Nota: Este texto foi escrito para religiosas, o que não nos impede de aproveitá-lo em parte em nosso dia-a-dia.
Do silêncio
(Retirado do livro: A Esposa de Jesus Cristo,
volume II, por Sto. Afonso Maria de Ligório)
1. — Primeiramente, o silêncio é um grande meio para nos ajudar a sermos almas de oração, e nos dispor para tratarmos continuamente com Deus. É difícil achar uma pessoa espiritual, que fale muito. Todas as almas de oração amam o silêncio, o qual se chama guarda da inocência, defesa contra as tentações e fonte da oração; porque, no silêncio, conserva-se a devoção, e nele povoam o nosso espírito os bons pensamentos. S. Bernardo diz que o silêncio e a calma forçam, de certo modo, a alma a pensar em Deus e nos bens eternos (3). Por isso, os santos buscavam os montes, as grutas e os desertos, para acharem este silêncio, fugindo do tumulto do mundo, onde não se acha Deus, como foi mostrado a Elias (4). O monge Teodósio guardou o silêncio durante trinta e cinco anos; e S. João Silenciario, bispo feito monge, o observou por quarenta e sete anos, até a morte. Todos os santos, mesmo os que não foram solitários, amaram o silêncio.
2. — Oh quantos bens traz consigo o silêncio! É ele que cultiva a justiça nas almas, disse o profeta (5). Com efeito, de um lado nos preserva de muitos pecados, impedindo as disputas, as maledicências, os ressentimentos, as curiosidades; e de outro nos faz adquirir muitas virtudes. Como exerce bem a humildade a religiosa que escuta modestamente e se cala, enquanto as outras falam! — Como pratica bem a mortificação a outra que se abstém de falar, reprimindo o desejo de contar um fato ou dizer uma graça que viria a propósito na conversação! Como exercita bem a doçura aquela outra que ouve as repreensões e injúrias, sem responder coisa alguma! É por isso que o mesmo profeta diz ainda: Vossa força estará no silêncio e na esperança (6). — Com o silêncio evitaremos as ocasiões de pecar, e pela esperança obteremos as graças divinas para vivermos bem.
3. — Ao contrário, falando demais, sofreremos imensos prejuízos. Primeiramente, assim como com o silêncio conserva-se a devoção, assim também se perde com o falar demais. Por mais recolhida que tenha estado uma alma na oração, logo se achará distraída e dissipada como se não a tivesse feito, se depois dela se põe a falar demais. Quando se abre a boca de um forno quente, o calor se evapora logo. — S. Doroteu dá este aviso: Evitai a loquacidade, porque ela expulsa do espírito os bons pensamentos e o recolhimento com Deus (7).
— Falando dos religiosos que não podem se conter de andar sempre a procurar novidades do mundo, S. José Calazans dizia que o religioso curioso mostra que está esquecido de si mesmo. — É uma regra certa que a pessoa que fala muito com os homens, pouco fala com Deus; e o Senhor por sua vez pouco lhe falará, porque está escrito que quando quer conversar com uma alma a conduz à solidão (8). — Quando pois a alma quiser ouvir a voz de Deus, deve buscar a solidão. Se nos calarmos, acharemos a solidão, dizia a venerável Margarida da Cruz. A religiosa que procura a conversação com as criaturas, faz ver que não basta para contentá-la a conversação divina. Como se dignará o Senhor de falar-lhe?
4. — O Espírito Santo nos adverte além disso, que no falar muito não deixará de haver algum pecado (9). Enquanto fala e prolonga a conversa sem necessidade, aquela talvez pense que não cometeu nenhum defeito; mas, se depois se examinar bem, não deixará de achar alguma falta de murmuração, de imodéstia ou de curiosidade, ou ao menos algumas palavras supérfluas. — Dizia Sta. Maria Madalena de Pazzi que uma religiosa não deve falar senão por necessidade. Com efeito, as religiosas são obrigadas por título especial a dar conta das palavras inúteis, pelas quais todos afinal serão responsáveis no dia do juízo, como nos adverte o nosso divino Salvador: Eu vos digo que no dia de juízo, os homens darão conta de toda palavra ociosa que houverem falado (10).
