segunda-feira, 5 de julho de 2010

Falsidade e danos do naturalismo pedagógico

Trecho da Carta encíclica DIVINI ILLIUS MAGISTRI
Papa Pio XI


(Acerca da educação cristã da juventude)

Falsidade e danos do naturalismo pedagógico

É falso, portando, todo o naturalismo pedagógico que, na educação da juventude, exclui ou menospreza por todos os meios a formação sobrenatural cristã; é também errado todo o método de educação que, no todo ou em parte, se funda sobre a negação ou esquecimento do pecado original e da graça, e, por conseguinte, unicamente sobre as forças da natureza humana. Tais são, na sua generalidade, aqueles sistemas modernos, de vários nomes, que apelam para uma pretendida autonomia e ilimitada liberdade da criança, e que diminuem ou suprimem, até, a autoridade e a ação do educador, atribuindo ao educando um primado exclusivo de iniciativa e uma atividade independente de toda a lei superior natural e divina, na obra da sua educação.

Diriam, sim, a verdade, se com algumas daquelas expressões quisessem indicar, ainda que impropriamente, a necessidade cada vez mais consciente, da cooperação ativa do aluno na sua educação, e se entendessem afastar desta o despotismo e a violência (a qual, de resto, não é a justa correção), mas não diriam absolutamente nada de novo e que a Igreja não tenha já ensinado e atuado na prática de educação cristã tradicional, à semelhança do que faz o próprio Deus com as criaturas que chama a uma ativa cooperação, segundo a natureza própria de cada uma, visto que a sua sabedoria «se estende com firmeza de um a outro extremo, e tudo governa com bondade» (40).

Infelizmente, com o significado óbvio das expressões, e com o mesmo fato, pretendem muitos subtrair a educação a toda a dependência da lei divina. Por isso em nossos dias se dá o caso, realmente bastante estranho, de educadores e filósofos que se afadigam à procura de um código moral e universal de educação, como se não existisse nem o Decálogo, nem a lei evangélica, nem tão pouco a lei natural, esculpida por Deus no coração do homem, promulgada pela reta razão, codificada com revelação positiva pelo mesmo Deus no Decálogo. E da mesma forma, costuma tais inovadores, como por desprezo, denominar «heterônoma», «passiva», «atrasada», a educação cristã, porque esta se funda na autoridade divina e na sua santa lei.

Estes se iludem miseravelmente com a pretensão de libertar, como dizem, a criança, enquanto que antes a tornam escrava do seu orgulho cego e das suas paixões desordenadas, visto que estas, por uma conseqüência lógica daqueles falsos sistemas, vêm a ser justificadas com legítimas exigências da natureza pseudo-autônoma.

Mas há pior ainda, na pretensão falsa, irreverente e perigosa, além de vã, de querer submeter a indagações, a experiências e juízos de ordem natural e profana, os fatos de ordem sobrenatural concernentes à educação, como, por exemplo, a vocação sacerdotal ou religiosa, e em geral as ocultas operações da graça, que, não obstantes elevar as forças naturais, excede-as, todavia infinitamente, e não pode de maneira nenhuma estar sujeita às leis físicas, porque «o espírito sopra onde lhe apraz» (41).

(40) Sabedoria, VIII, 1.
(41) João, III, 8.

(Retirado do site do Vaticano)