(As quatro primeiras partes são direcionadas aos deveres da mulher e as duas últimas aos deveres do esposo)
I Parte
A mulher foi dada por Deus a missão sagrada e dolorosa, mas também fonte de puríssima alegria, da maternidade, e à mãe é, sobretudo, confiada a educação primária da criança, nos primeiros meses e anos.
É certo e indubitável que para a felicidade de um lar, a mulher pode mais do que o homem. Ao marido cabe a primeira parte no assegurar a subsistência, o futuro das pessoas e da casa, parte principal lhe cabe nas determinações em que empenha o futuro , seu e dos filhos. À mulher cabem aquelas diligências numerosas, particularizadas, aquelas imponderáveis atenções e cuidados cotidianos, que são os elementos da atmosfera interna de uma família, e, conforme agem retamente, ou ao contrário, alteram-se, ou mesmo faltam totalmente, tornam segundo o caso: sã, confortável, ou apressiva, viciada, irrespirável a convivência familiar.
Entre as paredes domésticas a ação da esposa deve ser obra da "mulher forte" tão exaltada pela Divina Escritura; a mulher que tem a si confiado o coração do esposo, e que lhe fará bem e não mal, por todos os dias de sua existência.
Não é talvez uma verdade antiga e sempre nova - verdade radicada até na própria condição física da vida da mulher, verdade inexorável proclamada não somente pela experiência dos séculos mais remotos, mas ainda pela experiência recente de nossa época de indústrias devoradoras, de reivindicações de igualdade, de lutas "esportivas" - que a mulher faz o lar, e dele cuida; e o homem não poderá jamais nisto substituí-la?
É a missão que a natureza e a união com o homem lhe impuseram para o bem da própria sociedade. Arrastai-a, atirai-a fora e longe de sua família com a fascinação de uma das muitas causas que se rivalizam para vencê-la e cativá-la; vereis a mulher esquecer o seu lar; sem este fogo, o ar da casa se resfria; o lar cessará praticamente de existir, mudar-se-á em um precário refúgio de algumas horas; o centro da vida cotidiana do marido, dela mesma, e dos filhos trasmigrará para outro lugar.
Ora, queiramos ou não, para quem, homem ou mulher, é casado e ao mesmo tempo deseja permanecer fiel aos deveres de tal condição, o belo edifício da felicidade não se pode levantar senão sobre o estável fundamento da vida da família. Mas onde econtrareis a verdadeira vida da família, sem um lar, sem um centro visível, real de reunião, que congregue, reconha, radique, mantenha, aprofunde, desenvolva e faça florescer esta vida?
Não digais que materialmente o lar existe desde o dia em que duas mãos de apertaram e trocaram as alianças, e os dois novos esposos têm quarto comum, sob o mesmo teto, em seu apartamento, em sua casa, ampla ou apertada, rica ou pobre.
Não!
Não basta o lar material para o edifício espiritual da felicidade. É preciso elevar a matéria em aura mais espiritual, e do fogo terreno fazer surgir a flama viva e vivificadora da nova família...
Quem criará então, a pouco e pouco, de dia a dia, o verdadeiro lar espiritual, senão a obra daquela, que recebeu toda a confiança do coração de seu esposo?
(Discurso às mulheres da Ação Católica, 26 de outubro, 1941 - Retirado do livro: Pio XII e os problemas do mundo moderno - continua...)
PS: Grifos meus