Quando falamos muito, ordinariamente cometemos mil defeitos. A língua é chamada por S. Tiago um mal universal (11). — E assim é, porque, como adverte um douto autor, a maior parte dos pecados provém do falar ou ter ouvido falar.
Ai! quantas monjas veremos no dia de juízo que serão condenadas por não terem feito caso do silêncio! O que é pior é que a religiosa que se dissipa no trato com as criaturas e no falar muito, nem sequer saberá ver os seus defeitos, e destarte andará de mal a pior. O homem que fala muito, diz o Salmista, andará sem guia (12). Donde cairá em mil erros sem que ao menos tenha esperança de emenda. Há algumas monjas que parece não sabem viver sem falar sempre de manhã à noite. Querem saber tudo o que se passa dentro e fora do mosteiro. Andam até perscrutando os pensamentos de todas as outras. E depois perguntam que mal fizeram. — Eis, minhas irmãs, o que vos respondo: Reprimi a vossa loquacidade, procurai recolher-vos um pouco e então vereis quantos defeitos haveis cometido por falar demais.
5. — S. José Calazans dizia que um religioso dissipado é a alegria do demônio. E com razão; porque tal religioso ou religiosa, com sua dissipação, não só não faz bem a si, mas com o girar pelas celas e oficinas, buscando com quem falar ou falando em voz alta em todo o lugar não respeitando sequer o coro e a sacristia da igreja, embaraça também o bem das outras. — Narra Sto. Ambrósio que certo sacerdote, estando em oração, era perturbado pelo coaxar de muitas rãs da lagoa vizinha; pelo que ordenou-lhes que se calassem e elas obedeceram prontamente. A isto o Santo Doutor exclama: Calarão os irracionais pelo respeito à oração e não calarão os homens (13).
Eu pergunto, com maioria de razão, se não calarão as religiosas que vieram ao mosteiro para se santificarem, observando a regra e mantendo o santo recolhimento? Farão o ofício dos demônios, perturbando as que querem orar e viver recolhidas em Deus? É com razão que um autor chama a estas monjas faladeiras demônios familiares dos mosteiros, onde fazem grande dano.
6. — Segundo Sto. Inácio de Loyola, para conhecer se o fervor reina em um convento, basta ver se nele observa-se o silêncio. Um convento onde se fala sempre é uma imagem do inferno, porque, banindo-se o silêncio, será continuamente desolado pelas contestações, murmurações, lamentos, amizades particulares, partidos e distúrbios. Ao contrário, o mosteiro, onde ama-se o silêncio, é a imagem do paraíso, e inspira a devoção não só às pessoas que nele habitam, mas também às de fora.
Foi o que decidiu o Padre Perez a se fazer carmelita descalço; pois, sendo ainda secular, entrou em um mosteiro dessa reforma e ficou tão edificado do silêncio ai observado, que abandonou o mundo para se consagrar a Deus. — É por isso que o Padre Natal da Companhia de Jesus dizia que para reformar uma casa basta restabelecer nela a regra do silêncio; porque, então, cada um ficará recolhido e atenderá ao seu aproveitamento espiritual. Por esse motivo, disse Gerson, os santos fundadores com tanto cuidado impuseram e recomendaram aos seus religiosos o silêncio, pois, sabiam quanto importava observá-lo para conservar o espírito interior. — Entre os artigos, que S. Basílio traçou nas suas regras para as religiosas, não um só, mas muitos tratam exclusivamente do silêncio; e S. Bento ordenou que seus monges procurassem guar-dá-lo sempre sem interrupção (14).
7. — Aliás, ai está a experiência para provar que, no mosteiro, onde se guarda o silêncio, se mantém em vigor a observância das regras, mas reina pouco fervor onde pouco silêncio se guarda. Esta é também a razão porque há poucas religiosas santas: poucas são as que amam o silêncio. Em muitos mosteiros, acha-se bem escrita e muito recomendada a regra do silêncio, mas entre as religiosas parece que nem sequer se sabe o que é o silêncio; e por isso vivem as pobrezinhas dissipadas, sem espírito e sempre inqui-etas. — Não penseis, entretanto, caríssima irmã, que a negligência das outras vos escusa e vos isenta da regra que prescreve o silêncio. — Dizia Sta. Clara de Montefalco que no tempo do silêncio dificilmente se fala sem cair em algum defeito.
