quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Modelo de mãe cristã - Santa Rita de Cássia


Maternidade de Santa Rita

As mais belas qualidades naturais, flores de um dia que podem aformosear uma mulher, não produzirão no homem mais do que uma impressão passageira: dominar seu coração, até assenhorear-se dele, é privilegio da esposa dotada de sólidas virtudes. Já vimos quão difícil era abrandar Fernando e mais ainda conquistar seu afeto; mas afinal, a esposa virtuosa, depois de vários anos de constante paciência, conseguiu que se fossem acalmando as ondas daquele coração tempestuoso e que reinasse a paz no lar doméstico, serenando-se por completo o seu caráter turbulento. (verificar: Modelo de esposa cristã)

A consolidar esta mudança de caráter e costumes do esposo de Rita veio o nascimento sucessivo de dois filhos, com que o Senhor favoreceu aquele casal, no qual agora reinava a paz; dando-se o caso de Fernando, fugir de casa, sempre que sentia renascer seu mau gênio, e, para não ofender a esposa, somente aí regressava depois de ter recuperado a tranqüilidade de espirito.

Não sabia Rita como agradecer ao Senhor a conversão do esposo e o fruto de benção concedido naqueles seus dois filhinhos. Dava graças a Deus por aqueles benefícios; sendo seu primeiro cuidado oferecê-los ao Senhor e fazer com que fossem logo regenerados pelo batismo. Velava constantemente a jovem mãe sobre o berço, e com os olhos marejados da lagrimas do mais profundo agradecimento rogava ao Pai das misericórdias continuasse favorecendo-a com seus dons, laminando-a na direção daqueles seres queridos de seu coração. Quantos cuidados, temores e ansiedades sofreu aquela boa mãe, pensando no futuro de seus filhos !

Com essa intuição que o Senhor tem dado à mulher, chegou Rita a descobrir nas impaciências, raivas e cumes de seus filhos, que o caráter deles havia de assemelhar-se ao do pai. Isto lhe inspirava sérias inquietações, que, por fim, chegaram a oprimir de angústia seu coração. Vendo que de dia para dia,  conforme iam crescendo, se revelava neles o temperamento irascível de Fernando.

Para corrigir, quanto possível, o caráter que começava a revelar-se por estas prematuras manifestações nas duas crianças, Rita, na oração, encomendava a Deus a sorte futura dos filhinhos com palavras repassadas de piedade cristã. Incutia em seus tenros corações o amor a Jesus e a Maria, o respeito e veneração devidos ao santo nome de Deus, a tantas outras coisas que somente é capaz de sentir e expressar o coração de mãe inflamado no amor divino.

Cumpria, pois, Rita com perfeição os deveres duma santa mãe no cuidado e vigilância para com os filhos. Entre afagos e beijos procurava incutir-lhes o amor de Deus e a prática da virtude, para que esta facilitasse à natureza o caminho do bem e a aversão do mal. Servia-se de santas indústrias para mover o coração dos filhos à prática do bem, sendo ela a primeira a lhes dar o exemplo.

Sempre carinhosa, falava-lhes com meiguice, corrigia-os e castigava com brandura para os manter na obediência e santo temor de Deus, que é o fundamento solido para a fiel observância da lei divina. Exortava-os com o exemplo; de modo que, quando chegaram a compreender as coisas, vendo os filhos o exemplo de uma mãe tão devotada à oração, tão mortificada e tão moderada nas palavras; tão caritativa como os pobres e compassiva com os necessitados; tão entretida freqüentemente em santos e devotos exercícios, procuravam não desgostá-la e imitá-la no que lhes era possível.

Assim ia cumprindo Rita os deveres da maternidade, e deste modo também devem procurar cumpri-los todas as mães.

Mas Rita não olhava só o presente fites os olhos no futuro dos filhos e também no do esposo, com que fé, e com que amor, manifestava ante Jesus crucificado suas mágoas e seus receios. Com o coração atribulado pela incerteza, quantas vezes diria, qual outra Ester ante o Rei Assuero :



"Senhor, se achei graça em vossa presença, concedei-me a vida de meu esposo e a de meus filhos por quem vos peço. Vós, que vedes meu coração e não desprezais o amor ardente de mãe, salvai-me e os salvai dos perigos que por toda parte nos cercam. Só a idéia de que se possam perder suas almas, tortura meu coração e submerge-o num mar de amargura. Vós, Senhor, sabeis quanto vos amo. Afastai de mim o amargo cálix de perdei-os para vós, e embora seja grande o desejo de conservá-los, pois por eles daria minha vida, mortos ou vivos quero que sejam sempre vossos, porque assim o serão também meus na mansão feliz, onde possamos todos gozar sempre de Vós, soberano bem e Senhor de minha alma."

...A mudança esperada não chegava: temendo perder os filhos para sempre, pelo caráter briguento e belicoso deles, com o coração penetrado da mais dilacerante dor e os olhos marejados de lágrimas, de joelhos diante de Jesus crucificado e com a abnegação mais sublime que se pôde imaginar na mãe, suplica-lhe que, ou mude a condição de seus filhos, fazendo-lhes esquecer os sentimentos de vingança, ou os leve deste mundo, antes de permitir que o ofendam.

Nesta oração Rita chegou ao cume do heroísmo, pois sendo mãe tão amorosa, o temor de perdê-los para sempre se sobrepôs a qualquer outro sentimento humano.

Tal sacrifício, desconhecido para a maioria das mães cristãs, só tem precedentes naquelas heroinas do Cristianismo que entregavam seus filhos ao martírio, para, em troco de breves sofrimentos e momentânea separação, melhor assegurar-lhes a vida do céu e gozar depois com eles da glória eterna.

 
Oh proeza do amor materno e da caridade de Deus! Só o Cristianismo pôde contar tão estupendos milagres da graça.

O Senhor misericordioso escutou as preces de Rita, e em menos de um ano morreram-lhe os dois filhos, antes que a malícia pervertesse seu entendimento, e os desejos de vingança se arraigassem no seu coração. Apesar de ter sido a súplica de Rita feita com uma abnegação sublimelugar inspirada pelo grande amor ao soberano Senhor de todo o criado, não pôde subtrair-se à dor dilacerante que em todas as mães produz a separação pela morte dos filhos, embora breve e com a esperança de juntar-se com eles depois de algum tempo.

Coração delicado e amante como o de Rita não podia deixar de sentir toda a mágoa produzida pela perda dos dois filhos, mas ao mesmo tempo considerava como um grande favor do céu ter livrado os filhos da morte da alma.

Por outro lado, a esperança de vê-los um dia na glória e gozar de suas companhias, consolava-a e dava-lhe forças para resistir a tão grande aflição rogando ao Senhor que aceitasse aquele sacrifício, que tanta admiração e assombro havia de causar às gerações futuras, e que fora unicamente feito por seu amor.

(P. José R. Cabezas da Ordem de S. Agostinho- Vida de Santa Rita de Cássia)
PS: Grifos meus