sábado, 14 de dezembro de 2013

NO CÉU NOS RECONHECEREMOS - Introdução III

Nota do blogue: Acompanhe esse especial AQUI

NO CÉU NOS
RECONHECEREMOS

Pelo

Pe. F. Blot, da Companhia de Jesus
Versão 19.ª edição francesa

pelo
Pe. Francisco Soares da Cunha


Esta esperança é-nos dada ainda por Monsenhor Wicart, Bispo de Laval:

“Li, diz ele, com muito prazer e fruto o seu livro – No Céu nos Reconheceremos.

Continuai, meu bom Padre, a escrever obras tão piedosas e atraentes ao mesmo tempo; muitas pessoas vos deverão a felicidade de se resolverem a marchar com passo firme no caminho que conduz à pátria celeste, onde se tornarão a encontrar para viverem eternamente em Deus”.

O sr. Hamon, pároco de S. Sulpício, escrevia-nos assim:


“O seu agradável opúsculo é muito próprio para consolar tantas pobres almas aflitas, que, tendo gozado na terra a felicidade de amarem certas pessoas queridas, têm dificuldade em conceber que se possa ser feliz longe delas.

Sem dúvida, Deus só, basta ao coração; mas a parte sensível da nossa alma tem repugnância de se elevar a esta verdade; e se o conhecimento que tivermos uns dos outros no Céu não aumentar a felicidade essencial no seio de Deus, a esperança deste conhecimento aumentará imensamente a nossa consolação nesta vida. É o fim que vos propusestes, e que haveis perfeitamente conseguido.

O seu livro é, pois, uma boa obra, um verdadeiro ato de caridade que lhe agradeço pela minha parte”.

O bem que produziu este opúsculo prova-se por cinqüenta mil exemplares em língua francesa, espalhados no espaço de quatro anos; pelas numerosas traduções feitas no estrangeiro; pelos novos opúsculos que suscita cada ano sobre o mesmo objeto, e por fatos que nos têm sido contados muitas vezes.

Aqui é uma mulher do mundo, sem alguma piedade que, por ocasião da morte de seu único filho, recebe de uma de suas amigas estas cartas de consolação; percorre-as e resolve-se a mudar de vida para estar segura de ir reunir-se no Céu ao pequeno anjo que a precedeu.

Ali é um homem ainda jovem que, na morte imprevista de sua muito amada esposa, é tentado pelo desespero, mas encontra entre os livros da defunta o opúsculo – No Céu nos Reconheceremos. Lê-o com empenho, e sente-se inteiramente mudado. Vai confessar-se, comunga e marcha daí por diante sobre as pisadas de sua virtuosa esposa, na esperança de se lhe reunir para sempre junto de Deus.

Acolá é uma filha cujo pai, à hora da morte, tinha dado todos os sinais exteriores de impenitência. Ela olhava como inútil tudo quanto pudesse fazer em benefício de sua alma; mas lê o apêndice à terceira carta e toma a resolução de multiplicar as suas orações e sacrifícios por esta alma tão querida, até ao último instante da sua vida.

O bom resultado que tem obtido este modesto escrito foi uma doce consolação para a alma sensível que no-lo pediu, e que quis aliviar-se a si, aliviando os outros. Ela mesma nos escreveu:

“Sou-lhe, por certo, devedora de muitas consolações e bons desejos. Tendes sempre a delicadeza de me dar parte dos bons resultados do livrinho - No Céu nos Reconheceremos. Agradeço-lhe de todo o meu coração.

Quando penso que foram os meus suspiros e as minhas lágrimas que tiraram do seu coração esta excelente obra, não me canso de admirar a Providência que, dum grão de mostarda, formou uma árvore onde repousam as almas aflitas”.

Ai! a morte levantou de novo a sua espada, por bastante tempo suspensa, e descarregou um terrível golpe, arrancando ainda a esta pobre mãe uma filha muito querida. Mas a graça deu-lhe alguma semelhança com Maria, por meio duma religiosa resignação: “Consagrei-me, diz ela, a esta boa Mãe no mais terrível momento da minha dor, e ela me auxiliou. Ainda que me não foi dado ficar de pé como ela junto da cruz, fiquei assentada, e não a tenho abandonado. Esta graça, foi ela que ma obteve”.

Possam todas as mães, a quem a morte arrebata um filho, invocar e imitar assim aquela que viu crucificar seu Filho único!

Possam todos aqueles que lerem este livro recorrer à Consoladora dos Aflitos, e ficar pelo menos assentados ao pé da Cruz, se junto dela não puderem permanecer de pé.