Há algumas, que se escusam, dizendo que, muitas vezes, têm necessidade de falar, para não ficarem acabrunhadas de melancolia. Mas como pode ser que o defeito de quebrar o silêncio pode preservar tais religiosas da melancolia? Persuadamo-nos que, quando nos achamos aflitos, nem todas as criaturas da terra e do céu nos podem consolar. — Só Deus consola. E como nos poderá consolar no mesmo momento em que o ofendemos? Ao menos, quando houver necessidade de falar em tempo de silêncio, pedi licença a superiora. — Há algumas que não andam a procurar ocasião de falar; mas, quando ocorre qualquer ensejo, se deixam vencer e violam o silêncio para condescender com outras que querem conversar. Tal condescendência de certo não as escusam de defeito. É necessário, nesse caso, fazer-se violência e retirar-se de lá, ou calar, e, algumas vezes, dar sinal de que é hora de silêncio, pondo o dedo na boca.
8. — Ainda mesmo nos tempos em que o silêncio não seja obrigatório, procurai observá-lo quanto for possível, se quereis manter-vos, em recolhimento e evitar as imperfeições, porque nunca se peca mais facilmente, do que falando. Lá disse o sábio: Quem guarda a sua boca, guarda a sua alma (15). — E S. Tiago nos assegura que é homem perfeito o que não peca pela língua (16).
Será, portanto, uma única coisa uma religiosa amiga do silêncio e uma religiosa santa; pois, observando o silêncio, será pontual no cumprimento das suas regras, será afeiçoada à oração, à leitura, à assistência ao ofício divino, à visita ao SS. Sacramento. Oh como se torna agradável a Deus uma religiosa que ama o silêncio! Sobretudo se sabe mortificar-se, calando-se em certas circunstâncias extraordinárias, por exemplo: quando se sente muito enfadada de uma longa solidão, ou quando lhe sucede alguma coisa muito triste ou muito alegre, de sorte que experimenta um vivo desejo de se comunicar!
Pelo contrário, a que se expande em palavras, será quase sempre dissipada, omitirá facilmente suas orações e outros exercícios de devoção, e assim perderá pouco a pouco o gosto das coisas de Deus. — Sta. Maria Madalena de Pazzi dizia: A religiosa que ama o silêncio, é impossível que não ache prazer nas coisas divinas. De sorte que esta infeliz acabará por abandonar-se aos prazeres terrenos; e, assim, não lhe restará de religiosa senão o nome e o hábito.
9. É preciso, entretanto, observar que, nos mosteiros, a virtude do silêncio não consiste em calar sempre, mas em calar quando não há necessidade de falar. — É por isso que Salomão disse que há tempo de calar e tempo de falar (17). — A isto nota S. Gregório Nysseno que o tempo de calar se põe antes do tempo de falar, porque é calando-se que se a-prende a falar bem (18). — No silêncio, aprende-se a considerar bem tudo o que se há de dizer depois.
Mas para uma religiosa que quer se santificar qual é o tempo de calar e o de falar?
O tempo de calar é todo o tempo em que não há necessidade de falar; e o tempo de falar é aquele em que a necessidade ou a caridade obriga a falar. — Eis a excelente regra dada por S. João Crisóstomo: Deve-se falar somente quando é mais útil falar do que calar (19). — Dai este conselho: Ou calai-vos ou dizei coisas melhores do que o silêncio (20). — Feliz aquele que, na hora da morte, pode dizer com o abade Pambo, que como refere o Padre Rodrigues, não se lembrava de ter proferido uma palavra que depois tivesse necessidade de se arrepender de ter dito (21). — Ao invés, Sto. Arsênio dizia que muitas vezes se tinha arrependido de ter falado e nunca de ter calado (22). Por isso Sto. Efrem dava este aviso aos seus religiosos: Falai muito com Deus, e pouco com os homens (23). — O mesmo dizia Sta. Maria Madalena de Pazzi: Uma verdadeira serva de Jesus Cristo suporta tudo, trabalho muito e fala pouco.
