reconhecer sua mãe à mesa eucarística, será muito mais doce ainda reconhecê-la
no eterno banquete dos Céus.
Feliz, mil vezes feliz a mãe cristã que deixa depois da sua
morte, para continuar o hino começado por ela à glória do Senhor, um filho
sacerdote, ministro de Jesus Cristo, uma filha no claustro, esposa do mesmo
Jesus Cristo, e um filho no século à frente de uma família onde se perpetua a
fidelidade a Jesus Cristo, a dedicação à sua Igreja e a misericórdia para com
os seus pobres!
A Senhora *** teve esta rara felicidade, antes de adormecer
no Senhor, a 4 de Março de 1866, tendo sessenta e nove anos de idade.
Podem-se-lhe aplicar sem exageração nem lisonja, estas santas palavras:
– Ela passou fazendo o bem (At. X, 38);
– A sua memória não se apagará jamais, e o seu nome passará
de geração em geração (Eccles. XXXIX 1,3); – Os seus filhos se levantaram e a
proclamaram bem-aventurada (Prov., XXXI, 28);
– Regozijar-vos-eis em vossos filhos, porque eles serão
abençoados e se reunirão todos junto do Senhor (Tob., XIII, 17);
– Desprezei todas as vaidades do século por amor de Jesus
Cristo que contemplei, que amei, em quem cri firmemente e a quem dei todo o meu
coração (Brev. Rom. Commune non Virg., R. VIII).
Os restos mortais da Senhora *** foram depostos no mesmo
túmulo em que seu marido e três de suas filhas a haviam precedido, e pareciam
esperá-la, a fim de que seus ossos, aproximando-se sob a terra, fossem como que
uma prova de que suas almas se tinham reunido no Céu; porque o desejo de ser
sepultado junto de um parente ou de um amigo foi muitas vezes olhado como
expressão de um outro desejo, de uma piedosa esperança: a de se reunirem um dia
na pátria celeste, junto de Deus[1].
Agora, quando o seu filho se prepara a fim de celebrar a Santa
Missa e volta as folhas do missal, encontra muitas vezes diante dos olhos um
título que faz estremecer o seu coração: Pro
pater et mater – por meu pai e minha mãe.
E que diz o padre nestas orações? Três vezes pede que
reconheça seus pais na eterna bem-aventurança:
“Ó Deus, que nos mandastes honrar nosso pai e nossa mãe,
tende piedade das almas de meu pai e de minha mãe; perdoai-lhes os seus
pecados; fazei que eu os veja no gozo da eterna claridade; reuni-me com eles na
felicidade dos santos; e permiti que a vossa eterna graça aí me coroe com eles!”.
[1]
Amsaldi, Della speranza et della consolazione di rivedere i cari nostri
nell’altra vita, cap. XVI, pag. 174