A virtuosa viúva, cujas palavras há pouco citamos, assemelhava-se, desde há muitos anos, àquelas árvores fecundas e robustas que são abatidas, cortando-se uma após outra as suas raízes, e algumas vezes os seus principais ramos.

Deus tirou-lhe, pouco a pouco, os ramos brotados da sua fecundidade; desprendeu-a da terra onde a retinham profundas raízes, preparando-a para cair sem muita dificuldade.

Tempo antes, a sua queda, isto é, a sua morte teria mergulhado na dor a seu esposo e a seus numerosos filhos. Agora aqueles que a precederam no Céu vão regozijar-se, pois vêem que a morte só a inclina para a terra, a fim de apressar a sua reunião com eles na pátria celeste.

Aqueles que ficam neste mundo, como estas tenras vergônteas que ela via crescer junto de si, vão adoçar, pelos testemunhos do seu amor, o momento da separação. Mas, antes de chamá-la a si, Deus reservava-lhe uma grande alegria.

A 12 de Março de 1865, a Senhora *** assistiu, em Paris, à primeira missa do mais jovem de seus filhos, e recebia de suas mãos a Sagrada Comunhão. Deste modo tinha um ante-gosto da felicidade que gozarão os pais na glória, quando se virem com seus filhos assentados ao banquete do Senhor.

Pela sua parte, o novo padre, por mais ocupado que estivesse de Deus e do Augusto Sacrifício, conservava em sua alma a viva lembrança de sua família, e não se esqueceu de sua mãe, orando pelos vivos, nem de seu pai, orando pelos mortos.

Quando desceu os degraus do altar para dar o Pão dos Anjos àquela que lhe havia dado o ser, distinguiu-a, sem dúvida, entre todas as outras pessoas queridas a quem ia administrar a Sagrada Eucaristia, e as pulsações de seu coração lhe fizeram sentir que, se é doce para um filho reconhecer sua mãe à mesa eucarística, será muito mais doce ainda reconhecê-la no eterno banquete dos Céus.

Feliz, mil vezes feliz a mãe cristã que deixa depois da sua morte, para continuar o hino começado por ela à glória do Senhor, um filho sacerdote, ministro de Jesus Cristo, uma filha no claustro, esposa do mesmo Jesus Cristo, e um filho no século à frente de uma família onde se perpetua a fidelidade a Jesus Cristo, a dedicação à sua Igreja e a misericórdia para com os seus pobres!

A Senhora *** teve esta rara felicidade, antes de adormecer no Senhor, a 4 de Março de 1866, tendo sessenta e nove anos de idade. Podem-se-lhe aplicar sem exageração nem lisonja, estas santas palavras:

– Ela passou fazendo o bem (At. X, 38);

– A sua memória não se apagará jamais, e o seu nome passará de geração em geração (Eccles. XXXIX 1,3); – Os seus filhos se levantaram e a proclamaram bem-aventurada (Prov., XXXI, 28);

– Regozijar-vos-eis em vossos filhos, porque eles serão abençoados e se reunirão todos junto do Senhor (Tob., XIII, 17);

– Desprezei todas as vaidades do século por amor de Jesus Cristo que contemplei, que amei, em quem cri firmemente e a quem dei todo o meu coração (Brev. Rom. Commune non Virg., R. VIII).

Os restos mortais da Senhora *** foram depostos no mesmo túmulo em que seu marido e três de suas filhas a haviam precedido, e pareciam esperá-la, a fim de que seus ossos, aproximando-se sob a terra, fossem como que uma prova de que suas almas se tinham reunido no Céu; porque o desejo de ser sepultado junto de um parente ou de um amigo foi muitas vezes olhado como expressão de um outro desejo, de uma piedosa esperança: a de se reunirem um dia na pátria celeste, junto de Deus[1].

Agora, quando o seu filho se prepara a fim de celebrar a Santa Missa e volta as folhas do missal, encontra muitas vezes diante dos olhos um título que faz estremecer o seu coração: Pro pater et mater – por meu pai e minha mãe.

E que diz o padre nestas orações? Três vezes pede que reconheça seus pais na eterna bem-aventurança:

“Ó Deus, que nos mandastes honrar nosso pai e nossa mãe, tende piedade das almas de meu pai e de minha mãe; perdoai-lhes os seus pecados; fazei que eu os veja no gozo da eterna claridade; reuni-me com eles na felicidade dos santos; e permiti que a vossa eterna graça aí me coroe com eles!”.





[1]  Amsaldi, Della speranza et della consolazione di rivedere i cari nostri nell’altra vita, cap. XVI, pag. 174