10. — O que acima ficou exposto fará compreender a toda a religiosa que quer viver unida a Deus, com que cuidado deve fugir do locutório. — Assim como o ar que se respira no coro e na cela é o mais salutar para as religiosas, assim o mais pestífero para elas é o das grades. — Que é o locutório, no dizer de Sta. Maria Madalena de Pazzi, senão uma fonte de distrações, de inquietações e de tentações? — Um dia, a venerável Sor Maria Villani obrigou o demônio, da parte de Deus, a lhe manifestar em que lugar do convento ele ganhava mais. Respondeu-lhe o tentador: “Ganho no coro, no refeitório, no dormitório, e também perco; mas no locutório tudo lucro, porque esse lugar é todo meu”.
É pois com razão que a venerável Sor Filippa Cervina chamava o locutório de lugar empestado, onde facilmente se contrai o contágio do pecado. — Narra S. Bernardino de Senna que uma monja, depois de ouvir, no locutório, uma palavra indecente, caiu miseravelmente em uma culpa grave. — Muito mais feliz a virgem Sta. Febronia, que deu a vida pela fé aos dezenove anos: sendo religiosa, não consentiu nunca em aparecer na grade diante de qualquer pessoa secular, homem ou mulher. — Sta. Teresa, depois da sua morte, apareceu à uma de suas filhas e lhe disse que a religiosa que quer ser grande amiga de Deus, deve ser inimiga da grade.
Prouvera a Deus que em todos os mosteiros de religiosas houvesse ao menos grades de ferro, como se vêem em alguns onde reina a observância! Eis, a este respeito, o que conta um autor: A superiora de um convento tinha feito colocar no locutório uma grade apertada: o demônio, enraivecido, primeiro a torceu toda e depois a arrancou e foi rolando por toda a casa; mas a prudente superiora achou melhor colocá-la de novo assim mesmo torta como estava, para que as monjas entendessem que assim como aquela grade desagradava tanto ao inferno, deveria tanto mais agradar a Deus. Oh! que grande conta terão de dar a Deus Nosso Senhor as superioras que introduzem grades largas, ou descuidam de velar pelas conversas no locutório, por meio das escutas!
Em uma de suas cartas, Sta. Teresa escreve es-tas palavras notáveis: “As grades são portas do céu, quando estão fechadas, e são as do perigo, para não dizer do inferno, quando estão abertas”; e acrescentava: “Um mosteiro de mulheres onde há liberdade, serve antes para conduzi-las ao inferno do que para remediar a sua fraqueza” (24).
11. — Que grande progresso não faria no divino amor, como já dissemos (25), uma religiosa que se tomasse a resolução de nunca mais aparecer nas grades? — Ao menos, minha irmã, quando fordes ao lo-cutório, não deixeis de vos portar nele como religiosa. Falando aos seculares, deveis não só evitar, como todo o cuidado, palavras afetuosas, mas também ser muito séria e muito reservada. — Sta. Maria Madale-na de Pazzi queria que as suas religiosas fossem selvagens como os veados. São suas estas palavras.
E Sta. Jacinta Mariscotti dizia: “A delicadeza das religiosas, no locutório, consiste na descortesia de cortar todo o discurso longo”. Isto se entende, ordinariamente falando, até das longas conversas que se tivessem com pessoas espirituais. — Dizia a Madre Maria de Jesus, Carmelita descalça: Ganha-se mais em espiritualidade no coro, ou na cela, do que no locutório, por mais longas que sejam as conferências.
Prestai aos confessores e diretores todo o respeito devido; mas não trateis com eles senão o necessário, explicando-vos com poucas palavras.
Se, alguma vez, vos acontecer ouvir no locutório alguma palavra indecente, fugi logo; ou, ao menos, não respondais coisa alguma. — A venerável Sóror Serafina de Capri já tinha falecido há tempos, quando, em um dos seus conventos, duas mulheres se puseram a falar de um casamento: logo a porteira ouviu a voz da fundadora defunta, que dizia: “Expulsai, expulsai depressa essas mulheres”. — Sempre que puderdes, procurai afastar essas conversas que são próprias dos mundanos. — Sta. Francisca Romana, um dia, recebeu uma bofetada do seu anjo da guarda, por ter tolerado duas senhoras falassem, em sua presença, sobre vaidades do mundo.
