Trecho da Carta encíclica DIVINI ILLIUS MAGISTRI
Papa Pio XI
(Acerca da educação cristã da juventude)
Falsidade e danos do naturalismo pedagógico
É falso, portando, todo o naturalismo pedagógico que, na educação da juventude, exclui ou menospreza por todos os meios a formação sobrenatural cristã; é também errado todo o método de educação que, no todo ou em parte, se funda sobre a negação ou esquecimento do pecado original e da graça, e, por conseguinte, unicamente sobre as forças da natureza humana. Tais são, na sua generalidade, aqueles sistemas modernos, de vários nomes, que apelam para uma pretendida autonomia e ilimitada liberdade da criança, e que diminuem ou suprimem, até, a autoridade e a ação do educador, atribuindo ao educando um primado exclusivo de iniciativa e uma atividade independente de toda a lei superior natural e divina, na obra da sua educação.
Diriam, sim, a verdade, se com algumas daquelas expressões quisessem indicar, ainda que impropriamente, a necessidade cada vez mais consciente, da cooperação ativa do aluno na sua educação, e se entendessem afastar desta o despotismo e a violência (a qual, de resto, não é a justa correção), mas não diriam absolutamente nada de novo e que a Igreja não tenha já ensinado e atuado na prática de educação cristã tradicional, à semelhança do que faz o próprio Deus com as criaturas que chama a uma ativa cooperação, segundo a natureza própria de cada uma, visto que a sua sabedoria «se estende com firmeza de um a outro extremo, e tudo governa com bondade» (40).
Infelizmente, com o significado óbvio das expressões, e com o mesmo fato, pretendem muitos subtrair a educação a toda a dependência da lei divina. Por isso em nossos dias se dá o caso, realmente bastante estranho, de educadores e filósofos que se afadigam à procura de um código moral e universal de educação, como se não existisse nem o Decálogo, nem a lei evangélica, nem tão pouco a lei natural, esculpida por Deus no coração do homem, promulgada pela reta razão, codificada com revelação positiva pelo mesmo Deus no Decálogo. E da mesma forma, costuma tais inovadores, como por desprezo, denominar «heterônoma», «passiva», «atrasada», a educação cristã, porque esta se funda na autoridade divina e na sua santa lei.
Estes se iludem miseravelmente com a pretensão de libertar, como dizem, a criança, enquanto que antes a tornam escrava do seu orgulho cego e das suas paixões desordenadas, visto que estas, por uma conseqüência lógica daqueles falsos sistemas, vêm a ser justificadas com legítimas exigências da natureza pseudo-autônoma.
Mas há pior ainda, na pretensão falsa, irreverente e perigosa, além de vã, de querer submeter a indagações, a experiências e juízos de ordem natural e profana, os fatos de ordem sobrenatural concernentes à educação, como, por exemplo, a vocação sacerdotal ou religiosa, e em geral as ocultas operações da graça, que, não obstantes elevar as forças naturais, excede-as, todavia infinitamente, e não pode de maneira nenhuma estar sujeita às leis físicas, porque «o espírito sopra onde lhe apraz» (41).
(40) Sabedoria, VIII, 1.
(41) João, III, 8.(Retirado do site do Vaticano)