III Parte
Sim; a esposa e mãe, é o sol da família. Sol com sua generosidade e dedicação, com sua constante prontidão, com sua delicadeza vigilante e previdente em tudo o que serve para tornar alegre a vida ao marido e aos filhos.
Em torno dela difunde-se luz e calor; e costuma-se dizer então que um matrimônio é bem-aventurado, quando cada um dos cônjuges, ao contraí-lo, mira fazer a felicidade não própria, mas da outra parte; este nobre sentimento e esta intenção, embora dizendo respeito a ambos, é porém antes de tudo virtude da mulher, que nasce com as palpitações de mãe e com o seio de coração; aquele seio que, se recebe amargura, não quer dar senão alegria; se recebe humilhações, não quer dar senão dignidade e respeito; à semelhança do sol que alegra a manhã nebulosa, com seus albores e doura os ninhos com raios de seu ocaso.
A esposa é o sol da família pela clareza de seu olhar e pela chama de sua palavra; olhar e palavra que penetram docentemente na alma, dobram-na e a enternecem e a solevam fora do tumulto das paixões, e reclamam para o homem a alegria do bem e da conversação familiar, depois de um longo dia de contínuos, por vezes penosos trabalhos profissionais ou campestres, ou de imperiosos afazeres do comércio ou da indústria.
Seu olhar, seus lábios lançam lume e têm um acento de mil fulgurações em um luzir, mil afetos em um som. São lampejos e sons que saem do coração da mãe, criam e vivificam o paraíso da infância, e sempre irradiam bondade e suavidade, ainda quando avisam e reprovam, porque os ânimos juvenis, que mais forte sentem, mais intimamente e profundamente acolhem os ditames do coração.
A esposa é o sol da família com sua cândida naturalidade, com sua digna simplicidade e com seu decoro honesto e cristão, tanto no recolhimento e na retidão do espírito, como na sutil harmonia de seu comportamento ou de seu vestido, de seu ajustamento e atitude, ao mesmo tempo reservados e afetuosos.
Sentimentos leves, delicados acenos do rosto, ingênuos silêncios e sorrisos, um condescendente movimento de cabeça, dão-lhe a graça de uma flor eleita e simples, que abre suas corolas para receber e refletir as cores do sol.
Oh! se vós soubésseis que profundos sentimentos de afeição e reconhecimento tal imagem de esposa e de mãe suscita e imprime no coração do pai e dos filhos!
Ó anjo, que guardais a casa e escutais suas preces, espargi de perfumes celestes este lar de felicidade cristã!
Mas se suceder que a família permaneça sem este sol, como será? Se a esposa continuamente e a cada circunstância..., não titubeia em fazer sentir quantos sacrifícios lhe custa a vida conjugal? Onde está sua amorosa doçura, quando com uma excessiva dureza na educação, com uma não excitabilidade e uma irritante frieza no olhar e na palavra sufoca nos filhos o sentimento e a esperança de encontrar alegria e feliz paz junto da mãe?
Quando ela não faz senão perturbar triste e amargamente, com voz áspera, com lamentos e reprovações, a confiante convivência no círculo familiar? Onde está a generosa delicadeza e o terno amor, quando ela, em troca de criar com natureza e medida simplicidade uma atmosfera de agradável tranqüilidade na casa, toma ares de irrequieta, nervosa e exigente senhora da moda?
É talvez isto difundir benévolos e vivificantes raios solares, ou é antes um esfriar, com vento glacial o jardim da família? Quem não se maravilhará então se o homem, não encontrando naquele lar o que o atraia, retenha e conforte, afaste-se o mais que puder, provocando semelhante afastamento da mulher, da mãe, quando o afastamento da mulher já não tenha preparado o afastamento do marido; um e outra indo-se assim à procura, fora - com grave perigo espiritual e com dano para a união familiar - do sossego, do repouso, do bem-estar, que lhes não concede a casa?
Em tal estado de coisas os mais desventurados a sofrer são fora de qualquer dúvida os filhos!
(Discurso aos esposos - 25 de fevereiro, 1944 - Pio XII - retirado do livro: Pio XII e os problemas do mundo moderno- continua...)
PS: Grifos meus