Deveis ainda estar mais atentas em guardar o silêncio no convento com vossas irmãs, porque ai a ocasião de quebrá-lo é muito mais freqüente e mais perto de vós. Para isso é preciso mortificar a vossa curiosidade. — Dizia o abade João: Quem quiser refrear a língua, cerre os ouvidos com a mortificação da curiosidade de saber novidades. — Além disso, é preciso que fujais da convivência de certas monjas que falam sempre. Demais, deveis fixar de antemão algum tempo do dia para a observância do silêncio, no qual estareis retiradas na cela ou em outro lugar solitário, para não ter ocasião de falar.
12. — Quando houverdes de falar, tende sempre cuidado de pesar o que ides dizer segundo este aviso de Espírito Santo: Faze uma balança para pesar as vossas palavras antes de proferí-las (26). — Por isso dizia S. Bernardo: Antes que as palavras cheguem à língua, passem duas vezes pela lima do exame, afim de que se cale o que não convém falar (27). — Isto explicava S. Francisco de Sales em outros termos, dizendo que, para falar sem defeito, seria preciso que cada um tivesse a boca fechada com botões; de modo que, devendo abri-la para falar, pensasse bem naquilo que haveria de dizer.
Quando, pois, houverdes de falar, considerai bem o seguinte:
1.º - A coisa que quereis dizer, para ver se não ofende a caridade, a modéstia ou a observância.
2.º - O fim pelo qual falais, porque, às vezes, alguns dizem coisas boas, mas com fim menos reto, como parecerem espirituais, ou passarem por pessoas engenhosas.
3.º - A quem falais: Se é às vossas superioras, às iguais, ou às inferioras, se é em presença de pessoas seculares, ou das educandas, que talvez possam es-candalizar-se com o que dizeis.
4.º - O tempo em que falais: Se é durante as horas do silêncio ou do repouso.
5.º - O lugar em que falais: Se é no coro, na sacristia, nos corredores, na portaria ou no locutório.
6.º - A maneira com que deveis falar: com simplicidade, sem afetação; com humildade, evitando toda palavra soberba ou de vanglória; com doçura, sem nada dizer com impaciência ou ofensa do próximo; com moderação, não sendo a primeira a responder em qualquer coisa que se proponha, principalmente se fordes a mais nova de todas; com modéstia, não interrompendo a que está falando. Demais, guardai-vos de qualquer palavra que cheire o mundo; evitai os risos imoderados; nem façais gestos inconvenientes.
Falai com voz baixa, pois S. Boaventura julga ser grande defeito para uma religiosa falar em voz alta, especialmente no tempo da noite (28).
Se fordes superiora e houverdes de dar alguma repreensão, guardai-vos de elevar a voz; do contrário, a súdita perceberá que cedeis a um movimento de impaciência, e então pouco aproveitará a repreensão.
13. — Nas recreações, que são um tempo de descanso, falai, quando as outras se calarem; mas, então, quanto for possível, procurai dizer alguma coisa de Deus. — Dizia Sto. Ambrósio: Falemos de Jesus Cristo, e dEle falemos sempre (29). — E que coisa deve alegrar mais uma religiosa do que falar do seu Esposo amabilíssimo? Quem ama muito uma pessoa parece que não sabe falar de outra coisa senão da mesma. Quem fala pouco de Jesus Cristo, dá sinal de que o ama pouco. Pelo que acontece muitas vezes que as boas religiosas, falando do amor divino, saem mais fervorosas desse discurso do que se sa-íssem do oração.
