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NO CÉU NOS
RECONHECEREMOS
Pelo
Pe. F. Blot, da Companhia de Jesus
Versão 19.ª edição francesa
pelo
Pe. Francisco Soares da Cunha
I N T R O D U Ç Ã O
I
No princípio do ano de 1859, numa cidade do Oeste, onde ensinávamos
teologia, soubemos que um pregador dissera, da cadeira da verdade, que os
membros da mesma família não se reconheceriam no Céu.
Entre os seus ouvintes encontrava-se um ancião que ao ouvir
isto se afligiu muito, porque tinha perdido a sua virtuosa esposa, que sempre
esperara tornar a ver junto de Deus. Foi confiar sua aflição ao seu confessor,
que era o Superior da mesma casa que habitávamos.
Este, sabendo que andávamos procurando nas obras dos Padres
da Igreja os materiais necessários para a composição duma obra, que esperávamos
publicar um dia, sobre o dogma da comunicação dos santos, convidou-nos
especialmente a recolher todos os testemunhos que assegurassem que os parentes
e os amigos se reconhecem na eterna bem-aventurança.
Disse-nos que estas autoridades nos serviriam para consolar as
almas, e disse a verdade; tivemos a prova disto três anos depois, em seu
próprio país.
Corria o ano de 1862, e pregávamos a Quaresma na catedral
duma cidade do Leste. No fim duma instrução mostramos a família recomposta no
Céu. Este quadro pareceu próprio a regozijar santamente uma viúva e uma mãe
angustiada, bem conhecida em toda a cidade por sua virtude, mas a quem uma
indisposição tinha impedido de ir ouvir-nos.
Uma de suas parentes que ela amava ternamente contou-lhe, em
resumo, o que tínhamos desenvolvido, e veio da sua parte suplicar-nos que lho
déssemos por escrito.
Pouco tempo depois, a piedosa senhora reiterava-nos pessoalmente
esta súplica e contava-nos que, muitos anos antes, tendo perdido uma de suas
filhas ainda jovem, quisera consolar-se com a esperança de tornar a vê-la no
Paraíso, mas que um eclesiástico a repreendera severamente, porque esta
esperança, segundo a sua opinião, não tinha fundamento algum, e que nutrir-se
dela era uma grande imperfeição, pois que só Deus nos deve bastar.
Uma resposta tão dura não satisfazia nem o seu espírito nem
o seu coração. Como um dos seus filhos era então aluno da Companhia de Jesus,
no célebre colégio de Friburgo, na Suíça, suplicou ao padre Reitor que o
fizesse acompanhar até a casa no tempo das férias mais próximas, por um
religioso que a instruísse sobre este ponto, a fim de assegurá-la e tranqüilizá-la,
sendo possível.
As exagerações duma certa escola tinham, pois, formado como
que uma nuvem que ocultava aos olhos dum grande número de pessoas aflitas, o
vivo resplendor desta verdade tão consoladora: No Céu nos Reconheceremos. Se lhe não negavam absolutamente a
existência, via-se pouco, e mostrava-se ainda menos todo o bálsamo que encerra
para adoçar as mais cruéis dores.
Foi o que determinou a pessoa de que temos falado, digna de
todos os nossos respeitos e atenções, a pedir-nos instantemente estas Cartas de Consolação, nas quais nos esforçamos
em apresentar a verdade com toda a sua clareza, para que o coração aflito a
veja, sinta e se regozije.
Pelo mesmo motivo, muitos de nossos leitores desejariam
encontrar aqui as altas aprovações que recebemos. Fomos graciosamente
autorizados a satisfazer um desejo que tende unicamente a tornar este opúsculo
ainda mais consolador.
Estes testemunhos são efetivamente um novo alívio para as
almas provadas por uma cruel separação; servem de lição para todos, e são uma
censura para os contraditores, antes que um elogio para um escrito sem
importância e sem merecimento. Longe de assemelhar-se a essas obras doutrinais
que têm um grande alcance, não é mais do que um tecido de citações onde o
coração dos santos e dos doutores está aberto para que a alma atribulada tire
daqui as consolações de que tem necessidade.
Contudo, seria necessário atrair a atenção dos homens para
uma coisa em si tão simples e tão evidente?
Eis o que a este respeito nos dizem pessoas de autoridade
indiscutível:
– Monsenhor Dupanloup, Bispo de Orleans:
“Desde há muito tempo que fazia votos para que uma tal obra
saísse a público”.
