Por um indigno escravo de Nosso Senhor
"Senhor, ensina-me a buscar-Vos e revela-Vos a mim quando Vos procuro. Pois não posso buscar-Vos se não me ensinares, nem posso encontrar-Vos se não Vos revelares. Deixa-me buscar-Vos desejando, deixa-me desejar-Vos buscando; deixa-me encontrar-Vos no amor e amar-Vos encontrando. Senhor, eu Vos reconheço e agradeço por me haveres criado à Vossa imagem, a fim de que me lembre de Vós, Vos conceba e Vos ame; mas essa imagem foi por tantas maneiras desgastada e enfraquecida pelos vícios e obscurecida pela fumaça dos malfeitos, que não pode levar a cabo aquilo para que foi feita, a menos que Vós a renoves e a cries de novo. Os olhos da alma estão escurecidos pela sua enfermidade ou deslumbrados pela Vossa glória? Estão, ao mesmo tempo, obscurecidos em si e ofuscados por Vós. Senhor, essa é a luz inacessível na qual resides. Na verdade, não a vejo, porque ela é brilhante demais para mim; e, todavia, seja o que for que eu vejo, vejo-o graças a ela, como os olhos fracos vêem o que vêem graças à luz do sol, que não podem contemplar no próprio sol. Ó luz suprema e inabordável, ó verdade santa e abençoada, como estás longe de mim, que estou tão perto de Vós; como estás afastada da minha visão, se bem que eu esteja tão perto da Vossa! Em toda parte estás inteiramente presente, e não Vos vejo. Em Vós me movo e tenho em Vós o meu ser, e não posso chegar a Vós. Estás dentro e ao redor de mim, e não Vos sinto."
(Santo Anselmo)