— Dizia Sta. Teresa: Nas conversações dos servos de Deus está sempre presente Jesus Cristo. — Disto exatamente nos refere um singular exemplo do Padre Gisolfo, pio operário, na vida do venerável Padre Antônio de Colellis. Diz ele que o Padre Constantino Rossi, mestre dos noviços, viu um dia entreterem-se juntos dois daqueles, que mais tarde foram os Padres Antonio de Torres e Filippe Orilia; e notou no meio deles um outro jovem de aspecto belíssimo. Admirou-se o mestre de ver que os dois jovens, tidos por ele por exemplares, conversavam com um forasteiro sem licença; e perguntou-lhes depois quem era aquele jovem que vira a discorrer com eles. Os noviços lhe responderam que não estivera com eles ninguém de fora. Ouvindo, porém, o mestre que, na ocasião, estavam falando de Jesus Cristo, compreendeu que era o mesmo divino Salvador que se tinha deixado ver entre eles.
14. — Afinal, fora do tempo de recreações, e de certas ocasiões extraordinárias, como assistir a alguma enferma ou aliviar alguma irmã atribulada, o melhor é guardar silêncio.
Lê-se nas crônicas da reforma de Sta. Teresa, que uma religiosa carmelita descalça dizia: É melhor falar com Deus, do que falar de Deus. — Quando, por obediência ou caridade, como acima ficou dito, fordes obrigada a tratar com as criaturas, é necessário que procureis sempre achar alguns intervalos, para ao menos reparar as perdas causadas pelas distrações inseparáveis das ocupações exteriores.
Furtai ao menos os momentinhos que puderdes, para vos recolherdes com Deus, segundo o aviso do Espírito Santo (30): Não deixeis passar essa partícula de tempo sem dá-la a Deus quando não puderdes dispor de outra naquele dia. Todas as vezes que puderdes abreviar a conversa, fazei-o sob qualquer pretexto conveniente. A boa religiosa não procura pretextos, como fazem algumas, para prolongar as conversas, mas os descobre para encurtá-las. — Pensemos que o tempo nos foi dado, não para perdê-lo inutilmente, mas para servir a Deus e adquirir merecimentos para a vida eterna. Dizia S. Bernardino de Senna que um momento de tempo vale tanto como Deus, porque em cada momento podemos adquirir a Sua amizade, ou novos graus de graça.
Furtai ao menos os momentinhos que puderdes, para vos recolherdes com Deus, segundo o aviso do Espírito Santo (30): Não deixeis passar essa partícula de tempo sem dá-la a Deus quando não puderdes dispor de outra naquele dia. Todas as vezes que puderdes abreviar a conversa, fazei-o sob qualquer pretexto conveniente. A boa religiosa não procura pretextos, como fazem algumas, para prolongar as conversas, mas os descobre para encurtá-las. — Pensemos que o tempo nos foi dado, não para perdê-lo inutilmente, mas para servir a Deus e adquirir merecimentos para a vida eterna. Dizia S. Bernardino de Senna que um momento de tempo vale tanto como Deus, porque em cada momento podemos adquirir a Sua amizade, ou novos graus de graça.
ORAÇÃO
Bendita seja para sempre, ó meu Deus, a paciência com que me suportastes. Vós me destes o tempo para Vos amar, e eu o empreguei em Vos ofender e Vos desgostar! Se me fosse preciso morrer agora, qual não seria a minha dor, ao pensar que vivi tantos anos no mundo sem nada fazer! Senhor, eu Vos agradeço me dardes ainda tempo para remediar a minha negligência e a perda de tantos anos.
Ó meu Jesus, dignai-Vos me ajudar pelos merecimentos da Vossa paixão; eu não quero viver mais para mim, mas só para Vós e para o Vosso amor. Eu não sei quanto tempo me resta a viver, se é pouco ou se é muito; mas, se me désseis, ainda cem ou mil anos de vida neste mundo, todos quereria empregá-los unicamente em Vos amar e Vos agradar. Eu Vos amo, ó meu sumo bem, e espero amar-Vos eternamente. Não quero ser-Vos mais ingrata. Não quero mais resistir ao Vosso amor, que me convida desde muito tempo a me entregar toda a Vós. Ai! que mais quero esperar? Esperarei que me abandoneis, ou que não me convideis mais?
Ó Maria, minha Mãe, socorrei-me, orai por mim e obtende-me a graça de perseverar na minha resolução, e de ser fiel a Deus.
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3. Silentium, et a strepitu quies, cogit caelestia meditari. Ep. 78.