– Monsenhor Filion, Bispo de Mans:
“Li com vivo interesse o opúsculo – No Céu nos
Reconheceremos. As verdades que com tanta felicidade exprimistes, servindo-vos
da linguagem da Escritura e dos Santos Padres, são mui necessárias a todos
durante o exílio da vida presente; e é isso o que poderosamente concorrerá para
que o seu livro tenha uma grande extração. Faço sinceros votos para que assim
aconteça”.
Um veterano do Sacerdócio, um dos padres mais experimentados
que possuía a Alsácia, M. F. Muhe, dizia-nos: “O seu livro é um bálsamo para a
alma aflita pela perda de seus parentes. Ai! e quantas vezes no nosso santo
ministério não temos nós ocasião de difundir este bálsamo! Fez, pois, um grande
serviço, com a edição deste excelente pequeno tratado, não só aos fieis, mas
ainda a todos os padres encarregados da direção das almas. Além disso, esta
matéria é mui raras vezes tratada nas mesmas obras teológicas. Portanto,
exerceu por este motivo uma boa obra de misericórdia – consolar os aflitos”.
Monsenhor Pie, Bispo de Poitiers, escrevia-nos: “O seu
pequeno livro – No Céu nos Reconheceremos – é uma verdadeira pérola engastada
em textos seletos dos Padres da Igreja. Li-o com fruto e consolação, e
regozijo-me com a esperança do grande alívio que levará a certas almas faltas
de doutrina sobre este ponto, ou que facilmente se têm deixado impressionar
pelos ditos dalguns pseudo-teólogos que se crêem sempre mais próximos da
verdade, quando se mostram mais severos. Obrigado, pois, meu querido Padre, por
todo o bem que há de fazer este pequeno volume”.
Sua Exa. não se contentou só com esta aprovação. O “Courrier”,
jornal de Viena, de 6 de Novembro de 1862, terminava assim um longo artigo
sobre o nosso livro:
“Acrescentarei como o mais belo elogio, que, em sua
eloqüente homilia da festa de Todos os Santos, Sua Exa. aconselhou a todos a
leitura e a meditação destas páginas consoladoras, ditadas pela fé e pelo
coração.
A obra do R. P. Blot, efetivamente, tem um lugar distinto em
todas as bibliotecas cristãs e sobre a mesa de todas as famílias piedosas que
conservam fielmente o culto e a memória de seus membros falecidos”.
O padre Gratry escrevia-nos rapidamente as seguintes linhas:
“Li o seu livro. Propaguei-o por dezenas, e tenho-o feito propagar. Li-o com
avidez, tão ligeiramente que talvez mesmo omitisse algumas páginas, mas
tornei-o a ler. A idéia que teve não podia ser mais feliz. Fez absoluta
justiça, uma vez para sempre, duma verdadeira perversão jansenista acerca da
idéia da vida futura. Edificou-me e instruiu-me plenamente sobre este ponto. Ignorava, confesso-o, quanto a sua tese é teológica e
incontestável em presença de tantas autoridades. Tinha a firme convicção, mas
não a ciência teológica desta verdade. Agradeço-lhe vivamente, meu bom Padre, por ma haverdes dado.
Agradeço-lhe o bem que tendes feito e fareis a milhares de almas, a quem muitas
vezes o próprio diretor espiritual, como dizeis, hesita em consolar sob este
ponto de vista. Não se hesitará mais”.
Poderiam ainda outras causas tornar oportuno o nosso
trabalho?
Monsenhor Darboy, Arcebispo de Paris, dignou-se escrever-nos
depois de ter lido os opúsculos – No Céu nos Reconheceremos e as Auxiliadoras
do Purgatório:
“Quero unir o meu voto às felicitações, que lhe atrairão de
todas as partes estes livros cheios de doutrina e de piedade. Há muitos motivos
de abrir diante de nossos contemporâneos os horizontes da outra vida, e de premuni-los
contra as ilusões e atrativos desta.
Olho, pois, como oportunas e mui úteis estas curtas, mas
substanciosas páginas, onde excitais a piedosa compaixão dos vivos a favor dos
mortos, e reanimais nos corações o desejo do Céu. É para mim um dever, assim
como uma satisfação, aplaudir o merecimento do seu trabalho e animar os seus
estudos. Suplico a Deus que lhe aplique as suas melhores graças e o gênero de
triunfo que lhe é mais caro, quero dizer, à edificação das almas”.