4. Non in commotione Dominus. III. Reg 19, 11.
5. Erit... cultus justitiae silentium. Is. 32, 17.
6. In silentio et in spe erit fortitudo vestra. Is. 30, 15.
7. Cave a multiloquio; hoc emin sanctas cogitationes extinguit. Doctr. 24.
8. Ducam eam in solitudinem, et loquar ad cor ejus. Os. 2, 14.
9. In multiloquio, non deerit peccatum. Prov. 10, 19.
10. Dico autem vobis, quoniam omne verbum otiosum, quod locuti, fuerint homines, reddent rationem de eo in die judicii. Matth. 12, 36.
11. Universitas iniquitatis. Jac. 3, 6.
12. Vir linguosus non dirigetur in terra. Ps. 39, 12.
13. Silent igitur paludes; homines non silebunt. De Virg. l. 3.
14. Omni tempore silentio debent studere monachi. Reg. c. 42.
15. Qui custodit os suum, custodit animam suam. Prov. 13, 3.
16. Si quis in verbo non offendit, hic perfectus est vir. Jac. 3, 2.
17. Tempus tacendi et tempus loquendi. Eccli. 3, 7.
18. Per silentium disci, quod postea proferatur.
19. Tunc solum loquendum est, quando plus proficit quam silentium. IN Ps. 140.
20. Aut tace, aut dic meliora silentio.
21. Exercicio de perf. p. 2 tr. 2. c. 8.
22. Me saepe poenituit dixisse, nunquam tacuisse. Surius 19 Jul.
23. Cum Deo, multis, cum hominibus paucis loquere. Encom. in Ps.
24. Vid. c. 7.
25. Vid. c. 10, § 11.
26. Verbis tuis facito stateram. Eccli. 28, 29.
27. Bis ad limam veniant verba, quam semel ad linguam. Punct. perf. 7.
28. Spec. disc. p. 1, c. 31.
29. Loquamur Dominum Jesum, ipsum semper loquamur. In Ps. 36.
30. Particula boni doni non te praetereat. Eccli. 14, 14.
PS: Grifos meus.
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3. Silentium, et a strepitu quies, cogit caelestia meditari. Ep. 78.
4. Non in commotione Dominus. III. Reg 19, 11.
5. Erit... cultus justitiae silentium. Is. 32, 17.
6. In silentio et in spe erit fortitudo vestra. Is. 30, 15.
7. Cave a multiloquio; hoc emin sanctas cogitationes extinguit. Doctr. 24.
8. Ducam eam in solitudinem, et loquar ad cor ejus. Os. 2, 14.
9. In multiloquio, non deerit peccatum. Prov. 10, 19.
10. Dico autem vobis, quoniam omne verbum otiosum, quod locuti, fuerint homines, reddent rationem de eo in die judicii. Matth. 12, 36.
11. Universitas iniquitatis. Jac. 3, 6.
12. Vir linguosus non dirigetur in terra. Ps. 39, 12.
13. Silent igitur paludes; homines non silebunt. De Virg. l. 3.
14. Omni tempore silentio debent studere monachi. Reg. c. 42.
15. Qui custodit os suum, custodit animam suam. Prov. 13, 3.
16. Si quis in verbo non offendit, hic perfectus est vir. Jac. 3, 2.
17. Tempus tacendi et tempus loquendi. Eccli. 3, 7.
18. Per silentium disci, quod postea proferatur.
19. Tunc solum loquendum est, quando plus proficit quam silentium. IN Ps. 140.
20. Aut tace, aut dic meliora silentio.
21. Exercicio de perf. p. 2 tr. 2. c. 8.
22. Me saepe poenituit dixisse, nunquam tacuisse. Surius 19 Jul.
23. Cum Deo, multis, cum hominibus paucis loquere. Encom. in Ps.
24. Vid. c. 7.
25. Vid. c. 10, § 11.
26. Verbis tuis facito stateram. Eccli. 28, 29.
27. Bis ad limam veniant verba, quam semel ad linguam. Punct. perf. 7.
28. Spec. disc. p. 1, c. 31.
29. Loquamur Dominum Jesum, ipsum semper loquamur. In Ps. 36.
30. Particula boni doni non te praetereat. Eccli. 14, 14.
PS: Grifos meus.